sexta-feira, 28 de maio de 2021

Contra Políticas Públicas baseadas em evidências.

Vamos lá, pois todo mundo gosta de começar a discussão e crítica que eu fiz sobre políticas públicas baseadas em evidencias, distorcendo o que eu sou contra. Primeiro pois essa não é uma crítica a evidencias em si. É obvio que pessoas devem tentar saber, ter acesso aos melhores dados estatísticos, modelos e previsões sobre o impacto de políticas públicas. Esse não é o questionamento que absolutamente ninguém está fazendo.



Todo mundo também adora começar formulando o conceito de políticas públicas baseadas em evidencia, de uma forma que busca responder o que eu estou criticando em parte. Pois a própria questão é que as evidencias, dados e preocupações empíricas, estariam expulsando a discussão política valores e fins que agentes deveriam escolher da discussão sobre políticas públicas. Meu ponto é que a ciência, ou evidencias não tem muito a dizer sobre a escolha de fins, valores éticos, visão de sociedade, e fins que uma pessoa aplicando politicas publicas escolhe e decide aplicar em uma sociedade. O máximo que ramos como evidencias, e a economia podem demonstrar, é como certos meios, e medidas funcionam na pratica, como meios para alcançar esses fins.

Por exemplo um comunista que vê no mercado necessária alienação, e exploração da classe trabalhadora. Explicar para ele os resultados que extinguir relações de mercado trazem para a sociedade como um todo é um não argumento para responder as políticas públicas, e medidas que ele deseja aplicar. Pois aqui temos uma controvérsia sobre os fins, valores que desejamos alcançar com uma determinada medida, não uma controvérsia sobre fatos, e efeitos de políticas públicas. O pessoal baseado em evidencias em enorme medida tende a evitar discussões sobre fins, visões de mundo e princípios que agentes escolhem, como assuntos dogmáticos, os quais não merecem discussão, matéria irracional a qual não é um objeto próprio da política. Essa é a primeira crítica.

Outro ponto de absoluta importância é compreender como as evidencias, e descobertas empíricas não são a realidade. Tais são um método de estudo, forma de olhar eventos, e o que está acontecendo sobre uma determinada perspectiva. Todo cientista ao analisar um evento tem uma perspectiva, interpretação, recorte do real e dos dados, que está tentando apresentar. Nenhum estudo ou evidencias analisam o todo, ou apresentam todas as perspectivas e interpretações possíveis sobre um fenômeno.

Agora o pessoal baseado em evidencias, realiza uma transmutação particularmente interessante, quando se argumenta sobre evidencias, certos estudos e teorias. Pois teorias, evidencias estudos estatísticos e fatos deixam de ser um argumento, parte de uma hipótese e elaboração cientifica, passível de questionamento e duvida e que deve ser interpretada como a resposta de apenas um ramo e área de estudo limitada para o assunto. Tais evidencias, hipóteses e fatos levantados em pesquisa se tornam a realidade, única e inegável verdade sobre os eventos. Logo ao se questionar tais coisas, duvidar de conclusões, pressupostos e pesquisas você se torna um negacionista, não um cético que racionalmente tem dúvidas sobre tal perspectiva, uma visão e pressupostos diferentes para olhar um problema. Negar que as evidencias da política pública são argumentos, interpretações e hipóteses, as quais as precisam ter sua validade comprovada não presumida é um erro comum de nossos especialistas baseados em evidencias.

Basicamente o real problema do pessoal baseado em evidencias é como tais querem limitar discussões, questionamentos a uma discussão de um grupo de especialistas, excluindo demais considerações áreas de estudo e conhecimento humano como irracionais questões que não devem ser discutidas. Tal é um projeto geral aonde certas produções e elaborações são reconhecidas como cientificas e validas, já as demais são não argumentos e não devem ser admitidas. Pelo menos é assim que eu enxergo toda essa questão e crítico.

domingo, 6 de dezembro de 2020

Conservadores e fascistas 2

 



Então eu recebi uma resposta de um ótimo artigo denominado “os conservadores são nazifascistas, pequeno erro, grande resposta”. Apesar de uma intrigante analise sobre alguns fundamentos do conservadorismo, o texto falha em atacar muitos dos pontos que levantei em texto anterior, e não compreendi a fundo, os argumentos da crítica ao conservadorismo que busca responder.

