quarta-feira, 8 de maio de 2019

O eterno endgame da Marvel




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(Tentando salvar o universo, matando metade dele)



Aqui estou eu analisando o filme que marca o fim (ou um novo começo) do monstro que é o universo cinematográfico Marvel. Não importando o quanto eu queria analisar o filme como Stand Alone (quite complex), não acho que tal análise seria muito útil, pois essa franquia se consiste de um monstro de referências, continuidades, tie ins, formando um universo que muitas vezes é melhor analisado em conjunto. Por isso esse ensaio apresentara alguns dos meus mais gerais problemas com as obras da Marvel, assim como os personagens e aspectos de conclusão desse filme, levando em conta e dialogando com seu contexto maior, ou seja, no geral minha visão sobre os elementos mais importantes, que para mim tornam ultimato, algo melhor que a maioria de seus antecessores.


Começando com a falha federal dessa série (de forma estupidamente resumida, não tenho tempo de dissecar em detalhes minhas ideias e argumentos sobre cada filme que vou falar), que se consiste exatamente de como as obras vinham brincando com nossas expectativas, apresentando narrativas mais com promessas e alusões a consequências e mudanças, enquanto nada de significativo acontece na maioria das vezes. É possível ficar impressionado com alguns dos filmes individualmente, achar eventos narrativos interessantes, e que eles tocam em fenômenos importantes na sociedade atual, no entanto em sua maior parte, tais estão simplesmente levantando ideias, sem desenvolvê-las ou apresentar muito em termos de conclusão. Fazendo assim por meio de grandiosos eventos, reviravoltas épicas, cujos efeitos e circunstâncias mais relevantes, relacionadas aos personagens, serão supostamente importantes, e estudadas a fundo nos próximos capítulos.


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(O winter is coming do MCU, tão decepcionante quanto)



Vistos em separado, os filmes Capitão América 2 e 3, perfazem o microcosmo exemplar dessa tendência. O inicio de o Soldado Invernal é promissor, temos o personagem sendo introduzido as politicas e ambiguidade moral do século XXI, questões como privacidade, o dever de garantir a segurança do cidadão, e ate onde o governo pode ir em busca desse objetivo são demarcados como o tópico e dilema, desde o começo. Somadas a uma possível crítica ao americanismo, que o herói inicialmente representou em sua introdução. O grande twist é exatamente que agora a Shield, essa organização secreta, supersigilosa e poderosa, que estaria movendo os eventos, e que propriamente iniciou a iniciativa Vingadores, agora são os antagonistas, e precisam ser detidos.


A premissa, e o que o filme realmente apresenta, no entanto, são coisas completamente diferentes. Ideias são exploradas por diálogos superficiais, que traduzem o proposito e mensagem, ainda que estes não encontrem peso em eventos e narrativa. Acontece que a Shield (e sempre bom enfatizar, não é nem uma organização norte-americana) é um culto nazista tentando praticar genocídio contra qualquer individuo que possa ser uma ameaça, e que procura submeter à humanidade e governos nacionais pela força, a seu controle. Então lá se vai muita da nuance inicial, e da possível questão moral que esse filme reafirma ser sobre. Existe também uma enorme intriga sobre uma possível quebra de arquivos da Shield, os grandes segredos do grupo foram espalhados para o mundo, e como ela vai reagir ao fato do Capitão América ter frustrado seus planos, e destruído algumas de suas células organizacionais. Spoilers, nada substancial provem disso, os últimos remanescentes da organização são derrotados em 10 minutos em era de Ultron, e nunca mais ouvimos nem falar sobre que mistérios e que arquivos seriam esses.


O mesmo padrão pode ser observado em guerra civil. Novamente temos uma circunstancia gigantesca, uma premissa interessante acompanhada de uma promessa de grandes reviravoltas. Dessa vez uma divisão ideologia causa um conflito irreconciliável entre os Vingadores, que acabam lutando quase até a morte pelo que acreditam correto.  Capitão América e Iron Man, uma vez grandes amigos, agora se engolfam em combate mortal, e a maioria dos heróis viram fugitivos da justiça. De novo temos um final fazendo grandes promessas, assista ao próximo filme em que abordaremos, e estudaremos a fundo as consequências desse evento, como afetam e são importantes para os personagens. Surpreendendo ninguém nada provém disso, é difícil encontrar a relevância desses eventos a partir do momento que Thanos aparece na tela em Guerra Infinita (por favor, não apontem coisas importantíssimas como Tony ter hesitado para fazer uma ligação, ou uma batalha ser em Wakanda como sinais de eu estar errado).


