domingo, 17 de fevereiro de 2019

Neon genesis evangelion, analises, e o Meteoro Brasil


Poucas pessoas sabem um pequeno fato sobre mim, mas na verdade eu adoro desnecessariamente longas e enroladas introduções em analises, especialmente quando elas não dizem absolutamente sobre a obra. Quando eu vejo um parágrafo introdutório começando com uma leitura de sinopse (em vídeos que só fazem sentido pra pessoas que já viram a série), ou com inusitados fatos desconhecidos como Star Wars ser uma franquia extremamente popular e influente (sim isso realmente é o começo de um vídeo), já fico até aliviado por saber que o autor não tem qualquer escrúpulo de fazer perder meu tempo. Esse texto será uma análise do canal do youtube, o qual jamais praticou nada do que eu disse acima, o Meteoro Brasil, com enfoque no vídeo Neon Genesis Evangelion [ especial #Meteoro, usando suplementarmente outros vídeos com o ponto de exemplificar aspectos sendo abordados. Para já tirar do caminho uma observação irritante, essa crítica não tem qualquer viés político ou ideológico, apesar da mudança de conteúdo produzido por este, voltado a tópicos mais polêmicos do contexto brasileiro, esse ensaio não tratara destes, nem eu estou particularmente interessado com esses fatos.  Meu interesse e proposito de analise, são as atividades de interpretação e critica ficcional ocasionalmente desenvolvidas pelo canal, as quais a partir de agora serão discutidas.


(Advinhe meu exemplo favorito para alguém que não entendeu Evangelion)


Começando com um pequeno ponto do vídeo, consistindo mais de uma questão generalizada, do que algo típico da crítica do canal, está a presença de observações superficiais sobre a obra, as quais não agregam muito ao vídeo.  Observar como tais se apresentariam numa review genéricas é muito simples, pegue qualquer momento de uma review, no qual se começa a descrever abstratamente a obra com adjetivos que explicam suas supostas qualidades, dizendo que os personagens são bem desenvolvidos, a arte é bonita, ou o drama é bom, por exemplo. Note que a discussão fica apenas nesse nível de superfície, em nenhum momento o reviewer está elaborando, o que seria bom no desenvolvimento dos personagens, o que seria particularmente bonito na arte. Tais afirmações também estão em completo vácuo, não se relacionam com nada mais do que está escrito, ou com qualquer proposito que o trabalho estaria desenvolvendo. A arte ser bonita não é ligada a qualquer mensagem, efeito pretendido, ou outro elemento da obra, parecendo existir num vácuo em relação ao trabalho em si. Em tais instancias, longe de mim julgar baseado em minha concordância ou não com a opinião da pessoa, o problema está mais em como é impossível exatamente saber o que o indivíduo quer dizer, que aspectos dos personagens merecem esse elogio, aonde isso se aplica, é só referente aos principais ou os secundários também são particularmente sólidos e sujeitos a lembrança? Fico sem saber como tomar ou minimamente entender essas afirmações, as quais não estabeleçam minimamente do que se consistiram, as ditas qualidades existentes na obra, e muito menos com uma noção de quais são os critérios e métricas, praticadas pelo crítico, como a pessoa racionaliza e entende caracterização, roteiro, lógica interna. Simplesmente não há como devidamente contextualizar, ou tirar muito de valor, desse tipo de atitude. Meteoro exemplifica isso com falas como descrever a estrutura de evangelion como episódica, pois ao invés de tentar se aprofundar aí, mencionar algum proposito maior desse aspecto, tempo de interação dos personagens, e desenvolvimento de circunstancias, simplesmente para na descrição rasa.


Mas o maior exemplo disso são os extensos 30 segundos gastos detalhando a arte de Evangelion, nele alguns adjetivos o qual supostamente demonstrariam qualidades são jogados, atenção a detalhe, realismo, praticidade de cada design, No entanto a complementação disso se encontra completamente ausente, não sabemos o que eles significam, que elementos da arte de EVA descrevem, o que seria super realista, bem pensado, ou pratico na arte (os designs dos anjos com seu surrealismo são meio que a antítese de praticidade). Aonde está a suposta atenção a detalhes, quais designs ou elementos do mundo, dos robôs e dos equipamentos seriam a demonstração disso, são impossíveis de precisar (a menos que ter imagens do anime genericamente tocando, seja toda a atividade necessária de exemplificação). Note como esse trecho está estranhamente estruturado no vídeo, no meio de introdução e detalhamento do personagem do Shinji, e não complementa nem se conecta com nenhum dos dois. Na verdade, essas alegações desconjuntadas não têm relação com nada mais que o vídeo apresenta, nenhuma opinião sobre tais elementos, será em qualquer momento retomada. Simplesmente não mencionar a arte, quando você não tem nada de muito interessante para falar sobre esse aspecto, nem nenhum interesse de minimamente elaborar o tópico, representam a forma mais simples de melhorar a qualidade do vídeo em questão (ou de qualquer vídeo).


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(Eva segurando meu coração, e Shinji segurando o seu, em suas mãos)


Como parte da comunidade otaku, eu já aprendi a máxima que não se faz um texto sobre Evangelion sem a clássica discussão sobre se tal consiste ou não de uma evolução (desconstrução) do gênero mecha. E garantido o Meteoro tem sua própria contribuição para o tópico, que na minha visão, só pode ser interpretada, como caso da clássica arte de discutir gêneros ficcionais, sem ter o mínimo de experiência ou contexto quanto ao que está em discussão. Porque apesar de comum, e repetida ad nauseam, a ideia que o Shinji marcaria uma grande virada na forma como os personagens se apresentariam nesse tipo de história, não condiz com a realidade. A ideia de ser um piloto de robô gigante com a função de arriscar a vida salvando as pessoas, e o indivíduo reagindo a essas circunstancias com medo insegurança, tentando fugir e evitar essa situação, não descreve de forma alguma apenas o Shinji. Não é preciso olhar além de Mobile Suit Gundam, o anime mais famoso dos anos 70, o qual teoricamente estabeleceu a formula que Evangelion estaria inovando para perceber a falácia. Pois tudo que eu expliquei acima se aplica a Amuro Ray, seu protagonista, ele reage a seu novo status com tanto pavor, que é agredido fisicamente com um tapa na cara, e forçado a pilotar, logo no primeiro episódio. O realismo na reação do personagem já estava presente, assim como a complexidade de suas emoções e conflitos internos, Amuro também sofre um histórico de abandono por parte de seu pai, o qual o torna socialmente isolado, dificultando na formação de relacionamentos, apresenta intensos questionamentos sobre seu papel na guerra, a atividade de constantemente tirar a vida de outras pessoas, e até quanto ao valor de sua própria existência. A afirmação de que a reação mais “realista” a esse tipo de situação, como marca de alguma grande evolução que Eva estaria fazendo é o exemplo de uma mentira repetida vezes o suficiente, para se tornar verdade. Se consistindo do tipo de fala que apenas é justificável saindo de pessoas, que não viram praticamente nada, de mechas anteriores a EVA, e a enorme variedade de estilos de narrativa, personagens e conflitos que se manifestam nesse período. Droga temos o desenvolvimento de franquias tão variadas, e com diversos aspectos interessantes nessa fase, quanto Gundam, Patlabor e Macross. Essa tendência de grosseiras generalizações a partir de poucos exemplos, ou ainda tirar verdades os quais representariam tais grupos ficcionais do puro nada, é uma falha frequente praticada por críticos.