A primeira parte que eu sempre questiono em discussão com a enorme maioria dos conservadores, é a definição, e ideia que relacionam a esse termo. Porque dizer que conservadorismo é uma atitude, forma de ver ou mundo, conservar o que é bom, ou aquilo considerado positivo, é uma distinção que não te permite avançar nem minimamente andar no diálogo. Você está postulando e iniciando um debate a partir da base mais extensa, e possível de ser aplicado a tudo possível. Sim ninguém literalmente se opõe a tentativa de conservar o que dá certo, e funciona na sociedade. Manter tais coisas é quase um consenso que qualquer pessoa racional concorda. Se essa básica definição do conservadorismo como visão geral de mundo for universalizada (que eu acredito ser a ideia), tal não serve para informar, ou distinguir absolutamente nada na política.

O texto também ataca a visão de conservadorismo como imobilismo, famosamente apresentada por Hayek sem entender o real argumento, e razão para pessoas acusarem o conservadorismo de ser unicamente baseado em medo do passado. É inegável que o conservadorismo mudou desde a época de Burke, em cada local ou contexto nos quais uma visão conservadora foi compreendida e interpretada, esta assumiu características diferentes. Mas tais mudanças aconteceram apesar, e de forma contraria ao que os conservadores em cada época defendiam.

O que desejo expressar por isso, é que conservadores se dispõem a sempre defender os valores do presente, ou de 10, ou 20 anos atrás. No entanto atualmente eles sempre atuam para conter o progresso, novidade, os mesmos mecanismos de atuação espontânea, e sem coerção que criaram os próprios costumes, e práticas que o conservador admira.

O imobilismo conservador, não significa como descrito no texto, simplesmente defender os mesmos valores para sempre. Mas sim é marcado por um imobilismo relativo, pois o progresso, forças capazes de causa mudança, e novos rumos hoje são atacadas e recusadas por conservadores. Tais atuam literalmente para manter a sociedade com a imagem, forma, e valores do hoje.

O texto de Lucas Macedo também tem o habito ruim de equacionar filosofia política, com sua pratica, que era o foco do meu artigo. Sim, conservadores no campo teórico se colocam como expressamente como antipopulistas, e eu nunca descreveria o contrário. Agora o que marcou a participação de partidos, e movimentos conservadores na política, sempre foi um imenso populismo, apelo as massas, sentimentos e necessidades mais básicas da população para governar.

Essa caracterização não é exclusiva do conservadorismo aqui, mas a distinção é importante. O ponto em meu texto original busca literalmente demonstrar que o populismo consistiu de uma inovação dentro do movimento conservador em sua manifestação política. Com o crescimento de regimes democráticos, se tornou também necessário a conservadores incluir as massas, sentimentos da população no geral, em uma estratégia de poder. A defesa de direitos sociais em tese contraria ao ideário conservador, também serviu a mesma função conforme estabeleci em meu texto original

A relação que eu fiz do conservadorismo com a retorica e atitude populista é intencional, e deliberada, e pelo menos para mim descreve muito bem a atuação desse grupo na política. Ou pelo menos é que eu vejo, quando os grandes líderes do ocidente contemporâneo são Donald Trump, e Jair Bolsonaro. Grandes exemplos da prudência do movimento.

O argumento para um maior individualismo, valorização da liberdade, e algo extremamente contrário ao moralismo na tradição conservadora, é formulado de forma bizarra no texto. Utilizando como referencias indivíduos como Burke que literalmente formularam suas ideias, exatamente pelos efeitos anti individualistas, e comunitaristas de muito do que ele advogou.

