(Tentando salvar o universo, matando metade dele)
Aqui estou eu analisando
o filme que marca o fim (ou um novo começo) do monstro que é o universo
cinematográfico Marvel. Não importando o quanto eu queria analisar o filme como
Stand Alone (quite complex), não acho que tal análise seria muito útil, pois
essa franquia se consiste de um monstro de referências, continuidades, tie ins,
formando um universo que muitas vezes é melhor analisado em conjunto. Por isso
esse ensaio apresentara alguns dos meus mais gerais problemas com as obras da
Marvel, assim como os personagens e aspectos de conclusão desse filme, levando
em conta e dialogando com seu contexto maior, ou seja, no geral minha visão
sobre os elementos mais importantes, que para mim tornam ultimato, algo melhor
que a maioria de seus antecessores.
Começando com a falha
federal dessa série (de forma estupidamente resumida, não tenho tempo de
dissecar em detalhes minhas ideias e argumentos sobre cada filme que vou
falar), que se consiste exatamente de como as obras vinham brincando com nossas
expectativas, apresentando narrativas mais com promessas e alusões a consequências
e mudanças, enquanto nada de significativo acontece na maioria das vezes. É possível
ficar impressionado com alguns dos filmes individualmente, achar eventos
narrativos interessantes, e que eles tocam em fenômenos importantes na
sociedade atual, no entanto em sua maior parte, tais estão simplesmente
levantando ideias, sem desenvolvê-las ou apresentar muito em termos de
conclusão. Fazendo assim por meio de grandiosos eventos, reviravoltas épicas,
cujos efeitos e circunstâncias mais relevantes, relacionadas aos personagens,
serão supostamente importantes, e estudadas a fundo nos próximos capítulos.
(O winter is coming do MCU, tão decepcionante quanto)
Vistos em separado,
os filmes Capitão América 2 e 3, perfazem o microcosmo exemplar dessa tendência.
O inicio de o Soldado Invernal é promissor, temos o personagem sendo
introduzido as politicas e ambiguidade moral do século XXI, questões como
privacidade, o dever de garantir a segurança do cidadão, e ate onde o governo
pode ir em busca desse objetivo são demarcados como o tópico e dilema, desde o
começo. Somadas a uma possível crítica ao americanismo, que o herói
inicialmente representou em sua introdução. O grande twist é exatamente que
agora a Shield, essa organização secreta, supersigilosa e poderosa, que estaria
movendo os eventos, e que propriamente iniciou a iniciativa Vingadores, agora
são os antagonistas, e precisam ser detidos.
A premissa, e o que o
filme realmente apresenta, no entanto, são coisas completamente diferentes.
Ideias são exploradas por diálogos superficiais, que traduzem o proposito e
mensagem, ainda que estes não encontrem peso em eventos e narrativa. Acontece
que a Shield (e sempre bom enfatizar, não é nem uma organização
norte-americana) é um culto nazista tentando praticar genocídio contra qualquer
individuo que possa ser uma ameaça, e que procura submeter à humanidade e
governos nacionais pela força, a seu controle. Então lá se vai muita da nuance
inicial, e da possível questão moral que esse filme reafirma ser sobre. Existe também
uma enorme intriga sobre uma possível quebra de arquivos da Shield, os grandes
segredos do grupo foram espalhados para o mundo, e como ela vai reagir ao fato
do Capitão América ter frustrado seus planos, e destruído algumas de suas células
organizacionais. Spoilers, nada substancial provem disso, os últimos
remanescentes da organização são derrotados em 10 minutos em era de Ultron, e
nunca mais ouvimos nem falar sobre que mistérios e que arquivos seriam esses.
O mesmo padrão pode
ser observado em guerra civil. Novamente temos uma circunstancia gigantesca,
uma premissa interessante acompanhada de uma promessa de grandes reviravoltas.
Dessa vez uma divisão ideologia causa um conflito irreconciliável entre os
Vingadores, que acabam lutando quase até a morte pelo que acreditam correto.
Capitão América e Iron Man, uma vez grandes amigos, agora se engolfam em
combate mortal, e a maioria dos heróis viram fugitivos da justiça. De novo
temos um final fazendo grandes promessas, assista ao próximo filme em que
abordaremos, e estudaremos a fundo as consequências desse evento, como afetam e
são importantes para os personagens. Surpreendendo ninguém nada provém disso, é
difícil encontrar a relevância desses eventos a partir do momento que Thanos
aparece na tela em Guerra Infinita (por favor, não apontem coisas importantíssimas
como Tony ter hesitado para fazer uma ligação, ou uma batalha ser em Wakanda
como sinais de eu estar errado).