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( Bright slap, desconstruindo a desconstrução)


Não me entendam mal, existe um argumento para ser feito em relação a áreas em que Evangelion efetivamente inova. A centralidade e foco que os problemas dos personagens ocupam, numa narrativa de salvar o mundo é algo bem diferenciado, este se tornando em diversos momentos o ponto e proposito do anime. Existe uma atenção a inseguranças e problemas mundanos, conflitos internos e intrapessoais em relacionamentos, e numa busca de sentido na existência, que consistem de marcas extremamente distintivas de EVA. Mas longe de uma grande revolução, tais se apresentam mais como uma mudança de foco, em relação a elementos que existem, e são encontrados em diversas obras de mecha anteriores. Isso não contando como a obra é discutida nos círculos acadêmicos do Japão, como a originaria do estilo ficcional, Sekai-kei (link para quem se interessar sobre o assunto https://drive.google.com/file/d/0B8yHcPUOolf2dW9ESGx4eUlnb2M/view). Evangelion é usualmente retratado nesses meios como uma obra proto Sekai-kei, sendo que o modelo as tendências e ideias exploradas, se tornaram influentes em trabalhos de grande variedade de gêneros, a ponto de ser algo relevante, relação a como animes como um todo são discutidos após seu lançamento. Nenhum desses pontos é levantado, e não é dessa mudança contida em evangelion, que o Meteoro se debruça. De qualquer forma, a partir de um mínimo escrutínio a tese levantada não se sustenta, o que para mim demonstra que, ou os criadores não realizaram qualquer pesquisa sobre o assunto que queriam levantar, mecha sua história, característica e evolução, ou estão tendo acesso a fontes de qualidade extremamente duvidosa.


Há um ponto que por si só representa algo menor, mas quando levadas em conta suas implicações demonstra falhas de compreensão na análise da obra pelo canal. Em um momento Meteoro coloca a presença de lutas épicas em EVA apenas como espetáculo, método de conquistar o público, não exatamente relacionadas com aquilo que o anime realmente é sobre. Não é incompreensível a ideia de separar a ação e a extremamente simples história de salvar o mundo, meras instancias de diversão descerebrada para a audiência, algo para não se pensar sobre, do suposto verdadeiro conteúdo da série, o extenso comentário sobre a existência humana, os complexos arcos de personagem, a temática (eu mesmo já argumentei assim). No entanto aí se encontra o problema, tal perspectiva meio que descarta a relevância, de um elemento da obra, o qual em termos de tempo está mais presente e sendo desenvolvido, além de negar implicações temáticas dessa parte do conteúdo. Impossível considerar tais partes como algo menor, um background o qual não é necessário justificar ou ter muito razão para falar sobre, pois impossível negar que o foco durante boa parte dos episódios, e na maior parte da narrativa da série está exatamente nesses confrontos, tornando a distinção entre esses, e o que a obra realmente é sobre, um pouco arbitraria. Levando esse argumento a suas últimas implicações, Meteoro está dizendo que existe uma enorme desconexão entre os temas, arcos de personagem e aquilo que a série trata, daquilo que apresenta mais predominância na narrativa, as lutas, a história sobre salvar o mundo, algo que consistiria um problema. Basicamente teríamos 2 historias ocorrendo em EVA, sendo que as duas mal se conectam ou tem muito relação uma com a outra, tirando o fato de terem os mesmos personagens principais, e muito tempo é gasto em aspectos que não servem minimamente para desenvolver as ideias principais. O que me impressiona num vídeo, partindo da premissa que muitas pessoas não entenderam Evangelion, quando na verdade o anime é muito bom, mas ao mesmo tempo implicitamente diz que boa parte de seu conteúdo não significa nada.


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(A açao em EVA é foda pra caramba por sinal)


Note que essas afirmações não representam qualquer crença minha que esse seja o caso.  Para entrar nesse mérito preciso explicar o elaborado comentário quanto a escapismo em obras de ficção, encontrado em EVA (explicando basicamente tudo, pois o Meteoro Brasil achou melhor nem comentar um aspecto tão sem importância). De início é bem claro a presença de escapismo como um dos pontos centrais, Shinji está constantemente lidando (e dizendo) com pensamentos de fugir tanto de diversas situações como da própria realidade, sendo o trem e os fones de ouvido característicos como indicadores visuais disso ocorrendo numa determinada cena. O cenário da obra não pode ser descrito de outra forma que a fantasia de fuga da realidade favorita de um otaku dos anos 90, o universo perfeito aonde você pilota um robô gigante, salva o mundo, e está cercado de mulheres bonitas as quais (discutivelmente) te curtem. Claro, esse suposto mundo ideal é depois transformado em inferno existencial de relações quebradas e disfuncionais, expectativas e desejos não cumpridos, consistindo do que previsivelmente tal mundo imaginado realmente seria. Anno (já que falar sobre ele ao invés da obra é a moda agora) é uma das figuras que tem mais criticado uma tendência por parte da cultura otaku, diversas pessoas estariam buscando em anime, jogos não entretenimento, mas a criação de realidades idealizadas suplementares, mundos os quais estariam tornando boa parte da audiência, alienada e ignorante, quanto as pessoas e circunstancias em sua volta. End of Evangelion é provavelmente uma das peças de ficção mais explicitas quanto a essa mensagem, trazendo uma discussão entre Shinji e Rei, ao mesmo tempo em que imagens de uma imaginada turma de espectadores, os quais estariam assistindo o filme aparece na tela.  Nela os personagens falam diretamente a audiência, em relação ao que realmente consistiria a realidade, os malefícios e questões que o Shinji estaria passando em decorrência de não conseguir se afirmar, encarar as pessoas e circunstancias a sua volta, e buscar alivio em mundos suplementares. E não ironicamente a escolha do Shinji ao final do filme também se apresenta como uma escolha do mundo, das personagens que ele conheceu, dos momentos e relações que ele criou com elas. Pois apesar do personagem não ter qualquer certeza quanto a se ele será feliz, ou o que o futuro lhe reserva, ele reconhece que as relações e sentimentos de alegria que construiu com as pessoas foram reais, e realmente significaram algo para ele.