Laissez faire foi pensado na tradição conservadora, exatamente pois era o mecanismo que possibilitava a manutenção da moral, capaz de manter hierarquias, tradições, e costumes da sociedade. Burke era um literal defensor de uma forma organicista de se enxergar a sociedade, aonde ao grupo era possível impor valores, religião, e sexualidade, independente da vontade dos indivíduos.
A diferença fundamental a qual eu estou estabelecendo usando Burke como exemplo, é que ele buscava fins coletivistas, mas achava que liberdade, livre comercio consistiam de meios melhores para a sociedade alcançar tais fins de manutenção moral, e de hierarquias. Eu não conheço nenhum autor dessa tradição conservadora individualista, que considera que os principais problemas e soluções da sociedade são questões individuais. Os pensadores citados principalmente concordam na utilização de meios individualistas para fins coletivistas, e a opinião de tais sobre a moral como possibilidade de criar direitos, e coerção sobre indivíduos é algo confuso. Logo esse texto não apresenta um argumento particularmente bom nesse ponto.

Eu tenho outros problemas com esse texto, mas no geral são esses os meus raciocínios. Tal utiliza uma definição super genérica, e que não avança o diálogo sobre o conservadorismo, mas ao mesmo tempo deseja excluir diversos grupos, e pessoas de serem consideradas conservadora, ou que lhes seja aplicado o termo. Também apresenta as versões mais fracas possíveis de argumentos, e críticas contra o conservadorismo comumente citadas. E o texto para mim representa mais um exemplo de conservadores querendo jogar fora não associar quase nada da experiência histórica, políticos e movimentos sociais que se identificaram, e definiram como conservadores, durante o tempo. Não sei se é coincidência o fato dessa estratégia ser a pratica usual dos socialistas.

(Desculpe pela pouca organização, e clareza do raciocínio)

Link: https://www.osconservadores.com/post/conservadores-s%C3%A3o-nazifascistas-grande-erro-pequena-resposta

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Pela abolição das forças armadas





Um dos maiores problemas que o Brasil enfrenta hoje é uma ilusão coletiva sobre o exército como instituição. Assim ele seria formado por super honestos e competentes indivíduos que realmente precisam dirigir a nação. Droga nos literalmente temos diversos ministros comandados por militares, pois segundo as palavras de nosso grande ex coronel presidente, ordem dada é ordem cumprida, a um militar.

Essa forma de entender o exército precisa ser combatida de todas as formas possíveis. Primeiro que nunca existiu um grupo, ou forma de organização mais ilógica, e absurda que a das forças armadas. Tudo nos meios militares gira ao redor de planejamento central, status e ordem. Seu lugar em um exército é dado por onde você se coloca numa hierarquia, quantos homens você pode comandar. Patentes são rankings que reconhecem sua possibilidade de mandar nos outros. Logo seu mérito é medido pelo número de pessoas que você pode sair comandando em relação a absolutamente tudo. (Forças armadas sempre foram a coisa mais antiliberal do universo)

Note que o exército se organiza exclusivamente como organização centralmente planejada, e comandada por seus líderes. Ordens são absolutas, personalidade, individualidade, ou até desejos de cada um dos integrantes, nada disso importa. A ordem tem que ser imposta de cima para baixo, agindo de forma coercitiva para com todos que estão na organização. Não coincidentemente o exército lembra muito em sua estrutura um estado totalitário. Os focos nas ordens, centralidade dos comandos, e na autoridade dos líderes é o mesmo. Não é à toa que apesar de deficiências crônicas em outros ramos, países totalitários sempre conseguiram organizar forças armadas poderosas. Tais países simplesmente funcionam sobre as bases que são o normal de um exército.

Então nós temos essa estrutura de organização totalmente ilógica, contraria a individualidade, e espontaneidade das pessoas. E nós supostamente acreditamos que essas pessoas sempre acostumados a subordinação, e seguir ordens sem questionar vão nos proteger?

Não existe uma ameaça maior a democracia em qualquer país do que a apresentada por suas próprias forças armadas. Em 1964 não foi para nos proteger de absolutamente nada que o exército brasileiro derrubou a república que havia até então. Foi literalmente feito um golpe de estado para tomar o poder. Se for olhar durante toda a história, a única coisa que permite a manutenção e permanência de projetos de poder totalitários são as forças armadas.
Observem como o glorioso exército venezuelano protege seus cidadãos, mantendo com o uso da força a ditadura de Maduro, ou o exército da Coreia do Norte apoia com unhas e dentes Kim Jong Un. Não se encontra na história uma instituição que tenha feito tanto para reprimir, e afastar o povo do governo quanto o exército. Sinceramente se estes generais e militares são nossa proteção, minha maior preocupação é literalmente: Quem diabos me protege da droga desses militares?