Resumindo meu problema, apesar dos filmes serem bem claros em seus tópicos e ideias que decidem explorar, em sua maioria eles fazem isso por meio de diálogos superficiais, não permitindo que tais tenham sejam refletidas em eventos, ações ou arcos de personagem. Capitão América, o principal dos dois filmes, não tem propriamente um arco aqui, as ideias sendo tratadas não tem paralelo em verdades apreendidas por ele uma mudança dramatizada e profunda em sua perspectiva visão de mundo, que suporte o tema em foco. O problema consiste, de exatamente como fica difícil propriamente afirmar, que os filmes são sobre o que alguns de seus elementos parecem indicar. De um lado temos jornadas de personagens estáticas (não comece a falar sobre a tragédia de caracterização que é o próprio soldado invernal, e como ele é a pessoa com menos personalidade nesse universo, mesmo sendo o foco de 2 filmes), sem grandes consequências, modificações morais, de outro, diálogos, e certo subtexto sobre eventos e ideias importantes no mundo real, que não se complementam bem. A solução para tudo isso?  


Esperar o próximo capitulo, que vai explorar intricadamente como a ruptura de Guerra Civil afetou personagens e o universo, ou o filme que daria ênfase para a Sheild, e as circunstâncias de seu desfazimento. Essa manutenção de uma eterna espera, uma crença de que eventos seriam respondidos, teriam consequências dramáticas e importariam futuramente é até compreensível, observando a natureza do storytelling em algo como o MCU. Isso é, até a chegada de infinity war e ultimato, os quais com certeza não são o momento disso, de simplesmente dizer, isso vai importar no futuro, mas o grande evento e conclusão que a Marvel vinha prometendo há anos.


Quanto a Infinity War só vou pontoar algumas notas breves, não muito relacionadas aos pontos maiores (adoro reclamar desse filme). No geral eu realmente não gosto dele, a ideia de acompanhar 70 heróis em meio a uma narrativa em escalas e nível de conflito altíssimas, apesar de inovadora, é o tipo de ideia absurda que em minha opinião nunca formaria uma boa obra. Tal formula não permite exploração e mínima amplitude de tempo para estabelecer pontos de vista, e heróis foco. Na verdade, 90% deles estão no filme para fazer cameos, ou participar das cenas de ação (e Meu Deus essas parecem durar uma eternidade). Os temas de sacrifício, mais especificamente como tais são importantes, e servem como forma de se avançar seguir em frente, realizar seus objetivos, são bem prevalentes. A superioridade do vilão estaria baseada nele ser capaz de tomar as decisões difíceis, ter a obstinação para não parar em face de qualquer obstáculo. A exploração de tal ideia é estranhamente executada e contraditória durante sua duração. Explicando melhor esse ponto, temos diversas cenas de outros personagens além de nosso antagonista, nas quais eles supostamente tomam a escolha impossível, decidem sacrificar, abrir mão da coisa mais importante para eles em prol de um bem maior (Quill, e Scarlet Witch), mas ao invés de serem recompensados, minimamente avançarem, ou meramente conseguirem qualquer coisa, seus esforços são em vão. De certa forma as perdas nesse filme só importam, ou progridem algo, quando Thanos é a pessoa realizando esses atos. Talvez essa seja uma visão errada sobre os eventos, o filme está realmente usando tais contradições de forma intencional, buscando demonstrar que perdas, nem sempre são a solução ou resposta. O que apesar de significativo, encontra pouco eco no filme como tema, nem exploração suficiente para se contrapor a tese principal sobre este tópico.


Thanos o tão esperado vilão, é francamente desapontador. Claro ele aparece como mais ameaçador que a maioria de seus antecessores (mais por esse filme ter uma enorme pletora de personagens, ou seja, diversos folders, para ele derrotar ou matar), e ele têm um objetivo logicamente compreensível para agir assim (o mais infantil e absurdo possível, mas já é algo). Ainda assim dramaticamente não acho que sua motivação funciona, pois não provem de uma psique desenvolvida, o que ele sentiu quanto aos eventos em sua backstory, como os encarou, uma progressão dramática de personagem, que daria a fundação, e nos faria entender porque ele pensa assim. Nada disso é efetivamente mostrado.  A mesma falha ocorre na tentativa de humanizá-lo com seu relacionamento com Gomorra, nela não existe qualquer peso na relação, não entendemos porque Thanos liga para ela, para nos importarmos com as cenas e circunstancias que dependem dos dois. Assim a cena entre eles é triste porque os escritores dizem que deve ser assim, presumimos a empatia por eles serem pai e filha, e por que o personagem diz como ela é a coisa mais importante. Não organicamente, a partir de eventos, memórias, ou qualquer ato, ou momento efetivamente compartilhado.


