sábado, 10 de outubro de 2020

Ciro Gomes era a melhor opção em 2018?



Em face do desastre do governo Bolsonaro, tem sido uma atitude até bastante comum entre liberais, olhar um governo Ciro Gomes como alternativa preferível, melhor escolha em 2018, ou possivelmente até para novas eleições. Eu sou extremamente cético em relação a essa possibilidade, por razões que tentarei detalhar.

Primeiro existe a questão das óbvias propostas populistas, e sem nenhuma chance de serem colocadas em prática, que o Cirão constantemente defendia. Imaginar que era possível zerar em meio à péssima a situação fiscal da união, os cadastros de restrição de crédito do Brasil todo, é o tipo de ideia pela qual a esquerda é constantemente acusada de terraplanismo econômico. Sim, o estado brasileiro com déficits bilionários, serviços públicos, e situação de contas públicas calamitosas, tinha o dinheiro sim, para investir em um mega programa de financiamento para pessoas físicas. Esse é o típico almoço grátis, grande estímulo ao consumo, endividamento e gastos pessoais, que são clássicos exemplos de um modelo econômico falido.

Bom tirando a brilhante ideia de jogar a austeridade econômica para o escanteio (estamos falando do candidato que mais adorava falar mal da pec do teto de gastos), existem problemas até maiores na visão econômica do Ciro Gomes. Sua visão e defesa do nacional desenvolvimentismo é outro ponto prevalente da retórica política do Cirão. Ou seja, voltar a mesma a formulação fracassada de substituição de importações, e ideias de desenvolvimento do Celso Furtado, que dessa vez sim dariam certo. Tais já eram uma má ideia nos anos 60, pela mesma razão que criar uma barreira tarifária, forçar os consumidores de um local a pagar mais caro por um determinado produto é uma má ideia. Se taxar importações trouxesse esses grandes resultados, talvez estados e municípios devessem erguer barreiras de importação. Logo terão desenvolvimento e indústrias locais de altíssima qualidade nessa lógica. Agora numa economia extremamente globalizada como a atual, aonde as vantagens comparativas dominam, e os fluxos de capital são internacionais, esse discurso é um absurdo. A volta do nacional desenvolvimentismo representa a volta das políticas que deixaram o Brasil pobre, e geraram crescimento baixo, e estagnação por décadas. Então não, a imaginada balança de pagamentos, entre exportações e importações não representa a falência do Brasil. E impedir nossos consumidores, e produtores de buscarem as maiores vantagens, e benefícios no mercado exterior é uma péssima ideia.

Um ponto interessante nos programas de governo do Ciro Gomes, é como tal não critica a questão de investimentos público, controle de preços, ações de estatais, e muitos políticas localizadas. Este apenas diz que as atuações do estado em governos anteriores como o Dilma, foram feitas a partir de bases erradas. Mas ele vai trazer qualificação, critérios técnicos para permitir aos administradores planejarem, e fazerem exatamente as atuações certas na economia.

As propostas do Ciro lembram muito a figura do estado gerencial, uma tecnocracia altamente especializada gerindo a economia, e levando aos resultados certos. Nisso a influência de Kenneth Galbraith é particularmente perceptível. Ciro é o homem criticando, falando dos imensos excessos, e resultados catastróficos, que ocorrem quando se deixa a atividade econômica nas mãos de indivíduos. Ao mesmo tempo que defende como os técnicos, e economistas em Brasília devem atuar, como os grandes gerentes da economia nacional. Nós precisamos de nossos grandes políticos e burocratas guindo a atividade econômica, se não ninguém sabe os terríveis abusos, ineficiências e práticas que empresas atuando seguindo o próprio interesse podem trazer. Ou seja, ele expressa uma crença genial, aonde o que realmente precisamos é dar mais poder para os brilhantes economistas e técnicos em Brasília.

Existem muitos pontos que tornam Ciro Gomes uma escolha completamente inaceitável conforme ideias liberais. Droga ele já argumentou contra programas de metas de inflação, e independência do banco central, tentando levar o Brasil para a década de 60, em termos de política monetária. Eu não quero aqui retratá-lo como a pior escolha do universo, nem discutir se ele seria capaz de pôr em prática muitas de suas promessas. No entanto não são nem superficiais, nem irrelevantes os pontos em que um projeto de governo Ciro Gomes deve ser combatido, pois mistura muitas das piores práticas e ideias da esquerda de 50 anos atrás. E eu espero que o Brasil realmente possa fazer melhor que isso.

( Reação natural do Ciro, quando perguntam fontes, ou as bases de suas afirmações









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