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(Adoro, ou amo odiar cada uma dessas personagens)


Considerando o contexto temático da série, a ação e a narrativa principais tem propósitos claros. Longe de serem apenas fanservice (do jeito que o Meteoro descreve parece que EVA esta baitando pessoas a ver o anime). Há um significado importante em mostrar o lado excitante, pitoresco, as possibilidades de experimentar emoções que nunca podem ser sentidas na vida real. A obra busca mostrar que entende o apelo de ficção, o que ela apresenta para a sociedade, a válvula de escape para diversas sensações e sentimentos impossíveis de serem achados no dia-a-dia. Ao mesmo tempo que a situação de indivíduos que foram longe demais nessa imersão, presos em realidades suplementares, levaram essa ficção a sério demais, desperdiçando anos de sua vida, e perdendo todos a sua volta. As caraterísticas que tal atitude pode tomar quando levado as suas últimas consequências.
Existe um contra-argumento importante aqui, quanto a necessidade da centralidade dada a tais elementos na narrativa de EVA, em decorrência de sua importância temática secundaria. Também é válida a afirmação de que a história deveria ter conectado e integrado melhor e mais completamente a ação, narrativas, as mensagens e os temas. Estas são ambas observações justas, mas que não implicam na inexistência de importância dessas partes da obra, sendo que essa não pode ser simplesmente negligenciada, ou não mencionada quando se analisa Evangelion.
Se fosse para me perguntar, qual é o pecado capital da pratica de analises, minha resposta provavelmente seria a pratica de tentar entender a obra a partir do criador. Meteoro entrega nesse aspecto no vídeo, ao termina-lo com alegações sobre a qualidade de EVA ser devida a experiências de vida do autor, ele ter passado pela depressão, pela “despersonalização”. Não vou negar o lado divertido de explicar a pseudo psicologia de alguém a partir das obras que ele produz, mas como critica isso é um exercício inócuo, até mesmo num trabalho que é assumidamente extremamente pessoal como EVA. Primeiro por que a pratica em si é meio ridícula, vamos analisar os arcos da Misato, Shinji, Rei, Gendo, Asuka, pelo Anno ter passado por todas essas circunstancias, e tais serem especialmente importantes para ele? Será que a presença de robô gigantes no anime se dá apenas por uma memória de infância o qual ele admirava muito, e queria fazer sua própria fanfic sobre isso (Nada disso é necessariamente falso na verdade). Tudo é sobre Hideaki Anno, sua realidade e vivencias agora?  Segundo que esse tipo de interpretação usualmente termina em algo extremamente abstrato e especulativo, sendo que não há quase nenhuma métrica além do autor diretamente explicando, para se julgar os resultados que se pode chegar com isso. Pois nisso além de interpretar o material, partir dele para procurar suas mensagens, o que ele poderia significar e o que cada um desses símbolos representam, se parte de um conjunto de imagens e símbolos os quais você não sabe exatamente o que significam, para averiguar a subjetividade e intenção de outra pessoa. De certa forma isso cria uma nova interação, além da usual mídia audiência, a obra a qual se esta interpretando e analisando se consiste apenas do primeiro passo, um meio, seguido pela audiência partindo desta para construir uma individualidade, visão de mundo, de um suposto criador do trabalho. O que na minha opinião pode ser na melhor das hipóteses um jogo de suposição elaborado (que surpresa o vídeo termina exatamente falando que Anno pode ter tido essas experiências ou não), que apenas serve para demonstrar elementos repetidos, e frequentes em obras da mesma pessoa, e indagar alguma razão para esse ser o caso.


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(Gênio)


Agora, eu posso não concordar com os métodos e objetivos de Autheur theory (pois esse é o assunto claramente) mas é inegável que essa escola de analise criou métodos de crítica claros, com o objetivo de analisar a personalidade do autor, e ajudou a perceber alguns tópicos negligenciados na arte até então. Inovou ao possibilitar um meio de buscar e valorizar as grandes personalidades, os diretores e escritores, que davam um toque e visão de mundo único ao conjunto de trabalhos em que participavam. E é exatamente nisso que reputa muita da confiabilidade que era dada ao método, pois eles iam além da visão de uma obra apenas, pois individualmente era impossível diferenciar quais seriam as ideias do criador principal, sua personalidade criativa, das de seus colaboradores, por isso o trabalho deste com outras pessoas ajudava a determinar tais fatos. E também por que o fato de simplesmente existir uma ideia ou tema principal, mais relevante num filme, não significa que tal fosse particularmente importante para o autheur, ou características especiais dele. No entanto a repetição deste durante sua carreira, trabalhando com gêneros propostas e aspectos completamente diferentes, esses eram os verdadeiros sinais de sua personalidade como criador, que essa escola buscava.  Uma aplicação extremamente preguiçosa do mesmo raciocínio é a mostrado no vídeo. Você não vai achar quaisquer exemplos de outras obras de Hideaki Anno nele, ou o menor sinal que estas foram sequer consideradas. A explicação está mais na forma, de os personagens tem traumas ligados aos pais, vários deles são depressivos, Anno deve ter trauma e ser depressivo também. Então basicamente além de escolher linhas de raciocínio extremamente duvidosas, o vídeo se supera ao fazer a aplicação mais preguiçosa possível de tal raciocínio.  


O que seria possível tirar dessa parte do vídeo então? Há diversas comentários meio despropositados como Anno tinha que ter passado por essas coisas para representa-las tão perfeitamente em ficção, o que foge quase que totalmente do ponto, não abordando nem superficialmente, o que o autor está efetivamente fazendo, porque a representação é especial, como cria e demonstra sentimentos espetacularmente bem. Ademais a parte de Evangelion ser boa ficção por ser construída a partir de péssimos sentimentos é o tipo de comentário pseudopoético, o qual não quer dizer nada mas parece super legal ao se dizer. Sinceramente pessoas simplesmente precisam parar com essa idolatria do artista solitário, escrevendo ficção que representa o fundo de sua alma, uma verdade interior não censurada. Pois pasmem, nada dessa bruta verdade e busca de uma mensagem pessoal única, necessariamente significa que o cara tem algo extremamente interessante, ou valido para dizer.  Muito pelo contrário tais explorações são usualmente as primeiras a afastar o público, não conseguindo gerar qualquer empatia, ou manipulação de emoções, incutindo experiências extremamente alienantes. Para analises de artistas únicos, criadores de obras cheias de personalidade, e com uma visão do mundo própria, veja os vídeos a seguir. (https://www.youtube.com/watch?v=V7pUs-9C-gY    https://www.youtube.com/watch?v=srk-tPbQVcs)