Resumindo meu
problema, apesar dos filmes serem bem claros em seus tópicos e ideias que decidem
explorar, em sua maioria eles fazem isso por meio de diálogos superficiais, não
permitindo que tais tenham sejam refletidas em eventos, ações ou arcos de
personagem. Capitão América, o principal dos dois filmes, não tem propriamente
um arco aqui, as ideias sendo tratadas não tem paralelo em verdades apreendidas
por ele uma mudança dramatizada e profunda em sua perspectiva visão de mundo,
que suporte o tema em foco. O problema consiste, de exatamente como fica
difícil propriamente afirmar, que os filmes são sobre o que alguns de seus
elementos parecem indicar. De um lado temos jornadas de personagens estáticas
(não comece a falar sobre a tragédia de caracterização que é o próprio soldado
invernal, e como ele é a pessoa com menos personalidade nesse universo, mesmo
sendo o foco de 2 filmes), sem grandes consequências, modificações morais, de
outro, diálogos, e certo subtexto sobre eventos e ideias importantes no mundo
real, que não se complementam bem. A solução para tudo isso?
Esperar o próximo capitulo,
que vai explorar intricadamente como a ruptura de Guerra Civil afetou
personagens e o universo, ou o filme que daria ênfase para a Sheild, e as
circunstâncias de seu desfazimento. Essa manutenção de uma eterna espera, uma
crença de que eventos seriam respondidos, teriam consequências dramáticas e
importariam futuramente é até compreensível, observando a natureza do storytelling
em algo como o MCU. Isso é, até a chegada de infinity war e ultimato, os quais
com certeza não são o momento disso, de simplesmente dizer, isso vai importar
no futuro, mas o grande evento e conclusão que a Marvel vinha prometendo há
anos.
Quanto a Infinity War
só vou pontoar algumas notas breves, não muito relacionadas aos pontos maiores
(adoro reclamar desse filme). No geral eu realmente não gosto dele, a ideia de
acompanhar 70 heróis em meio a uma narrativa em escalas e nível de conflito altíssimas,
apesar de inovadora, é o tipo de ideia absurda que em minha opinião nunca
formaria uma boa obra. Tal formula não permite exploração e mínima amplitude de
tempo para estabelecer pontos de vista, e heróis foco. Na verdade, 90% deles
estão no filme para fazer cameos, ou participar das cenas de ação (e Meu Deus
essas parecem durar uma eternidade). Os temas de sacrifício, mais
especificamente como tais são importantes, e servem como forma de se avançar
seguir em frente, realizar seus objetivos, são bem prevalentes. A superioridade
do vilão estaria baseada nele ser capaz de tomar as decisões difíceis, ter a obstinação
para não parar em face de qualquer obstáculo. A exploração de tal ideia é
estranhamente executada e contraditória durante sua duração. Explicando melhor
esse ponto, temos diversas cenas de outros personagens além de nosso
antagonista, nas quais eles supostamente tomam a escolha impossível, decidem
sacrificar, abrir mão da coisa mais importante para eles em prol de um bem
maior (Quill, e Scarlet Witch), mas ao invés de serem recompensados,
minimamente avançarem, ou meramente conseguirem qualquer coisa, seus esforços
são em vão. De certa forma as perdas nesse filme só importam, ou progridem algo,
quando Thanos é a pessoa realizando esses atos. Talvez essa seja uma visão
errada sobre os eventos, o filme está realmente usando tais contradições de
forma intencional, buscando demonstrar que perdas, nem sempre são a solução ou
resposta. O que apesar de significativo, encontra pouco eco no filme como tema,
nem exploração suficiente para se contrapor a tese principal sobre este tópico.
Thanos o tão esperado
vilão, é francamente desapontador. Claro ele aparece como mais ameaçador que a
maioria de seus antecessores (mais por esse filme ter uma enorme pletora de
personagens, ou seja, diversos folders, para ele derrotar ou matar), e ele têm
um objetivo logicamente compreensível para agir assim (o mais infantil e
absurdo possível, mas já é algo). Ainda assim dramaticamente não acho que sua
motivação funciona, pois não provem de uma psique desenvolvida, o que ele
sentiu quanto aos eventos em sua backstory, como os encarou, uma progressão
dramática de personagem, que daria a fundação, e nos faria entender porque ele
pensa assim. Nada disso é efetivamente mostrado. A mesma falha ocorre na tentativa de
humanizá-lo com seu relacionamento com Gomorra, nela não existe qualquer peso
na relação, não entendemos porque Thanos liga para ela, para nos importarmos
com as cenas e circunstancias que dependem dos dois. Assim a cena entre eles é
triste porque os escritores dizem que deve ser assim, presumimos a empatia por
eles serem pai e filha, e por que o personagem diz como ela é a coisa mais
importante. Não organicamente, a partir de eventos, memórias, ou qualquer ato,
ou momento efetivamente compartilhado.
(O melhor vilão da historia do cinema)
Em relação ao crime
capital que detalhei anteriormente, este novamente se encontra presente. Por
simplesmente terminar o filme com o grande evento, a morte de metade do
universo em sua ultima cena, e ao mesmo tempo fazendo promessas sobre como isso
vai ser importante, e suas consequências apenas serão apresentadas e estudadas na
obra seguinte. Logo o final se consiste exatamente daquilo que o MCU tem feito
há 10 anos, e acho desnecessário dizer, apesar do impacto maior dessa vez pela
natureza do fato sendo mostrado, em minha opinião, isso foi uma decepção.