No contexto atual se faz desesperadamente necessário repensar o papel de forças armadas em uma democracia. Nós realmente precisamos de centenas de milhares de pessoas armadas, para nos defender da ameaça inexistente dos argentinos na fronteira, ou dos grandes paraguaios? Quais são esses conflitos e questões importantes que o exército está fazendo que auxiliam o Brasil em seu desenvolvimento?

Porquê da forma como eu compreendo, a única coisa que os militares na atualidade representam são centenas de milhares de armas, e pessoas ociosas. E a qualquer momento tais podem decidir que não querem mais brincar de democracia, instituindo uma nova ordem na base da bala. E peça a Deus para fazer algo nessa situação, já que imagino que apenas ele poderia te proteger de tais pessoas, e máquina de guerra.

(Eu meio que só estou escrevendo isso, porque semana sim, semana não esses caras ameaçam dar um golpe )

sábado, 10 de outubro de 2020

Ciro Gomes era a melhor opção em 2018?



Em face do desastre do governo Bolsonaro, tem sido uma atitude até bastante comum entre liberais, olhar um governo Ciro Gomes como alternativa preferível, melhor escolha em 2018, ou possivelmente até para novas eleições. Eu sou extremamente cético em relação a essa possibilidade, por razões que tentarei detalhar.

Primeiro existe a questão das óbvias propostas populistas, e sem nenhuma chance de serem colocadas em prática, que o Cirão constantemente defendia. Imaginar que era possível zerar em meio à péssima a situação fiscal da união, os cadastros de restrição de crédito do Brasil todo, é o tipo de ideia pela qual a esquerda é constantemente acusada de terraplanismo econômico. Sim, o estado brasileiro com déficits bilionários, serviços públicos, e situação de contas públicas calamitosas, tinha o dinheiro sim, para investir em um mega programa de financiamento para pessoas físicas. Esse é o típico almoço grátis, grande estímulo ao consumo, endividamento e gastos pessoais, que são clássicos exemplos de um modelo econômico falido.

Bom tirando a brilhante ideia de jogar a austeridade econômica para o escanteio (estamos falando do candidato que mais adorava falar mal da pec do teto de gastos), existem problemas até maiores na visão econômica do Ciro Gomes. Sua visão e defesa do nacional desenvolvimentismo é outro ponto prevalente da retórica política do Cirão. Ou seja, voltar a mesma a formulação fracassada de substituição de importações, e ideias de desenvolvimento do Celso Furtado, que dessa vez sim dariam certo. Tais já eram uma má ideia nos anos 60, pela mesma razão que criar uma barreira tarifária, forçar os consumidores de um local a pagar mais caro por um determinado produto é uma má ideia. Se taxar importações trouxesse esses grandes resultados, talvez estados e municípios devessem erguer barreiras de importação. Logo terão desenvolvimento e indústrias locais de altíssima qualidade nessa lógica. Agora numa economia extremamente globalizada como a atual, aonde as vantagens comparativas dominam, e os fluxos de capital são internacionais, esse discurso é um absurdo. A volta do nacional desenvolvimentismo representa a volta das políticas que deixaram o Brasil pobre, e geraram crescimento baixo, e estagnação por décadas. Então não, a imaginada balança de pagamentos, entre exportações e importações não representa a falência do Brasil. E impedir nossos consumidores, e produtores de buscarem as maiores vantagens, e benefícios no mercado exterior é uma péssima ideia.

Um ponto interessante nos programas de governo do Ciro Gomes, é como tal não critica a questão de investimentos público, controle de preços, ações de estatais, e muitos políticas localizadas. Este apenas diz que as atuações do estado em governos anteriores como o Dilma, foram feitas a partir de bases erradas. Mas ele vai trazer qualificação, critérios técnicos para permitir aos administradores planejarem, e fazerem exatamente as atuações certas na economia.