Mudando para a parte do vídeo, a qual não tem nada estritamente de errado, mas que eu ainda vou reclamar sobre (porque sim), temos a explicação do final e a apresentação de diversos conceitos como a dificuldade de se relacionar e o existencialismo (apenas mencionado num clipe de 30 segundos do Shinji perguntando sua razão para agir assim). Começando por problemas em relacionamentos (minha vida basicamente), ao invés de explicar quais seriam as efetivas dificuldades dos personagens em se relacionar, por que suas existências sofrem tanto ao redor de relacionamentos frustrados com outros Meteoro nem toca no assunto, apresentando apenas um conceito filosófico que diz o obvio. O que é frustrante sendo que muito da magica e razão de pessoas se verem em EVA, acharem os personagens extremamente identificáveis, é que absolutamente cada um deles, sofre uma existência isolada, de interações e laços incertos quanto aos outros. Shinji tem um complexo de inferioridade e insegurança, que o torna por vezes incapaz de enxergar pessoas além de suas necessidades emocionais e incertezas próprias, Asuka busca desesperadamente reconhecimento elogios, gente que de valor e aprecie sua existência, ao mesmo tempo que por sua personalidade abrasiva, e tendência a ofender tende a afastar todos a sua volta. Ritsuko se vê como uma mulher patética, solitária, a qual abraça o único homem que imagina iria aceita-la, mesmo sabendo da verdade, Gendo está apenas a manipulando. Gendo o personagem mais emocionalmente afastado e sem reação durante a serie inteira, está na verdade escondendo grandes características de insegurança e autodesprezo, ao mesmo tempo que cria uma barreira de logica e frieza para afastar os outros. Estes são só alguns elementos grosseiramente simplificados do que se passa nos personagens nesses momentos. Todos (até mesmo Gendo) buscam contato, mas suas tentativas são marcadas por frustrações, as visões de si mesmos, e problemas individuais impedem as pessoas de minimamente enxergar o outro, imaginar o que ele pode querer ou desejar. Isso resulta numa espiral negativa de isolamento, em que ao final os personagens estão extremamente autocentrados e solitários, preocupações com os próprios problemas tomando conta de suas mentes.


Existencialismo apesar de ser algo não tão relevante para ser mencionado, também tem papel primordial na obra. Sendo meio estranho um vídeo tentando explicar o arco e conflitos do Shinji ignorando essa parte, pois questões existenciais são primordiais para entender os acontecimentos e o final. Pois é exatamente essa a atitude que marca os últimos momentos de Shinji Ikari, o ato de assumir a própria existência como pessoa, que ele pode e merece decidir e fazer escolhas, e construir quem ele deseja se tornar. Para entender a importância disso é necessário o contexto da série, no qual essa atitude realmente se consiste de algo revolucionário. Pois esta é exatamente a mentalidade que ele nunca tem, seu mérito e valor na vida são apenas decididos conforme a opinião dos outros, suas motivações dependem mais de expectativas e desejos externos do que próprios. Não podendo simplesmente largar a odiosa vida como piloto, pois seu valor é definido por isso, pessoas vão elogiar, precisar dele, conforme se apresente para a função. Atos como esse marcam sua trajetória, um altruísmo destrutivo, uma necessidade patológica de agradar, ser útil, que as pessoas não abandonem e precisem de você. Mas as respostas recebidas mesmo agindo assim estão longe de serem satisfatórias, simplesmente ignorar vontade própria para ser elogiado pelo pai, oferece apenas alegria passageira, alivio que não muda nada a realidade ao ser alcançado. Todos esses atos e essas relações que você acaba criando são vazios, algo conquistado em cima do que a pessoa representa e realmente quer. E pior ainda te colocam a mercê dos outros, que podem da mesma forma retirar a validação recebida no passado, não surpreendentemente, a relação abusiva entre Shinji e Gendo sendo marcada exatamente por isso. E é por ser exatamente esse indivíduo, que se odeia profundamente, escolhendo em meio a instrumentalidade humana, a possibilidade de existir num mundo em que não é o piloto de EVA. De finalmente fazer as escolhas que importam na vida, de decidir e criar o valor dado a realidade. Abraçando novamente a dor e o abandono que marcam a individualidade, mas o fazendo buscando as lembranças da felicidade, os relacionamentos que naquele mundo extremamente real importaram, realmente aceitando a esperança de um dia poder ser feliz como Shinji Ikari. Então acho que deu para entender porque as interpretações dadas ao personagem e ao final, apesar de não serem algo que eu discorde, são extremamente insatisfatórias sem esses pontos e explicações.


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(Eu pareço preso nas mesmas questões que o personagem enfrentou nesse momento diariamente)


Depois de alguns breves pontos posso finalmente “começar” a discutir qual é o maior problema no cerne da maioria dos vídeos do Meteoro Brasil.  Existe um certo movimento em crítica, cujas alegações são importantes apresentar aqui. Tal é marcado por um caráter anti-intelectual, que se manifesta numa negação do simbólico, metafórico, ao discutir uma obra de ficção. Estes partem de uma premissa que analises temáticas e de significado consistem dos famoso overthinks (reação que já ouvi o bastante para ter pesadelos), logo não sendo forma válida de olhar ficção.  Esse grupo analisa apenas o texto explicito da mídia, tratando quase que exclusivamente de narrativa, e dela como uma questão a se resolver e fazer sentido de, e de estudo de lógica interna. E antes de eu ver os vídeos do Meteoro, não fazia ideia que grandes manipulações ou absurdos essas pessoas viam em críticas metafóricas e temáticas, para simplesmente negar mérito na pratica. Mas certos vídeos fizeram o impossível, pude compreender e finalmente me colocar no lugar dessas pessoas. Se algum dia eu já cheguei a criticar uma análise em termos de inventar significado, e dar overthink, isso só foi possível graças ao Meteoro Brasil.