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(O melhor vilão da historia do cinema)



Em relação ao crime capital que detalhei anteriormente, este novamente se encontra presente. Por simplesmente terminar o filme com o grande evento, a morte de metade do universo em sua ultima cena, e ao mesmo tempo fazendo promessas sobre como isso vai ser importante, e suas consequências apenas serão apresentadas e estudadas na obra seguinte. Logo o final se consiste exatamente daquilo que o MCU tem feito há 10 anos, e acho desnecessário dizer, apesar do impacto maior dessa vez pela natureza do fato sendo mostrado, em minha opinião, isso foi uma decepção.


Então sem mais delongas, posso finalmente começar a falar sobre Endgame. Logo no começo, o sinal que estamos entrando numa experiência completamente diferente é claro, com sua retomada das ideias de sacrifício e perdas. Agora vivemos num mundo, onde tais conceitos viraram generalizados. Todas as pessoas de certa forma sofreram, vieram a perder parentes, amigos, amantes, as pessoas as quais se importavam e amavam, a destruição numa escala humana, psicológica, e emocional, é incomparável a qualquer outro evento na historia da humanidade. Os 5 anos entre a historia de infinity war, e o efetivo começo desse filme, são provavelmente os piores na vida da maioria dos envolvidos.


No entanto, mesmo nesse mundo pôs apocalíptico, existe uma pluralidade de visões, formas de reagir e encarar a realidade. Capitão América age como se esperaria dele nesses momentos difíceis, se esforçando para inspirar, ajudar os outros, tentando de qualquer forma fazer com que as pessoas olhem o lado bom da situação, criem novas experiências, e superem o que ocorreu.


O próprio personagem faz um paralelo bem esclarecedor entre a situação atual, e sua experiência de vida, ao se ver preso no gelo por décadas. Em decorrência disso, ele já encarou a perda do amor da sua vida, seu melhor amigo, e de todas as pessoas que conhecia e amava, somados com os desafios de se adaptar a uma época completamente diferente. E a capacidade dele de mesmo nessas circunstâncias, observar o que as pessoas desse futuro precisavam do símbolo que ele representa, sempre foi sua característica mais marcante. Ele, sem normalmente pedir nada em troca, é capaz de deixar de lado sua vida anterior, de forma a conseguir ajudar qualquer um que precise, ou seja, a demonstração definitiva do MCU, de heroísmo por altruísmo.


O que é algo lindo, como fonte de inspiração e ideal, só que tudo isso está baseado numa mentira, a qual o personagem se recusa a abandonar. A de que realmente existe uma obrigação em agir assim, colocar o mérito da vida apenas em como se pode beneficiar a sociedade, e observando o interesse dos outros acima do próprio. É bem claro e retratado o aspecto destrutivo nesse pensamento, na forma como ele quase sempre ignora e não age conforme vontades próprias. Apesar de Steve Rogers ser um homem consumido em lamentações, quanto ao fracasso em parar Thanos, e saudades, arrependimentos, quanto à vida que imagina ter perdido, seu amor insubstituível por Peggy Carter, em nenhum momento o herói toma ação buscando mudar qualquer coisa. O amuleto sendo o sinalizador da incapacidade dele em esquecer e deixar o passado, apesar de constantemente aconselhar outros a isso.


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(Na verdade o que esse filme mais me fez perceber, foi quão bons eram os filmes da fase 1)



Mudando para Hawkeye, encontramos uma perspectiva completamente diferente. Se eu fosse descrevê-lo resumidamente, diria que sua caracterização é a do homem comum no meio de seres astronômicos, possuindo um bom senso, equilibrando muitas das ideias mais absurdas deles, dando uma perspectiva mais simples, e mundana. Ele também era um homem gentil, com altos princípios morais, com uma forte conexão e obrigação para com sua família. Só que agora, o herói existe num mundo, aonde essa família e grupo de pessoas que ele amava incondicionalmente, se foram. O senso de perda com essas mortes o quebrou por dentro, o levando a um caminho sombrio, que mostra uma mudança completa de visão e realidade.