As propostas do Ciro lembram muito a figura do estado gerencial, uma tecnocracia altamente especializada gerindo a economia, e levando aos resultados certos. Nisso a influência de Kenneth Galbraith é particularmente perceptível. Ciro é o homem criticando, falando dos imensos excessos, e resultados catastróficos, que ocorrem quando se deixa a atividade econômica nas mãos de indivíduos. Ao mesmo tempo que defende como os técnicos, e economistas em Brasília devem atuar, como os grandes gerentes da economia nacional. Nós precisamos de nossos grandes políticos e burocratas guindo a atividade econômica, se não ninguém sabe os terríveis abusos, ineficiências e práticas que empresas atuando seguindo o próprio interesse podem trazer. Ou seja, ele expressa uma crença genial, aonde o que realmente precisamos é dar mais poder para os brilhantes economistas e técnicos em Brasília.

Existem muitos pontos que tornam Ciro Gomes uma escolha completamente inaceitável conforme ideias liberais. Droga ele já argumentou contra programas de metas de inflação, e independência do banco central, tentando levar o Brasil para a década de 60, em termos de política monetária. Eu não quero aqui retratá-lo como a pior escolha do universo, nem discutir se ele seria capaz de pôr em prática muitas de suas promessas. No entanto não são nem superficiais, nem irrelevantes os pontos em que um projeto de governo Ciro Gomes deve ser combatido, pois mistura muitas das piores práticas e ideias da esquerda de 50 anos atrás. E eu espero que o Brasil realmente possa fazer melhor que isso.

( Reação natural do Ciro, quando perguntam fontes, ou as bases de suas afirmações









sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Conservadores e fascistas.

 

Então, eu sou forçado de novo a discutir a relação do fascismo com o conservadorismo: https://www.facebook.com/arroyopostagem/photos/a.112355530567848/112379940565407/, https://www.facebook.com/photo?fbid=3029709240442089&set=a.553389238074114.
Apesar dessa não ser a discussão que eu gostaria de ter com os libertários, já que eu tenho muito mais problemas, com a associação do livre mercado, o instrumento que trouxe maior progresso, e transformação para a humanidade, com um suposto conservadorismo assim como com a pauta cultural, e coletivismo da direita, que é de muitas formas incorporada, e seguida por muitas pessoas que teoricamente se admitem libertários.

Mas não, vocês me pediram para discutir fascismo, então vamos lá. Agora é importante esclarecer que primeiro estou descrevendo principalmente a posição conservadora, e a direita, conforme tal era percebida no ancien regime. O regime mercantilista, de proteção de privilégios, posse da terra, garantia de força de trabalho, estrutura de classes, e situações de exploração por meio de força do estado, esse era o primeiro status quo, que conservadores buscaram preservar, em face do desafio liberal, seu discurso de liberdade, igualdade perante a lei, fim do imperialismo, e constantes guerras, assim como as ideias de laissez faire, que eram prevalentes na Europa do século 19. Eu não acho que os conservadores modernos, são radicalmente diferentes, mais individualistas ou libertários que tais figuras do século 19, mas vamos trabalhar com essa distinção por um tempo.  

Assim, se considerarmos, de um lado uma posição e esquerda, liberal do século 19, contrastada com um sistema absolutista, de poder dos monarcas, corporativismo, e participação do estado, e imperialismo, que era favorecido pelos conservadores, espero que minha associação dos conservadores ao nazifascismo faça mais sentido. Um evento importante nessa minha trajetória, se encontra no governo de Bismarck na Alemanha, que para mim demonstra a posição, e políticas que definiriam o conservadorismo, durante o século 20.  

A Alemanha sobre Bismarck, foi marcada por um enorme crescimento do estado, sua atuação sobre a economia, e sociedade. Agora um fenômeno interessante nesse crescimento, é que tal em parte foi direcionado a fins socialistas, direitos sociais, cooptação e incorporação de sindicatos ao estado, controle das classes trabalhadoras. Assim muitos trazem esse governo para uma orbita, e um exemplo do que seriam os exemplos das sociais democracias.