Então sem mais delongas,
posso finalmente começar a falar sobre Endgame. Logo no começo, o sinal que
estamos entrando numa experiência completamente diferente é claro, com sua
retomada das ideias de sacrifício e perdas. Agora vivemos num mundo, onde tais
conceitos viraram generalizados. Todas as pessoas de certa forma sofreram,
vieram a perder parentes, amigos, amantes, as pessoas as quais se importavam e
amavam, a destruição numa escala humana, psicológica, e emocional, é incomparável
a qualquer outro evento na historia da humanidade. Os 5 anos entre a historia
de infinity war, e o efetivo começo desse filme, são provavelmente os piores na
vida da maioria dos envolvidos.
No entanto, mesmo
nesse mundo pôs apocalíptico, existe uma pluralidade de visões, formas de
reagir e encarar a realidade. Capitão América age como se esperaria dele nesses
momentos difíceis, se esforçando para inspirar, ajudar os outros, tentando de
qualquer forma fazer com que as pessoas olhem o lado bom da situação, criem
novas experiências, e superem o que ocorreu.
O próprio personagem
faz um paralelo bem esclarecedor entre a situação atual, e sua experiência de
vida, ao se ver preso no gelo por décadas. Em decorrência disso, ele já encarou
a perda do amor da sua vida, seu melhor amigo, e de todas as pessoas que
conhecia e amava, somados com os desafios de se adaptar a uma época
completamente diferente. E a capacidade dele de mesmo nessas circunstâncias,
observar o que as pessoas desse futuro precisavam do símbolo que ele
representa, sempre foi sua característica mais marcante. Ele, sem normalmente
pedir nada em troca, é capaz de deixar de lado sua vida anterior, de forma a
conseguir ajudar qualquer um que precise, ou seja, a demonstração definitiva do
MCU, de heroísmo por altruísmo.
O que é algo lindo,
como fonte de inspiração e ideal, só que tudo isso está baseado numa mentira, a
qual o personagem se recusa a abandonar. A de que realmente existe uma
obrigação em agir assim, colocar o mérito da vida apenas em como se pode
beneficiar a sociedade, e observando o interesse dos outros acima do próprio. É
bem claro e retratado o aspecto destrutivo nesse pensamento, na forma como ele
quase sempre ignora e não age conforme vontades próprias. Apesar de Steve
Rogers ser um homem consumido em lamentações, quanto ao fracasso em parar
Thanos, e saudades, arrependimentos, quanto à vida que imagina ter perdido, seu
amor insubstituível por Peggy Carter, em nenhum momento o herói toma ação
buscando mudar qualquer coisa. O amuleto sendo o sinalizador da incapacidade
dele em esquecer e deixar o passado, apesar de constantemente aconselhar outros
a isso.
(Na verdade o que esse filme mais me fez perceber, foi quão bons eram os filmes da fase 1)
Mudando para Hawkeye,
encontramos uma perspectiva completamente diferente. Se eu fosse descrevê-lo
resumidamente, diria que sua caracterização é a do homem comum no meio de seres
astronômicos, possuindo um bom senso, equilibrando muitas das ideias mais
absurdas deles, dando uma perspectiva mais simples, e mundana. Ele também era
um homem gentil, com altos princípios morais, com uma forte conexão e obrigação
para com sua família. Só que agora, o herói existe num mundo, aonde essa família
e grupo de pessoas que ele amava incondicionalmente, se foram. O senso de perda
com essas mortes o quebrou por dentro, o levando a um caminho sombrio, que
mostra uma mudança completa de visão e realidade.
Nesse ponto existem
certos porens, pela falta de foco ou espaço para realmente desenvolver essa
nova ideia, no entanto os aspectos principais estão bem delimitados, e são compreensíveis.
A figura do vigilante criminoso é efetivamente evocada, ele se torna um
assassino, aplicando, e fazendo a lei com as próprias mãos, e se julga capaz de
ter poder de vida ou morte, quanto a cada um que julga fazer errado. Pequenos momentos
como a declaração de Eu sou o Thanos para os que restaram na Terra, esclarecem
muito. Assim como Thanos é a pessoa que executou metade do universo por seu
conceito de correto, Hawkeye se vê na mesma posição. Também, da mesma forma ele
quer universalizar a ideia da morte, forçar cada um a experimentar a mesma dor,
o desespero, e o vazio ao perder tudo realmente importa, experiências já vivenciadas.
Tudo isso aponta para
um claro objetivo em mente, que ao final dessa existência de fúteis assassinatos
e violência gratuita, ele encontre a pessoa, que vai acabar com sua vida da mesma
forma (de certo modo não muito diferente do que ocorreu com Thanos). Finalmente
resumindo a sua espiral autodestrutiva, sua incapacidade de lidar com a perda,
e reação violenta ao mundo e seus habitantes, exatamente com a morte que ele
julga merecer, pelas escolhas que tomou.