A imagem pode conter: texto que diz "COMO EU VOU ENTENDER O ANIME SE O METEORO BRASIL NÃO EXPLICA?"
(Isso é tao ofensivo e tao engraçado ao mesmo tempo, como todo bom meme)


E Meteoro ultrapassa os limites do possível, em todos os vídeos criados, tirando interpretações que vão diretamente contra o texto e seus diversos elementos, ou simplesmente interpolando interpretações de uma ou 2 cenas, como representativas daquilo que seria a grande mensagem do trabalho inteiro. O vídeo de One Punch Man e o Kaizen é a demonstração absoluta da primeira pratica. Nele existe a tentativa de se conectar e tratar como mensagens do famoso anime e WebComic, o conceito de Kaizen, ligado a auto sacrifício e melhoramento pessoal. Apesar de dessa vez, existir mais do que um exemplo de auto sacrifício tirado da obra para exemplificar (o que já é mais do que posso dizer de outros vídeos), este ignora aspectos importantes do anime e personagem principal.  Para começar que destrói a motivação dada ao Saitama expressamente no episódio 1, de ser uma pessoa buscando emoção, a luta e vida heroica que ele via sempre idealizada como criança. Mas tal caminho se encontra bloqueado por sua enorme força, a qual simplesmente oblitera qualquer obstáculo à sua volta. Isso o leva a vida de tedio e marasmo que marcam o personagem, simplesmente não existem desafios ou qualquer objetivo a vista, em nada do que ele faz. A reação dele ao salvar milhares de pessoas consiste mais de frustração do que qualquer coisa, por novamente lidar com a ameaça sem qualquer esforço. Saitama sente um tedio absurdo por tudo isso, heroísmo é admitidamente para ele apenas um hobby não um cumprimento de qualquer dever moral, mas se consiste de uma atividade que ele não consegue mais sentir qualquer prazer ou emoção. Esse personagem é o grande exemplo de abnegação e sacrifício pessoais que o vídeo está vendendo.  Sem contar que diversas vezes quando dado a escolha, ele age apenas em benefício próprio, quando descobriu que deveria estar recebendo e sendo reconhecido por esse tipo de trabalho, Saitama nem hesitou de se unir a associação de heróis. Existem brilhantes exemplos no vídeo de busca de auto aperfeiçoamento, como coisas completamente não relacionadas, como a melhora de One Punch Man em suas diferentes versões.


Outro vídeo que merece a menção é o denominado Fullmetal Alchemist Brotherhood e o Zen. Procurando pela grande mensagem que a serie estaria apresentando Meteoro fez um vídeo discutindo seu episodio 12. E apenas esse claro, os outros 63, pelo visto, não tiveram muita importância temática, ou mensagens a contribuir. Note que o episódio se consiste de um flashback do treinamento de nossos 2 protagonistas, a qual a maioria dos outros personagens importantes na história não aparecem. E como um momento voltado a backstory, este não tem o mínimo haver com o conflito principal. Não esquecendo como boa parte da narrativa de FMAB, é exatamente a história dos 2 aprendendo com as circunstancias de sua realidade, e superando as ideologias e ideias claras sobre o mundo que estes tinham quando crianças. Mas nada mais importa, ou merece ser mencionado, a grande mensagem da obra está exatamente ali nesse momento no episódio 12, e nem sei por que o anime continuou por 52 depois deste. Longe de entrar no mérito, o que estou questionando aqui é essa própria tendência de tirar conclusões a partir de partes ínfimas do texto, sem uma análise apurada, ou demonstração de raciocínios de como isso seria valido ou relevante para o resto da obra, ou a mínima insinuação que o contexto maior dela foi considerado. Por sinal se alguém estiver interessados em analises muito mais completas do anime e suas ideias, os quais levam em conta mais de um monologo e episódio em consideração, não vejo por que não tentar estes vídeos. https://www.youtube.com/watch?v=4zOVXGSf1ao&t=13s


Talvez eu esteja tomando as análises do meteoro brasil de forma extremamente errada. Existem vídeos dele que claramente (eu realmente quero acreditar que esse seja o caso) não são sobre as obras em questão no título (https://www.youtube.com/watch?v=zs7rDecGcMI). Talvez o canal tenha uma proposta completamente diferente, longe deles estarem procurando grandes mensagens, fazendo crítica e interpretações extensas, os vídeos consistem apenas de um exercício mental divertido, de aplicar conceitos famosos em obras de cultura pop. Assim minhas alegações sobre contradições e analises que não levam em conta quase nada do material em questão, nem fariam sentido para o conteúdo sendo criado. O que seria um pouco bizarro, pois o vídeo sobre Fullmetal Alchemist Brotherhood expressamente diz que essa é a mensagem da série. Francamente se esse é o tipo de ideia do canal, acho que o trabalho deles de estabelecer e comunicar que esse é o caso é péssimo, não havendo qualquer sinal disso nos vídeos deles (posso estar errado nisso, se alguém tiver algo especifico sobre o ethos criativo do Meteoro, eu me interessaria em ler). Mas tal justificação nem se aplica a review de Eva em si, uma vez que tal se apresenta como algo buscando provar que o anime é bom, não necessariamente só aplicando algum conceito arbitrário nele. O que faz sentido, por esse vídeo ser extremamente diferente dos outros, falando de aspectos mais concretos como a arte, e os personagens.


Voltando ao vídeo, chegou a hora de falar de despersonalização, o tópico o qual evangelion teria um comentário extenso. Para começar, nenhum dos momentos da obra minimamente se encaixa no conceito apresentado, se consiste dessa perda de sentidos, olhar seu corpo e realidade objetiva como algo separados da consciência, muito menos as experiências surreais de perda de individualidade servem como qualquer mecanismo de defesa, ou proteção contra traumas. Sendo um dos maiores nonsenses do vídeo a ideia dos episódios 19 e 20, como exemplos do fenômeno. A própria ideia de o Shinji estava em choque e traumatizado pelos atos grotescos da unidade 01 no episódio não faz qualquer sentido. Dias antes na série, ele passou por momentos muito piores, em que seguidamente foi traído pelo pai que ele desesperadamente buscava impressionar, ter a atenção de, e se viu forçado a olhar, enquanto a unidade em piloto automático (não é bem isso mas ignore) dilacerava um de seus amigos mais próximos, a ponto de deixa-lo severamente ferido. Aonde a unidade 01 simplesmente pulverizar de forma bem brutal um inimigo, o qual o Shinji nem conhecia ou tinha qualquer razão para se importar, em momentos nos quais ele não via o que estava acontecendo pelo fim da energia para os monitores (serio o monitor estava desligado e ele não viu nada do que ocorreu), foi mais traumatizante do que os momentos que eu descrevi. Ou até mesmo do que uma dúzia de outras experiências na série, bem mais invasivas e mentalmente fragilizantes, as quais não geraram esse tipo de reação.