Agora os fins, que essa incorporação do estado sobre a economia tomaram, eram por demais incomuns, se considerarmos as ideias, e elementos principais do ideário socialista Tais faziam parte de um projeto nacionalista, de gloria, e conquista imperial, que Bismarck, e o povo alemão almejava, e veio a se dedicar por meio das conquistas militares no século 20. Ademais tal buscava abertamente, proteger os interesses, poder das elites colocadas, com um sistema corporativista, que dava benefícios as grandes empresas, buscava manter, e proteger exatamente os privilégios da aristocracia, burocratas, e grandes empresários da Alemanha da época.

Eu considero essa contradição, entre o projeto nacionalista de gloria e poder, militarismo, imperialismo, uma glorificação de elites e grandes empresários, e o fato que tais são chamados a participar do governo, com a abertura ao trabalhismo, direitos sociais, uma retorica populista, e apelo as massas, um elemento frequente no discurso conservador. O governo de Bismarck, se tornou em enorme medida um modelo, o qual foi seguido por grupos conservadores no mundo todo. Assim uma trajetória da direita, no século 20, e de muitos grupos que aderiram a um projeto conservador, apenas pode ser compreendido, na forma em que tais apoiaram, em enorme medida tanto as medidas estatistas da direita, quanto da esquerda. Assim foram diversos governos republicanos sobre os Estados Unidos, a Inglaterra sobre Churchill, e tais não podem ser tão simplesmente desvinculados da compreensão do conservadorismo.

Assim a partir do sentido que eu faço esse recorte da experiência conservadora, no século 20, que eu principalmente associo esse movimento ao nazifascismo. Nazismo principalmente se diferencia do comunismo, por principalmente não buscar abolir organizações, fora do estado, mas sim coopta-las como método para realizar seu poder sobre a sociedade. Foi exatamente isso que o nazismo realizou na Alemanha, principalmente abordando a família, propriedade privada, indústria, de modo aumentar o poder do estado sobre indivíduos. Uma análise mais cuidadosa de governos conservadores, observa que tais fizeram a mesma coisa. O estado regulatório, e o corporativismo do governo, não foi particularmente diferenciado do praticado em outros locais, aonde a indústria, iniciativa privada, e livre mercado, foi em enorme medida colocado para cumprir as necessidades do welfare state, e do complexo militar industrial estatal. Esta foi a realidade nos próprios Estados Unidos da América, a terra da liberdade dos conservadores.

Esta não é a única base para essa comparação, já que em sua maioria, os regimes nazifascistas se voltaram a cumprir exatamente o mesmo programa mercantilista, de gloria e poder nacional, imperialismo e dominação militar, que foi primeiramente movido por conservadores. O século 19 foi uma era de imperialismo, conquista militar, escravidão que em enorme medida era defendida por conservadores, na base de mitos de gloria, nacional. Estatismo, a utilização do estado nacional para obter benefícios, e exploração econômica de outros povos e grupos, foi em enorme medida um projeto conservador, que os nazistas apenas ressuscitaram. Da mesma forma que Bismarck tinha feito anteriormente, Mussolini criou direitos trabalhistas sim. Mas tais não eram parte de uma enorme preocupação, abertura ao socialismo desses grupos, mas sim um método para incorporar as massas, classe trabalhadora, e o próprio movimento trabalhista, a suas ideias de conquista e gloria nacional.

Aqui é importante entender uma discussão que o próprio Rothbard já colocou entre os fins conservadores e liberais.  Em termos de fins de grupos políticos, Rothbard elabora que liberais e socialistas, ambos aceitam os fins de maior liberdade, melhores padrões e qualidade de vida para as massas, razão, fim a guerras, possibilidade de coerção e violência. Agora o autor contrasta tais fins, aos dos conservadores, a defesa da religião, do status quo, da sociedade baseada em privilégios, imperialismo e nacionalismo. É interessante, pois em enorme medida, o nazifascismo compartilha os fins, desejo de controle, manutenção da ordem, autoridade, e gloria nacional com conservadores. A diferença principal, se encontra quanto a em que medida os conservadores estão dispostos a se utilizar de coerção, violência para alcançar tais fins.