(Nao esperava esse nível de carga emocional para os dois nesse ponto)
Nesse cenário
encontramos novamente o todo poderoso Thor. O uma vez orgulhoso herdeiro de um
reino, que sempre gostava de enfatizar como era o mais forte vingador, agora
reduzido a uma sombra de seu esplendor, um hikkikomori, obeso tomador de
cerveja (relatable). E o estranho é que o completo 180 em termos de
personagens, não é nada inesperado, se observarmos os eventos. No curto período
entre Thor Ragnarok, e guerra infinita, o cara perdeu a enorme maioria do seu
povo, o pai, irmão (or did he?), o lar, e seu reino. Pior ainda, o peso da morte
de metade do universo está diretamente sobre as suas mãos, pois era exatamente
a pessoa que podia ter feito algo para evita-lo, se apenas tivesse agido no
momento certo. Já no próprio Guerra Infinita, somos introduzidos a um Thor com
claros elementos de PTSD, em uma das melhores cenas do filme, com voz
desgastada e quase sem emoção, ele relata como acabou de perder quase tudo que
importava, só restando à morte do Thanos como objetivo de vida.
Não coincidentemente,
o filme inicia com o personagem simplesmente pegando esses sentimentos de
impotência, frustração, raiva quanto a si mesmo e o que aconteceu, e
descontando estes em nosso agora indefeso antagonista, o matando. Os resultados
de tal morte são pífios, não há um sentido de satisfação, catarse para o herói,
nada é alcançado através disso, e nenhum de seus sentimentos desaparecem,
apesar de sua menção como mecanismo de defesa, toda vez que Thor se vê
ameaçado.
Os problemas e
situações que Thor precisa superar no filme, consistem de um medo e ansiedade
exacerbados. Houve tantos fracassos durante a vida, tantas coisas que ele
tentou proteger, vidas e objetivos que ele tomou para si, expectativa dos
outros que não foram cumpridas. Ele simplesmente perdeu tanto durante o
caminho, tendo falhado, com sua família, seu reino, e o povo da Terra que
admira e tentou proteger. Foram vários sacrifícios realizados nessa jornada, coisas
que ele se dispôs a perder, esforços quase sobre-humanos realizados, e os
resultados que se viu alcançando foram desprezíveis. A conclusão alcançada foi
óbvia, o problema sou eu, minha existência e pessoa consistem de fracassos em
todos os momentos, quanto a todas as coisas que eu me dispus a fazer, e o que
esperavam de mim. Não há qualquer razão em tentar, buscar algo novo, se
esforçar, pois na realidade a questão se resume a uma incapacidade pessoal
minha de alcançar qualquer coisa. A única coisa que posso fazer é me isolar do
mundo, tentando causar o menor dano possível, e tentar aliviar a dor, escapando
da realidade.
(eu amo demais o novo Thor)
Se eu pudesse
descrever o arco de Thor, sua característica mais marcante sempre foi o aspecto
de autoconhecimento. Em seus diversos filmes, há uma tentativa de estudar o que
é o núcleo do personagem, se são seus poderes, seu reino, sua linhagem, seu
martelo que o tornam, quem ele é. Endgame marca um abismo nesse caminho, aonde
o que o definiria é o fracasso, as grandes decepções. Um questionamento
sobre o próprio propósito de tentar viver as razoes para buscar algo, ou se a
realidade seria na verdade um ciclo inevitável de dor, perda, desilusão e
insucessos.
Black Widow também
tem uma ideia única sobre a situação, em sua recusa emocional por estar
completamente absorvida em seu trabalho, colocando como sua responsabilidade
tomar conta do mundo e de seus problemas, ela evita pensar no que aconteceu, ou
na circunstancia maior. Tudo isso através da criação de problemas aonde eles não
existem (um terremoto no meio de oceano) e desperdiçando tempo e energia
nestes. Mas acho que é possível compreender o ponto, cada um dos vingadores
traz uma nova perspectiva para a situação, lidando com perdas e a realidade,
permitindo a troca e justaposição de ideias sobre um mesmo evento. Por inserir
o tema diretamente nas vidas dos personagens, a união entre temática e
caracterização é excelente, diversos momentos servindo mais de uma função
específica.
Mas o filme não para
aí em sua inteligente exploração de suas ideias, mas em minha opinião a própria
natureza e reação desses personagens é a resposta do filme a moralidade e tese
apresentada por nosso antagonista. Thanos via sacrifício como algo positivo,
uma fonte de força e caráter, que possibilitaria às pessoas a avançar e criar
um futuro. Mostrando em suas ações uma crença inevitável, de que as pessoas
simplesmente iriam superar o que ocorreu, seus atos seriam para um bem maior,
possibilitando às pessoas e ao universo inteiro acharem um equilíbrio, que
consequentemente levaria a novas vidas e possibilidades incontáveis. E
efetivamente alguns enxergaram essas chances, cresceram a partir do evento,
Stark finalmente supera suas inseguranças pessoais e forma uma família,
Hulk/Banner crescem como pessoas, ao descobrirem as limitações de sua divisão,
e que podem trabalhar melhor juntos.