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(Quase morri na explicação de despersonalização em EVA)


Essa explicação também vai contra elementos do lore do anime, diretamente antes do fenômeno denominado despersonalização pelo Meteoro, a taxa de sincronização do Shinji se eleva as alturas. Esse fato, longe de um nível de poder aleatório, para marcar que o mecha esta super ultra forte no momento, é significativo, na medida em que marca a proximidade, quão íntimos estão o piloto e a alma, de uma das pessoas mais próximas a ele, que estão contidas nos núcleos das unidades EVA. Há um elemento implicitamente estabelecido em vários momentos de personagens abandonando sua individualidade para se unir a outras pessoas, a fusão de seres como uma possível resposta ao problema de relações. Assim como o fato de ser possível abandonar a realidade e sua própria existência física voluntariamente, para se tornar parte do núcleo de uma unidade EVA, sendo essa a atitude que a mãe do Shinji toma (não coincidentemente, estão usando exatamente os mesmos protocolos e táticas de salvamento do caso dela, para o que está ocorrendo com o Shinji). E sinceramente se essa despersonalização que estaria ocorrendo em EVA é um mecanismo de defesa emocional, é o pior que eu já vi, Shinji é atacado e acusado por todos os lados, em seu extremamente abstrato fluxo de consciência nesses momentos. Sua hipocrisia ao se tratar como vítima, e se dizer traído por seu pai mesmo quando não busca entende-lo é levantada, os defeitos e falhas de tentar definir o próprio valor em termos das opiniões dos outros, como eles precisam, e o apreciam, tudo isso passa na mente do personagem, diretamente e sem qualquer subterfugio, de forma até traumatizante.


É importante marcar como essas cenas e momentos foreshadow, parecem dar dicas, de muitos dos fenômenos do final da série (não apenas por também ser uma das partes que mais sofreu por cortes em animação). No final do episódio é dada uma escolha ao personagem, extremamente parecida com a que e já descrevi acima, ficar na unidade 01 para sempre, desistir da vida e sua individualidade, e se tornar um com a alma de sua mãe que habita nela (Yui está literalmente perguntando se ele quer isso, aparecendo na imagem das 3 mulheres predominantes na vida do Shinji). Quando confrontado com a oportunidade abandonar toda a ansiedade, preocupação e medo relacionados a existir, Shinji ainda assim se recusa. A memória de uma relação especifica invade sua mente a mais longa dele durante a série, com Misato, como ela está aos pés da unidade, chorando, se preocupando e sentindo sua falta. O reconhecimento de que ainda valoriza os momentos que passou com ela, a relação que eles construíram, é o que impede Shinji de reduzir o eu a nada, e o permitem voltar a existir, mesmo que brevemente, até a ocorrência de novas circunstancias que agravam, e muito sua situação. Meteoro novamente está aqui descartando o texto expresso da obra, arco de personagens e conflito relacionado a essas cenas, simplesmente não considerando os óbvios detalhes que contradizem a interpretação que ele está dando. A maior razão de eu quase sentir agonia a cada obra que eles analisam, a qual já tenha visto, é que para mim esses elementos e contradições são óbvios a cada instante dos vídeos, e a aplicação deles de conceitos nas obras nunca fazem qualquer sentido.


Esperando já ter falado o suficiente, e temendo ter falado demais, posso finalmente concluir.  Existem outras questões que poderia entrar aqui, como a retorica utilizado, o estilo de dialogo extremamente artificial que não agrega nada aos vídeos, a forma de explicar cada elemento de forma indulgente como se a audiência fosse formada por completos idiotas (serio, o tipo de pergunta que aquele avatar que representa uma imaginada audiência faz, são as coisas mais absurdas e obvias). A simplificação absurda de conceitos importantes, significando que boa parte do que eles representam é perdida (quase matada) na explicação (uma simples fonte resolveria o problema, de você não tem tempo para detalhar filosofias milenares em um vídeo de 10 minutos). A meta narrativa da mulher mais sabia e do outro cara, que não faço ideia o que significa ou o que agrega ao material. Mas eu não vou me dar ao trabalho. 


A questão que realmente falta responder é por que eu assisti, e escrevi tanto sobre o conteúdo de um canal, o qual eu claramente odeio. E não, a resposta não consiste de algum desejo de obliterar o canal, ou envergonhar seus criadores (duvido que eles, ou mais que meia dúzia de pessoas leiam isso de qualquer forma), muito menos de julgar seus fãs. Meus objetivos eram tanto dar um maior contexto ao canal sobre como seu conteúdo está sendo recebido em certos círculos (surpreendente populares entre a maioria das pessoas com quem falo). E também ao apontar erros que esses criadores estariam cometendo, faço isso na esperança, que eles, ou outras pessoas que leiam isso, melhorem no futuro. Nós todos cometemos erros, isso é uma realidade inegável, e quando você parte para criar arte tem que estar preparado para errar o tempo todo. Muitas das coisas que aponto aqui podem ser encontradas em meus próprios textos e analises, mas o importante para qualquer artista, da real qualidade, é um compromisso de sempre buscar melhorar, aprimorar as qualidades e minimizar os defeitos. É inegável que o canal passou por saltos de melhora, sendo o vídeo sobre EVA, apesar de meus comentários incomparavelmente melhor do que o sobre FMAB, por exemplo. Apesar de eu nunca acreditar que vou chegar a curtir o conteúdo que eles possam vir a produzir, meu maior desejo é que eles continuem a melhorar, e que esse ensaio os encoraje nesse processo, dando pontos em que realmente acredito eles precisam trabalhar.

 (Obrigado pai, adeus mãe, e para todos vocês lendo, parabéns)


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Mahou shoujo madoka magica review

Primeiro um esclarecimento, está review será sobre a série madoka magica, sua continuação o filme mahou shoujo madoka magica rebellion, e seus dois filmes de recapitulação (cashgrabs) não serão considerados nessa avaliação ou discutidos. E não em nenhum momento ou trecho, esta review será apresentada como livre de spoilers sobre o referido anime.


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(O momento em que vc é preguiçoso demais pra escrever coisas novas)