Bom, esse texto está aleatório, e não indo a lugar nenhum. Mas meus pontos são, o nazifascismo é em enorme medida uma evolução do sistema corporatista, tentativa de formação de um governo para as elites, e que se utilizasse do estado para proteger seus interesses, regime característico de governos conservadores. Em enorme medida o projeto nacionalista, de exaltação a violência, conquista e militarismo, que marcou o nazifascismo é herança dos próprios governos conservadores, que também atuaram exatamente nessa linha. E que a confusa defesa de direitos sociais, cooptação da sociedade, suas organizações e da sociedade civil ao estado, foi um projeto tanto conservador, quanto do fascismo na época. E essa é em grande medida minha base para a comparação.

Algo que é pouquíssimo levado a sério é a extrema ameaça que o coletivismo de direita representa no mundo atual. Da Na medida em que a glorificação ao militarismo e identidade nacional se manifestam, tais representam sérias ameaças a liberdade, que partem costumeiramente de conservadores, e os levam a fazer coro com fascistas, por isso minha recriminação e reclamação constante quanto a tais.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

O problema do cálculo econômico sobre o socialismo.



Uma confusão muito comum na esquerda, se encontra na crença que o socialismo teria dado errado, principalmente pela emergência de regimes totalitários, que teriam pervertido o socialismo, destruindo a democracia. Uma análise mais cuidadosa, demonstra que a aparição de ditaduras, foi mais um sintoma, do que a real causa do fracasso de certos regimes.

Socialistas, ao aceitarem o controle governamental dos meios de produção enfrentam uma contradição inescapável. De um lado tais tinham os fins de maior liberdade, democracia, produtividade, elevação da qualidade de vida das pessoas, particularmente dos mais pobres. No entanto controle governamental dos meios de produção, torna impossível a realização desses fins. Com os meios de produção em posse do governo, não existe um mercado para meios de produção, não existindo um mercado, não existe um sistema de preços, capaz de alocar os meios de produção, conforme oferta e demanda, pelas necessidades das pessoas. O resultado logico aqui é o completo caos econômico.

Encarando a impossibilidade do socialismo em realizar seus próprios fins, a resposta de muitos regimes foi brutal. Os remanescentes da propriedade privada, e muitos dos ideais de liberdade e democracia, levaram a culpa pelas dificuldades que planejadores centrais encontravam em sua tarefa de reorganizar a sociedade. Essa resposta deu origem aos governos totalitários, e calamidades que observamos no socialismo histórico.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

O mito de laissez faire no século 19.

 

Talvez uma das mais interessantes lendas sobre o liberalismo, se encontra na narrativa encontrada tanto na esquerda quanto na direita, que já tivemos algo muito próximo a liberalismo completo, no século 19. Apesar de ser absurdo essa descrição da era em que prevaleceram diversas formas de estatismo, conquista colonial, e militar de amplas partes do mundo, escravidão, e em que inclusive a enorme maioria das pessoas, incluindo mulheres e diversos grupos, eram excluídas da participação política, e econômica. Essa é supostamente a era de ouro do liberalismo.


No entanto não é necessário ser um gênio, para compreender porque é politicamente útil tanto para direita quanto para a esquerda, manter esses mitos sobre o século 19. A esquerda, como nosso famoso garoto Jones Manoel adora fazer, pode descrever o liberalismo como o pior regime do universo, se utilizar dessa era de ouro para condenar completamente essas ideias políticas. Assim justificando o fato que tais precisam ser abandonadas, e destruídas no mundo contemporâneo.


Já a direita, pode se utilizar desse fantasma de um perfeito século 19, que deseja conservar, para com sua retorica de defesa do livre mercado, promover as exatas medidas que vão destruir liberdades, e impedir a realização de uma sociedade livre.


Agora é importante para liberais não caírem nesse jogo, e se imaginarem como os defensores do imperialismo britânico, ou das brilhantes realidades do século 19. Esse é o jogo, e debate que a esquerda deseja travar com vocês, com autores como Domenico Losurdo, enumerando as bilhões de mortes que teriam sido causadas pelo liberalismo. Logo é necessário entender como essa realidade, e passado, está completamente contra tudo que liberais defendem, e precisa ser criticada, e repudiada de todas as formas possíveis.

For Takver

Ancoms não são anarquistas.

  Marxistas e ancoms todos tem a pior ideia possível, de síntese entre a sociedade civil, e o estado. Tais não são estatistas em um sentido ...