Nesse ponto existem certos porens, pela falta de foco ou espaço para realmente desenvolver essa nova ideia, no entanto os aspectos principais estão bem delimitados, e são compreensíveis. A figura do vigilante criminoso é efetivamente evocada, ele se torna um assassino, aplicando, e fazendo a lei com as próprias mãos, e se julga capaz de ter poder de vida ou morte, quanto a cada um que julga fazer errado. Pequenos momentos como a declaração de Eu sou o Thanos para os que restaram na Terra, esclarecem muito. Assim como Thanos é a pessoa que executou metade do universo por seu conceito de correto, Hawkeye se vê na mesma posição. Também, da mesma forma ele quer universalizar a ideia da morte, forçar cada um a experimentar a mesma dor, o desespero, e o vazio ao perder tudo realmente importa, experiências já vivenciadas.


Tudo isso aponta para um claro objetivo em mente, que ao final dessa existência de fúteis assassinatos e violência gratuita, ele encontre a pessoa, que vai acabar com sua vida da mesma forma (de certo modo não muito diferente do que ocorreu com Thanos). Finalmente resumindo a sua espiral autodestrutiva, sua incapacidade de lidar com a perda, e reação violenta ao mundo e seus habitantes, exatamente com a morte que ele julga merecer, pelas escolhas que tomou.


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(Nao esperava esse nível de carga emocional para os dois nesse ponto)



Nesse cenário encontramos novamente o todo poderoso Thor. O uma vez orgulhoso herdeiro de um reino, que sempre gostava de enfatizar como era o mais forte vingador, agora reduzido a uma sombra de seu esplendor, um hikkikomori, obeso tomador de cerveja (relatable). E o estranho é que o completo 180 em termos de personagens, não é nada inesperado, se observarmos os eventos. No curto período entre Thor Ragnarok, e guerra infinita, o cara perdeu a enorme maioria do seu povo, o pai, irmão (or did he?), o lar, e seu reino. Pior ainda, o peso da morte de metade do universo está diretamente sobre as suas mãos, pois era exatamente a pessoa que podia ter feito algo para evita-lo, se apenas tivesse agido no momento certo. Já no próprio Guerra Infinita, somos introduzidos a um Thor com claros elementos de PTSD, em uma das melhores cenas do filme, com voz desgastada e quase sem emoção, ele relata como acabou de perder quase tudo que importava, só restando à morte do Thanos como objetivo de vida.


Não coincidentemente, o filme inicia com o personagem simplesmente pegando esses sentimentos de impotência, frustração, raiva quanto a si mesmo e o que aconteceu, e descontando estes em nosso agora indefeso antagonista, o matando. Os resultados de tal morte são pífios, não há um sentido de satisfação, catarse para o herói, nada é alcançado através disso, e nenhum de seus sentimentos desaparecem, apesar de sua menção como mecanismo de defesa, toda vez que Thor se vê ameaçado.


Os problemas e situações que Thor precisa superar no filme, consistem de um medo e ansiedade exacerbados.  Houve tantos fracassos durante a vida, tantas coisas que ele tentou proteger, vidas e objetivos que ele tomou para si, expectativa dos outros que não foram cumpridas. Ele simplesmente perdeu tanto durante o caminho, tendo falhado, com sua família, seu reino, e o povo da Terra que admira e tentou proteger. Foram vários sacrifícios realizados nessa jornada, coisas que ele se dispôs a perder, esforços quase sobre-humanos realizados, e os resultados que se viu alcançando foram desprezíveis. A conclusão alcançada foi óbvia, o problema sou eu, minha existência e pessoa consistem de fracassos em todos os momentos, quanto a todas as coisas que eu me dispus a fazer, e o que esperavam de mim. Não há qualquer razão em tentar, buscar algo novo, se esforçar, pois na realidade a questão se resume a uma incapacidade pessoal minha de alcançar qualquer coisa. A única coisa que posso fazer é me isolar do mundo, tentando causar o menor dano possível, e tentar aliviar a dor, escapando da realidade.


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 (eu amo demais o novo Thor)



Se eu pudesse descrever o arco de Thor, sua característica mais marcante sempre foi o aspecto de autoconhecimento. Em seus diversos filmes, há uma tentativa de estudar o que é o núcleo do personagem, se são seus poderes, seu reino, sua linhagem, seu martelo que o tornam, quem ele é. Endgame marca um abismo nesse caminho, aonde o que o definiria é o fracasso, as grandes decepções.  Um questionamento sobre o próprio propósito de tentar viver as razoes para buscar algo, ou se a realidade seria na verdade um ciclo inevitável de dor, perda, desilusão e insucessos.