Mas nem todas
conseguem, podem ou deveriam ter que agir dessa forma. Thor e Hawkeye, por
exemplo, acabaram no pior lado da situação, com perdas e sacrifícios que os
impediram de minimamente funcionar. E aqui está a ironia na própria noção de
justiça do Thanos, em sua busca de uma perfeita imparcialidade, querer decidir
arbitrariamente sem razão ou preconceitos pessoais, quase o 50/50% do jogar de
uma moeda, quem vive e quem morre. Exatamente nesse ideal está o problema. Pois
ao agir imparcialmente, universalizando a dor, sofrimento e sacrifício que cada
um vai receber, ele ignora, as características e situações individuais de cada
um. Ou seja, que Thor simplesmente tinha acabado de perder a maioria das coisas
importantes para ele, tendo que novamente passar por um extermínio de seu povo,
ou que para Hawkeye, a vida das pessoas que ele escolheu matar era tudo,
deixando sua sobrevivência completamente sem significado. O que em troca os
tornaria completamente incapazes, de sequer pensar em seguir com a vida, muito
menos crescer em decorrência do evento.
Claramente não há
nada de justo nos atos do thanos, que consistem em não levar em conta a
individualidade, e em troca oferecendo um ideal vazio de igualdade, ou
justificando isso com um bem maior e equilíbrio arbitrário, que apenas ele
seria capaz de definir. O problema não está na importância que ele coloca em
sacrifícios, superar o passado para criar um futuro, e que pessoas tem que estar
preparadas para tomar decisões difíceis, esses são valores apreciáveis. Mas sim
no fato que ele se julga capaz de escolher para todo universo, o merecedor de
efetivamente julgar pelas pessoas, o que vão efetivamente sacrificar, o que
deve importar ou não, ignorando desejos, vontades, ou qualquer discordância. Aí
nessa presunção, e status quase divino que o personagem se coloca, está o
problema.
Uma comparação sobre
como Endgame, e Infinity War, rendem cenas com um objetivo similar, encapsula o
diferente tratamento da ideia nos dois filmes. De um lado temos o sacrifício de
Gomorra para Thanos obter a pedra da alma. Apesar dessa cena ser dramaticamente
nula, o tom dado aos eventos é fascinante. Aqui temos uma visão extremamente
heroica do ato de nosso vilão, a tensão entre os dois é palpável, sua abnegação
e perda pessoal são glorificadas durante toda a cena, enquanto Gomorra tentava
resistir. O fato exalta esse enorme esforço emocional, um homem obstinado e em
intenso sofrimento, descartando a pessoa que mais importa para ele, pois é o
que precisa ser feito, e julga correto. Sua icônica resposta ficando marcada,
ao dizer que isso ter-lhe-ia custado tudo.
Do outro temos
ultimato refazendo a mesma cena. E nesse filme a situação é uma confusão de
personagens discutindo, correndo e brigando entre si, Hawkeye e Black Widow
lutam, cada um tentando se matar primeiro para salvar o outro. Também
inicialmente não parece haver nada em jogo, ou a se perder nessa cena, pois a
manopla supostamente poderia trazer o indivíduo de volta, sendo muito diferente
no caso do Thanos. A troca de palavras é algo feio, com motivações e desejos de
personagem sendo jogados, e criando conflitos, em algo que é quase absurdo
quando se para pra pensar. Realmente a grande morte de uma das primeiras
personagens desse universo, é dramatizada em uma cena dela tentando se jogar
primeiro de um precipício.
(Ótima utilização do motivo familiar em vários momentos)
Mas desse embate,
existe algo de muito mais valor no sacrifício sendo realizado, que a super
dramatizada ação do Thanos. Pois ele se consiste de 2 pessoas, que aceitaram
seu papel fizeram a escolha de estar ali conhecendo dos riscos, que a
consequência para se conseguir a pedra é a própria vida, e ainda assim se
apresentam para a posição, não impondo ela a ninguém. Uma atenção a esse tipo
de ato, no direito dos personagens escolherem suas batalhas, o que vão perder
ou ganhar, e o futuro que querem alcançar, essa é uma ideias principais no
filme.
A própria conclusão
dos personagens reafirma essa ideia, seus ideais e reações únicas importam, e
eles tem o poder e capacidade para tomar as decisões, que formaram o futuro, a
realidade, e a versão de si mesmos que querem ser, apesar de qualquer alegação
de inevitabilidade, ou a suposta superioridade do Thanos.
Aqui se encontra a
derrota ideológica de Thanos, em sua incapacidade de permitir e observar a
individualidade, seu desejo de colocar o universo inteiro numa balança. Por
isso apesar de sua crença no equilíbrio, na inevitabilidade do universo que
criou, e que as pessoas superariam o que aconteceu, todos se voltam contra ele,
tentando recuperar o passado roubado.
Outro aspecto
primordial nesse filme é como a obra está plenamente ciente de seu papel de
conclusão para uma grande sequência de filmes e historias anteriores, tendo
temas de tempo, efeitos de sua passagem, e mudança como alguns de seus
principais. Logo no início temos um timeskip de 5 anos, onde personagens,
relações e a situação do mundo passam por radicais modificações.