Apesar de não ser um método que eu goste de usar, mas terei que começar minha review, explorando o conceito que domina o debate sobre a série, sim o fato de madoka ser uma desconstrução (ou não) do gênero mahou shoujo, por conter uma perspectiva completamente nova sobre o gênero. Um dos motivos da série ser percebida assim provem do desconhecimento de uma boa parte dos fãs de animes, perspectivas mais sombrias e dramáticas em histórias desse gênero são comuns desde os tempos de series como uta-kata e princess tutu. Mahou shoujo como gênero é bem menos uniforme, e madoka se diferencia muito menos dele, do que um fã com pouca experiência poderia imaginar. Mas não o conceito de madoka ser uma desconstrução, não está baseado apenas no seu tom incomum para esse tipo de história, a série está repleta de comentários, sobre o gênero. Desde aspectos sobre como a ação em tais series é irrealista e demandaria demais do corpo humano, a inocência de imaginar que garotas nessa situação se uniriam devido a presença de inimigos comuns, a presença de morte como uma realidade constante nessa história, para citar só alguns exemplos. Madoka está pegando esses elementos comuns e aplicando o que poderia se dizer de logica mais realista a eles, como forma de comentar sobre a natureza do gênero. O problema é a forma de comentário que madoka está fazendo em relação a eles, basicamente a série está apontando esses diversos aspectos e comentando somente como eles são irrealistas. Mas verossimilhança com a realidade não é, nem nunca deve ser o objetivo de nenhuma história, as garotas nesse tipo de história se unem e poder da amizade sempre prevalece, não por causa de quanto sentido isso faz realisticamente, mas sim por causa que tais elementos fazem parte da mensagem socialmente importante que o gênero tenta passar aos jovens. Ao se substituir esses aspectos por heróis egoístas querendo obter mais realismo, a série está perdendo os temas que realmente dão significado ao gênero e seus diversos elementos. Esse é o problema que eu tenho com a maioria das series que se apresentam como desconstruções, elas são tão apressadas em criticar o gênero, e seus significados como idealistas, mas ao mesmo não constroem nada, nenhum significado como resposta a eles. Estas obras normalmente terminam ainda mais vazias, com um realismo falso. Criar uma obra em que os heróis sempre perdem, se mantem tão clichê e alheio a realidade como as máximas como os heróis sempre perdem. Simplesmente só ligar para um outro extremo, ao cínico ao desespero ao imoral, não faz dessas obras nenhuma verdadeira representação da realidade. Estaria madoka apresentado esses mesmos problemas acima comentados por mim? E a resposta por mais que possa não parecer é não, nisso entra a total genialidade no final de madoka, quando toda a esperança é perdida, a ponto em que até ter esperança se traduziria como falha de caráter, quanto parece que a serie vai se perder em seu próprio cinismo. O último  episódio tem uma reviravolta extraordinária. A esperança é reafirmada por meio de um desejo, a inutilidade de tentar fazer o bem, pois tal devido a entropia levaria a mesma quantidade de mal sendo realizado é contestada, as regras do universo, esse sistema perverso que parecia negar tudo aos indivíduos é em si modificado por um desejo. Madoka em seu último ato reconstrói e reafirma as ideias e elementos que formam o gênero, o idealismo desconstruindo o próprio cenário que a serie levanta, seguindo o formato mais simples possível, O do herói que ao realizar uma escolha e sacrifícios pessoais, escapa e subverte um sistema de controle. O cenário de mahou sujo usual reaparece, e se transforma em resposta ao próprio questionamento da série. Concluindo, se o que madoka está fazendo em uma desconstrução eu não sei (na verdade a maioria das pessoas discutindo não fazem ideia do que o termo desconstrução realmente significa) mas o que madoka ultimamente tem para explorar sobre o gênero é interessante para dizer o mínimo.

Sempre me considerei grande fã da direção de Akiyuki Shinbou, apesar de ser impossível ter certeza, se ele realmente dirige a maioria dos shows que são atribuídos a ele, ou se ele só supervisiona eles. Não importando a qualidade de outros elementos das series que ele dirige, em cada uma delas eu posso dizer que a direção agregou muito a experiência.  O estilo de direção aqui pode não ser tão artístico como algo como o que Kubrick faria, em que a própria direção e uso de simbolismo são usados para fortalecer temas, e fazer pontos complexos sobre o trabalho, a direção sobre o Shinbou sempre se destaca por ser extremamente acessível, e mesmo assim extremamente memorável. Tudo em madoka se esforça para ser visualmente estimulante, em toda a cena, seja pela imaginação e criatividade apresentadas em designs, cenários, mapeamento de locais, no uso da paleta de cores, backgrounds tudo na produção tem uma atenção a detalhe e criatividade que ajudam a manter a serie interessante visualmente. Cada covil de bruxa tem um estilo totalmente diferente de ser representado, e as formas de combate individuais estão entre as mais criativas, que eu já vi não só no gênero, mas em anime. De novo dificilmente esta produção detalhada serve para fortalecer os temas da série, mas o esforço e paixão demonstrados nos diversos setores visuais desse anime são realmente algo que merece ser reconhecido.


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(Tenho quase certeza que isso não é uma imagem do anime)


Um elemento importante que eu gostaria de defender sobre essa serie são os personagens. Claro, madoka não tem os personagens mais complexos e interessantes do mundo, e eu nem sei se teria como ele ter, sendo uma serie de 12 episódios com grande foco narrativo, mas alegar que os personagens de madoka são marionetes vazias para os temas da história, vai além de ser um exagero. Pegue madoka por exemplo, seu jeito de agir e pensar são completamente compreensíveis, sua baixa autoestima devido a ser incapaz de vermérito nas coisas em que ela é capaz de fazer (teria sido ótimo se essa característica do personagem não tivesse que ser repetida 15x), como tal baixa autoestima a leva um altruísmo até perigoso, a levando a querer fazer bem aos outros, mesmo quando tais ações a levam a um prejuízo para si mesma. Sua insegurança e hesitação para fazer o pedido também são perfeitamente compreensíveis, diante das condições quase sem saída, em que ela está sendo obrigada a fazer essa escolha. E essa tendência marca os personagens de madoka, eles têm personalidade simples, mas fáceis de entender e simpatizar, e suas ações são coerentes com as formas em que eles são escritos, e seus ideais. Um personagem que se destaca negativamente por fugir dessa regra é Sakura Kyouko, ela e seu arco durante essa narrativa simplesmente não funcionam. O estabelecimento dela é relativamente ok, primeiro somos apresentados a ela, e logo já são demonstrados por meio de suas ações, sua mentalidade individualista, ao permitir que outros humanos venham a morrer, só para garantir que ela poderá conseguir grief seeds, e por se dispor a roubar a força o território de outra mahou shoujo. Depois nos conhecemos seu passado, o fato de ela inadvertidamente ter causado a destruição de sua família, ao fazer um pedido que ela julgava que ajudaria seu pai, e como esses eventos explicam a mentalidade e ações que ela apresenta hoje. Tudo isso ocorre de forma um pouco apresada, mas estabelece ela bem como uma egoísta narcisista. E o que ocorre depois? Ela simplesmente muda de ideia, depois de uma conversa de 5 minutos com a Sayaka e passa a se importar com ela, a ponto até de sacrificar sua vida por ela. Essa mudança não é simplesmente brusca, ela é pessimamente explicada. Eu entenderia o fato dela poder se identificar com a Sayaka, pois as duas estão sofrendo o choque dessas revelações, que mudam totalmente a forma que eles veem a si mesma, mas disso, a haver essa grande conexão entre elas, que justificaria tais ações existe uma grande diferença. O desenvolvimento da personagem consiste em escrita conveniente, que ignora os aspectos do personagem anteriores, apenas para a progressão da história, que necessita da Homura tendo que enfrentar sozinha a Walpurgis Night. De certa forma ela é muito pior do que a Mami que tem um arco e desenvolvimento mais simplificado, mas ainda assim coerente, devido a sua menor importância da história. Então no geral eu classificaria o elenco apenas como ok, os personagens cumprem seu papel de forma decente e estão longe de merecerem a maioria das críticas voltadas a eles.


