Vamos lá, pois todo mundo gosta de começar a discussão e crítica que eu fiz sobre políticas públicas baseadas em evidencias, distorcendo o que eu sou contra. Primeiro pois essa não é uma crítica a evidencias em si. É obvio que pessoas devem tentar saber, ter acesso aos melhores dados estatísticos, modelos e previsões sobre o impacto de políticas públicas. Esse não é o questionamento que absolutamente ninguém está fazendo.
Todo mundo também adora começar formulando o conceito de políticas públicas baseadas em evidencia, de uma forma que busca responder o que eu estou criticando em parte. Pois a própria questão é que as evidencias, dados e preocupações empíricas, estariam expulsando a discussão política valores e fins que agentes deveriam escolher da discussão sobre políticas públicas. Meu ponto é que a ciência, ou evidencias não tem muito a dizer sobre a escolha de fins, valores éticos, visão de sociedade, e fins que uma pessoa aplicando politicas publicas escolhe e decide aplicar em uma sociedade. O máximo que ramos como evidencias, e a economia podem demonstrar, é como certos meios, e medidas funcionam na pratica, como meios para alcançar esses fins.
Por exemplo um comunista que vê no mercado necessária alienação, e exploração da classe trabalhadora. Explicar para ele os resultados que extinguir relações de mercado trazem para a sociedade como um todo é um não argumento para responder as políticas públicas, e medidas que ele deseja aplicar. Pois aqui temos uma controvérsia sobre os fins, valores que desejamos alcançar com uma determinada medida, não uma controvérsia sobre fatos, e efeitos de políticas públicas. O pessoal baseado em evidencias em enorme medida tende a evitar discussões sobre fins, visões de mundo e princípios que agentes escolhem, como assuntos dogmáticos, os quais não merecem discussão, matéria irracional a qual não é um objeto próprio da política. Essa é a primeira crítica.
Outro ponto de absoluta importância é compreender como as evidencias, e descobertas empíricas não são a realidade. Tais são um método de estudo, forma de olhar eventos, e o que está acontecendo sobre uma determinada perspectiva. Todo cientista ao analisar um evento tem uma perspectiva, interpretação, recorte do real e dos dados, que está tentando apresentar. Nenhum estudo ou evidencias analisam o todo, ou apresentam todas as perspectivas e interpretações possíveis sobre um fenômeno.
Agora o pessoal baseado em evidencias, realiza uma transmutação particularmente interessante, quando se argumenta sobre evidencias, certos estudos e teorias. Pois teorias, evidencias estudos estatísticos e fatos deixam de ser um argumento, parte de uma hipótese e elaboração cientifica, passível de questionamento e duvida e que deve ser interpretada como a resposta de apenas um ramo e área de estudo limitada para o assunto. Tais evidencias, hipóteses e fatos levantados em pesquisa se tornam a realidade, única e inegável verdade sobre os eventos. Logo ao se questionar tais coisas, duvidar de conclusões, pressupostos e pesquisas você se torna um negacionista, não um cético que racionalmente tem dúvidas sobre tal perspectiva, uma visão e pressupostos diferentes para olhar um problema. Negar que as evidencias da política pública são argumentos, interpretações e hipóteses, as quais as precisam ter sua validade comprovada não presumida é um erro comum de nossos especialistas baseados em evidencias.
Basicamente o real problema do pessoal baseado em evidencias é como tais querem limitar discussões, questionamentos a uma discussão de um grupo de especialistas, excluindo demais considerações áreas de estudo e conhecimento humano como irracionais questões que não devem ser discutidas. Tal é um projeto geral aonde certas produções e elaborações são reconhecidas como cientificas e validas, já as demais são não argumentos e não devem ser admitidas. Pelo menos é assim que eu enxergo toda essa questão e crítico.
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