O traço mais óbvio é
a inclusão de uma literal máquina do tempo, um conceito que busca comentar
diretamente contra a necessidade de aceitar consequências e o passado, que
compõem a filosofia do antagonista. Claro além de comentar sobre a
inevitabilidade, e possibilidade de escolha, as possibilidades que tal
artifício cria vão muito, além disso. Apesar da teoria principal nesse quesito,
é que essa consistiria de uma análise do legado da franquia, não vejo esse
ponto sendo minimamente retomado no filme em si. Mas como uma forma de
personagens realizarem uma introspecção, um entendimento melhor do passado, e
suas inúmeras mudanças, a situação ganha significado.
O que capitão América
encontrou no passado, com certeza causou forte impressão. Pois o homem que está
lá é quase literalmente idêntico, ainda guardando uma foto, lembrança de
relação amorosa, e a mera menção do nome de seu melhor amigo, como mais
importantes que o presente e a situação. O herói por altruísmo está se forçando
a mesma atitude há anos, e o peso desse período começa a aparecer no personagem
em diversos momentos.
(Best boy do MCU, a direita na imagem)
Thor se encontra em
meio a uma jornada pessoal, em sua volta a asgard. Esta permite reviver um
passado idealizado, aonde ele era o filho orgulhoso de um reino, e todas as
pessoas que ama e se importa estão vivas e bem. Mais importante, esse cenário
permite o retorno do filho que se imagina um fracasso para com tudo e todos, e a
reencontrar a mulher mais importante de sua vida.
Esse encontro
desenvolve várias facetas dele. Para começar desconstrói sua visão do passado.
Acontece que as vontades e desejos de seus pais eram diferentes do imaginava,
não existia esse intenso desejo para que ele se tornasse um glorioso rei, e ao
invés de confrontado com decepção e negação, achou acolhimento e compreensão
nas pessoas que mais amava.
Também permite um
maior questionamento por parte do personagem, em sua jornada de
autoconhecimento, pela primeira vez, seu dever para com seu povo, o destino e
real vocação que ele teria são fatos passíveis de dúvida. Duvidas que ao final,
o levam a abandonar a posição a qual não se sente preparado, de liderar os
asgardianos. Concluindo exatamente com a decisão de superar laços, memórias que
apenas o travavam, partindo para um mundo novo, junto aos guardiões da galáxia,
um pequeno homem em busca de seu espaço e eu, junto à vastidão do espaço.
Mais imediatamente, o
diálogo possibilita a Thor uma recontextualização de si mesmo, e dos eventos
pelo qual passou. Claro nada pode ter saído como planejado, erros e insucessos
permearam vários pontos da jornada, mas essas não são razões para se deixar ser
definido por eles, simplesmente desistir e não tentar. Pois enquanto ele for
fiel a seus desejos, ter a capacidade de ser autêntico, se esforçar, e buscar
mudar as coisas, não há como dizer que tipo de fracasso admirável ele poderá
vir a se tornar. Assim já devidamente equipado para lidar com seus medos, vemos
um Thor ansioso para se provar, e que exerce função primordial no clímax do
filme.
(Esse novo visual é tao fantastico)
Este é o momento
ideal para uma discussão do homem do filme, o Homem de Ferro. Por questão de
consistência, defino o personagem nos termos de suas características mais
marcantes, seu enorme egocentrismo, eterno desejo de aparecer, quase sempre
agindo conforme o próprio interesse, muitas vezes indo contra ordens,
autoridades e com uma personalidade difícil de lidar para a maioria das pessoas
a sua volta. Esse elemento se apresenta mais especificamente, em uma vontade de
obter controle sobre tudo e todos. Isso pode ser visto em inúmeras instâncias,
ao tentar “privatizar a paz mundial”, criar um sistema de defesa perfeito na
figura de Ultron, com o qual ele supostamente poderia proteger o mundo inteiro,
ou em sua tentativa de colocar os Vingadores sobre sua direta supervisão e
controle em Guerra Civil. Todas essas ocasiões apontam uma necessidade de estar
no poder, influenciar e prever eventos. De uma forma o personagem sempre foi o
ideológico oposto, e contraparte ao Capitão América, realizando heroísmo por
egoísmo.
Dessa vez, Endgame
volta às origens remotas do personagem, permitindo o encontro de Tony com seu
pai, semanas antes dele ter nascido. Existe uma reconciliação metafórica em jogo,
Tony finalmente pode dialogar sem barreiras com esse homem como desconhecido, perceber
que compartilha muitos dos problemas e características, do egocentrismo
exagerado, e da dificuldade em conciliar família e trabalho. Terminando num ato
de perdão, que ao mesmo tempo em que reconhece os erros, é capaz de ver valor,
e apreciar os momentos que eles passaram juntos.
Mas talvez a maior
revelação, seja a enorme contradição que seu pai apresenta. Ele pode se
consistir de uma pessoa egocêntrica, que passou a vida negligenciando o filho e
esposa, no entanto no fundo realmente acredita que está fazendo tudo pelo Tony,
e que não pararia em qualquer obstáculo para ajudá-lo, só não é realmente capaz
de transmitir, mostrar esse desejo. Essas palavras ecoam o próprio início do
filme, aonde Tony proclama que sempre agiu pela Pepper, e está sempre pensando
nela, e a enorme decisão que vai tomar.