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(Essa imagem nao contem 1D com a soma de todos os personagens)


Um dos temas mais prevalentes em madoka como um todo é a dicotomia entre altruísmo e egoísmo. Quais desses dois conceitos devem governar nossas ações, é algo extremamente relevante para a série, tendo cada personagem uma visão própria sobre isso.Sakura Kyouko é o exemplo mais emblemático em relação a isso, o personagem desde sua apresentação é caracterizado por seu grande egoísmo, e por dar pouco valor a ajudar os outros. Essas características provem de seu passado, especialmente da ideia de ser inútil tentar fazer o bem para os outros, pela nossa incapacidade de compreende-los e realmente fazer alcance-lo. A resposta que a serie apresenta é trazer o mesmo questionamento para o próprio egoísmo apresentado por ela, Kyouko por sua própria visão está agindo buscando seu próprio bem, mas como ela não consegue compreender verdadeiramente sua situação, ela se vê incapaz de perceber o que realmente seria bom para ela. No outro lado do espectro nós temos Sayaka sempre agindo para os bens dos outros, sentindo nojo de si mesma ao se imaginar tirando proveito para si própria de sua situação. A personagem devido a perda de seu corpo, passa a definir seu valor apenas em medida de quanto ela pode ser útil para os outros. Esse altruísmo excessivo é a razão de sua queda, ao colocar o valor de sua existência apenas em como você pode ajudar aos outros, quando ela passa a questionar a sociedade que ela está tentando proteger, não resta nada para ela, a não ser entrar em completo desespero. Homura aparenta ser altruísta em suas ações, afinal sua motivação é o amor sentido por ela em relação a madoka, tal amor é essencialmente egoísta. Esse amor busca salvar apenas a Madoka e apenas a ela, não se preocupando com outras pessoas, ou com a situação em si, e sendo por isso incapaz de por si só resolver a situação. O final apresenta a síntese dessas duas ideias, claro o sacrifício da Madoka representa a expressão máxima do altruísmo na serie, mas tal só é possível devido ao egoísmo da Homura. Tanto altruísmo quanto egoísmo é a resposta da série, os dois são importantíssimos para governar nossas ações.


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Outro aspecto notável da são as fontes que ela tira influencia, especialmente de grandes autores literários. Goethe sendo a mais óbvia, madoka levanta vários questionamentos que estão no centro de sua obra mais conhecido fausto, o covil de cada bruxa contendo referências diretas a isso. E não é difícil entender o porquê, as duas focam em seres humanos, tentando realizar obras impossíveis ou quase impossíveis, por meio de atalhos sem fazer o esforço necessário. Nesse processo os personagens nas duas obras perdem sua humanidade e alma, para ver realizados esses desejos. A mensagem dos dois sendo semelhante de cuidado com aquilo que deseja, e kyuubei até lembrando de certa forma o demônio carismático, que apresenta uma perspectiva até compreensível, a qual a audiência pode entender e até simpatizar. H.P. Lovecraft a figura mais influente do terror como gênero literário sendo outra. Gen Urobuchi, está em minha opinião tentando recriar o horror existencial que as obras de Lovecraft contem, a ideia dos incubators sendo estranhamente reminiscente do Cthlhu, essa forma sobrenatural que implica terror nos personagens, esse ser que não dá a mínima importância, ou qualquer valor a figura da humanidade. Talvez a diferença principal seja no jeito como essas duas entidades são tratadas, kyuubei tem objetivos, motivações e métodos explicados na série, em relação a figura de horror nas histórias de Lovecraft tudo sobre elas é mantido em mistério, a mentalidade dessas entidades não pode ser entendida por humanos, e tenta-lo apenas leva o indivíduo a loucura. Teoricamente o fato dessas motivações serem explicadas seriam um ponto positivo para madoka, mas aí é que esta. Os terrores nessas histórias provem dessa incapacidade de compreensão, de haver esse terror incompreensível, o qual você não pode entender ou prever. Dar respostas e desmitificar tal terror apenas o torna menos assustador e ameaçador. Esse é um dos casos, em que a pergunta e o mistério, significam bem mais para a obra do que qualquer resposta ou explicação. Madoka como uma serie de horror existencial simplesmente não funciona, pois não apresenta os elementos que fazem estas funcionarem.


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A qualidade da narrativa em madoka é algo que não pode ser subestimado. Já presenciei essa serie sendo referido como algo com ritmo perfeito, e apesar de não concordar exatamente eu posso entender exatamente o porquê. A estrutura narrativa de madoka funciona perfeitamente,contendo um número excelente de reviravoltas e revelações, espalhados entre si de forma otima. Cada uma dessas reviravoltas e revelações cumprindo função importante na narrativa e no arco dos personagens, ao mudar a percepção que eles têm de si mesmos, e da realidade em que eles estão inseridos. Entre essas revelações a serie nunca esquece de dedicar atenção, a como cada personagem está sendo afetado, como eles reagem aos eventos e realidade constantemente modificada ao redor deles. Esta estrutura de constante revelações e reviravoltas faz de madoka uma das experiências mais viciantes que eu já experimentei em anime. Claro ainda ocorrem certas conveniências, eu sempre vou achar hilário como a Homura está sempre chegando atrasada ou em cima da hora, em diversos momentos da série, mesmo quando ela tem capacidade de se locomover infinitamente mais rápido, que outros personagens. Mas nada disso prejudica muito a lógica interna que a série está querendo criar, ou realmente me tira muito da experiência ao ver esse anime.


Imagem relacionada

(Escrevi isso há quase dois anos, espero estar num nivel melhor hoje em dia)



Resumindo, revendo madoka de certa forma eu ganhei uma apreciação maior pelo anime. Pude compreender melhor o que a série está tentando fazer, aonde a série está querendo chegar com seus conceitos. E no geral em seus diversos aspectos madoka está fazendo um bom trabalho. Mas não acredito que um dia ela vá se tornar algo excepcional nos meus olhos, em boa parte pelos personagens, eu posso não ter grande problemas com eles, mas dizer que eu criei uma grande conexão com taisseria falso, a turbulência emocional de personagens como a Sayaka e a Madoka nunca me afetou como realmente deveria. Mas mesmo assim ao terminar nas duas vezes essa serie, sai satisfeito. Com tudo isso considerado estarei dando a Mahou Shoujo Madoka Magica a nota de 7/10.

For Takver

Ancoms não são anarquistas.

  Marxistas e ancoms todos tem a pior ideia possível, de síntese entre a sociedade civil, e o estado. Tais não são estatistas em um sentido ...