A ideia de como o
passado vem a afetar as pessoas é bem prevalente. Um senso de nostalgia, que o
que aconteceu era melhor que a atualidade, marca diversas cenas, em face da
situação catastrófica do mundo. Endgame também estuda pelos personagens, fatos,
relações únicas, e os momentos mais importantes formadores de suas
personalidades. Tudo isso para enfatizar a ideia da jornada até aqui, uma
última visão do mundo que vem sendo construída pela franquia há décadas, a
última possibilidade de apresentar a fundo suas mudanças e transformações. Dar
esse senso é essencial, na medida em que a existência e relevâncias de algumas
das pessoas principais que formaram esse universo estão prestes a acabar.
Fanservice como
conceito é algo que sempre tive dificuldade de lidar, apropriadamente definir e
aplicar quando discutindo ficção. Supostamente seria qualquer coisa que está na
obra, sem qualquer propósito narrativo ou temático, estando lá só para a
apreciação dos fãs. Disso, daria para colocar que diversos tipos de humor,
cenas de ação, ou referências, só funcionam num nível de meta de conhecimento
dos fãs, logo seriam fanservice. E já quero começar esclarecendo, não acho que
esse filme contenha cenas que seriam expressamente fanservice. Claro pegar
ideias como uma máquina do tempo, e mostrar imagens e momentos de obras
anteriores da franquia, e rotulá-las com esse título, é algo até compreensível.
No entanto como já argumentei extensamente anteriormente há claros propósitos,
na retomada e viagem no tempo utilizada.
Endgame tem uma
relação conturbada com os fãs do universo. Ao mesmo tempo em que contém
diversas referências, throwbacks, e até repassando vários momentos icônicos da
franquia, esses estão no contexto do filme que vai acabar com tudo isso. Esse
universo, que os fãs adoram, seus personagens favoritos, muitas das propostas e
ideias que levaram o MCU, a ser esse gigante, encontraram seu fim, aqui. E
nesse aparente conflito está um questionamento implícito para a própria
fanbase.
O que os fãs
realmente querem é uma questão importante. Seria uma eterna recorrência, a
utilização dos mesmos personagens, das histórias e modelos já conhecidos, dos
temas e ideias já exploradas (que é o que discutivelmente, eles mais fazem).
Será que os personagens nunca irão encontrar conclusão para seus arcos
dramáticos, e que a franquia deveria ficar numa estase de repetir seus maiores
momentos. Da mesma forma que as pessoas no filme, a audiência está sendo
chamada, questionada pelos ideais do Thanos, intimada sobre a necessidade de
sacrificar, abrir mão de certas coisas, elementos, e heróis que já cumpriram
seu papel. Num desafio de aceitar experiências novas, criar relações, caminhos,
um lugar para uma severa reimaginação do universo. E principalmente, para
apreciar a finalidade, sua importância, mesmo no meio de muitas coisas que eles
vieram a amar. Ultimato nos convida para um arco, para avaliar nossa própria
necessidade de mudança.
Quanto a grande
batalha no final do filme, tenho muito pouco a dizer. Acho que certos momentos
como portais se abrindo, e certo cara usando um martelo são hype demais, para
até eu ter a coragem de contar spoilers. Gosto como filme é contido em relação
a cenas de ação as concentrando numa extremamente satisfatória batalha na
conclusão. Acho que a própria construção do filme, fazendo do primeiro ato um
inferno completo, cheio de sofrimento, perda, e superação, tornam as cenas
épicas ao final, muito mais merecidas e divertidas.
(Ainda não tenho certeza do porque no foco nela, além de como plot device)
Continuando para a
maior cena da obra, temos a morte de Tony Stark. Esse é o momento que faria ou
quebraria o filme para muita gente (não para mim) se tivéssemos um filme
excepcional, mas com um fim decepcionante para o herói, ele ainda contaria como
decepção considerando as enormes expectativas. E posso felizmente dizer, que é
um acontecimento bem executado. Nesses instantes Tony lida com sua mortalidade,
a incerteza com os resultados (pois sua tentativa de controlar o que vai
acontecer, fracassa quando conversa com o doutor Estranho). Aqui o personagem
apreende a abrir mão, abandonar seus intensos desejos de dominar a situação,
prever e controlar cada possível alternativa. Não há outro caminho só o
sacrifício, e além dele e da morte, não existe nada que Tony possa fazer, pelas
pessoas que ama, e pelo mundo.
Morrer pelo bem do
universo, apesar de contrário ao princípio do heroísmo egoísta que o marca,
demonstra bem a contradição no núcleo do Homem de Ferro. Da mesma forma que é
um narcisista, egocêntrico, no fundo ele acredita e muitas vezes está
unicamente agindo pelos outros, Suas palavras de sempre estar agindo e pensando
na Pepper, o amor e vontade de fazer de tudo pela sua família, e para sua filha
jovem, tudo isso pesa nesse momento, em que realiza o definitivo ato de
sacrifício, terminando com sua própria morte, a destruição de Thanos e seu
exército. Em sua conclusão dando a noção perfeita do herói que marcou esse
universo, sua capacidade de amar, e desejo de proteger aqueles que ama, se
erguendo triunfantes sobre seu enorme sucesso, mesmo que a custo da própria
vida.
O paralelo com o
Capitão América é bem claro se analisarmos o final. Um dos primeiros momentos
de Tony, e Steve, é marcado exatamente por essa dificuldade de aceitar o
escudo, hesitando em se tornar o símbolo de justiça, e esperança que marcam o
personagem. Essa frustração com seu papel finalmente é solucionada por meio da
máquina do tempo, que permite ao herói voltar ao passado, recuperar a vida que
sempre considerava perdida, rever as pessoas, e o amor pelo qual seu coração
sempre ansiava. Ao se permitir ter essa experiência, deixar seu dever, e
necessidade de sempre agir pelo bem dos outros, ele abre a possibilidade de
conhecer a verdadeira felicidade, e escolhe o mundo e vida que realmente quer
ter. Ao final, encerrando a vida em plenitude, a qual sempre sonhou, Steve
Rogers reaparece no presente. Um homem satisfeito, que tirou o máximo de sua
existência, e está pronto para passar seu escudo, o símbolo em que acredita, a
um jovem e amigo que simboliza muito de seus ideais. No último ato do Capitão
América, este acha o significado no heroísmo egoísta, se tornando alguém capaz
de proteger a própria felicidade.
Durante o filme, acho
importante ter uma mente aberta para suas inúmeras falhas. A estrutura é
francamente bizarra, o primeiro ato parecendo iniciar uma dúzia de vezes, com
vários eventos sem muita relação ou progressão, que fazem apenas mais sentido
em retrospectiva. Sinceramente demora até ser possível ter certeza, qual vai
ser a premissa de Endgame. Thanos tem um papel meio contraditório com sua
presença em Infinity War, rapidamente abandonando o objetivo, o qual sua enorme
obstinação em perseguir era tão elogiada anteriormente, e tem pouquíssima presença
em tela (Lamentei pra caramba isso). A viagem no tempo é confusa, e se
contradiz em diversos momentos. A falta de perigo (my stakes) ou ter muito em
jogo, em termos de chances de morte ou fracasso, é algo bem presente, pois até
tentativas de fazer parecer com que os personagens só têm uma chance de sucesso
pela falta de partículas, são desculpas bem transparentes, e acabam sendo
abandonadas durante a própria duração.
No entanto, dizer que
qualquer um desses defeitos prejudicam particularmente o filme seria um exagero.
Essa narrativa e situações têm muito mais em jogo que qualquer momento de
infinity war, pois nessa obra entendemos exatamente como os heróis foram
pesadamente afetados, vem a se importar pessoalmente com as circunstâncias, e
como o fracasso e a realidade que habitam representam um verdadeiro inferno.
Assim o risco e possibilidade de insucesso, apesar de não logicamente fazerem
sentido, tem um sentido emocional, os proxies da audiência, os personagens,
demonstram e dramatizam exatamente o que tem a perder no meio da história, e é
por meio deles que iremos entender, e vivenciar o perigo, perda e sacrifício. A
importância, o medo, a frustração, que eles sentem, essas dão o sentido, e
significado dos eventos na obra.
Talvez o elemento que
esteve sempre faltando no MCU, foi exatamente que um filme entregasse no aqui e
agora. Não algo focado em como todos fazem parte de uma grande narrativa
e prometendo eventos para o futuro, mas sim que contasse uma conclusiva e
satisfatória história própria. Algo que realmente tivesse uma ideia de
consequência e gravidade mostrasse efeitos da jornada, e dos acontecimentos,
como eles profundamente vêm a modelar nossos heróis e seu universo. Sempre quis
algo que desse propósito, significado, e representasse uma conclusão dos arcos
dramáticos, que vem sido construídas há 10 anos, pela Marvel.
E longe de Vingadores
Ultimato ser a perfeita conclusão, encapsulando tudo nos filmes anteriores, mas
foi emocionalmente satisfatório, e entregou muito do desenvolvimento e efeitos
maiores que outras entradas no universo apenas prometiam. Não obstante suas
falhas, a obra tem a coragem de deixar algumas dessas figuras irem, heróis
lendários, ícones da cultura pop, cujos próprios nomes e atores, atraem
multidões aos cinemas. Contando essa história enfatizando exatamente o fim como
parte da jornada, que exatamente esses finais, términos de arcos,
desenvolvimento e histórias, são essenciais para essas pessoas, e o significado
de suas narrativas. Independente de quão ruins alguns dos filmes individuais
sejam, ou até certos momentos no próprio Endgame, fiquei feliz ao ver tantos
elementos concluídos, e em retrospecto com a evolução e caminho percorrido para
chegar nesse ponto. E acho que isso é tudo que realmente poderia pedir nesse
momento.