Black Widow também tem uma ideia única sobre a situação, em sua recusa emocional por estar completamente absorvida em seu trabalho, colocando como sua responsabilidade tomar conta do mundo e de seus problemas, ela evita pensar no que aconteceu, ou na circunstancia maior. Tudo isso através da criação de problemas aonde eles não existem (um terremoto no meio de oceano) e desperdiçando tempo e energia nestes. Mas acho que é possível compreender o ponto, cada um dos vingadores traz uma nova perspectiva para a situação, lidando com perdas e a realidade, permitindo a troca e justaposição de ideias sobre um mesmo evento. Por inserir o tema diretamente nas vidas dos personagens, a união entre temática e caracterização é excelente, diversos momentos servindo mais de uma função específica.

Mas o filme não para aí em sua inteligente exploração de suas ideias, mas em minha opinião a própria natureza e reação desses personagens é a resposta do filme a moralidade e tese apresentada por nosso antagonista. Thanos via sacrifício como algo positivo, uma fonte de força e caráter, que possibilitaria às pessoas a avançar e criar um futuro. Mostrando em suas ações uma crença inevitável, de que as pessoas simplesmente iriam superar o que ocorreu, seus atos seriam para um bem maior, possibilitando às pessoas e ao universo inteiro acharem um equilíbrio, que consequentemente levaria a novas vidas e possibilidades incontáveis. E efetivamente alguns enxergaram essas chances, cresceram a partir do evento, Stark finalmente supera suas inseguranças pessoais e forma uma família, Hulk/Banner crescem como pessoas, ao descobrirem as limitações de sua divisão, e que podem trabalhar melhor juntos.


Mas nem todas conseguem, podem ou deveriam ter que agir dessa forma. Thor e Hawkeye, por exemplo, acabaram no pior lado da situação, com perdas e sacrifícios que os impediram de minimamente funcionar. E aqui está a ironia na própria noção de justiça do Thanos, em sua busca de uma perfeita imparcialidade, querer decidir arbitrariamente sem razão ou preconceitos pessoais, quase o 50/50% do jogar de uma moeda, quem vive e quem morre. Exatamente nesse ideal está o problema. Pois ao agir imparcialmente, universalizando a dor, sofrimento e sacrifício que cada um vai receber, ele ignora, as características e situações individuais de cada um. Ou seja, que Thor simplesmente tinha acabado de perder a maioria das coisas importantes para ele, tendo que novamente passar por um extermínio de seu povo, ou que para Hawkeye, a vida das pessoas que ele escolheu matar era tudo, deixando sua sobrevivência completamente sem significado. O que em troca os tornaria completamente incapazes, de sequer pensar em seguir com a vida, muito menos crescer em decorrência do evento.


Claramente não há nada de justo nos atos do thanos, que consistem em não levar em conta a individualidade, e em troca oferecendo um ideal vazio de igualdade, ou justificando isso com um bem maior e equilíbrio arbitrário, que apenas ele seria capaz de definir. O problema não está na importância que ele coloca em sacrifícios, superar o passado para criar um futuro, e que pessoas tem que estar preparadas para tomar decisões difíceis, esses são valores apreciáveis. Mas sim no fato que ele se julga capaz de escolher para todo universo, o merecedor de efetivamente julgar pelas pessoas, o que vão efetivamente sacrificar, o que deve importar ou não, ignorando desejos, vontades, ou qualquer discordância. Aí nessa presunção, e status quase divino que o personagem se coloca, está o problema.


Uma comparação sobre como Endgame, e Infinity War, rendem cenas com um objetivo similar, encapsula o diferente tratamento da ideia nos dois filmes. De um lado temos o sacrifício de Gomorra para Thanos obter a pedra da alma. Apesar dessa cena ser dramaticamente nula, o tom dado aos eventos é fascinante. Aqui temos uma visão extremamente heroica do ato de nosso vilão, a tensão entre os dois é palpável, sua abnegação e perda pessoal são glorificadas durante toda a cena, enquanto Gomorra tentava resistir. O fato exalta esse enorme esforço emocional, um homem obstinado e em intenso sofrimento, descartando a pessoa que mais importa para ele, pois é o que precisa ser feito, e julga correto. Sua icônica resposta ficando marcada, ao dizer que isso ter-lhe-ia custado tudo.


Do outro temos ultimato refazendo a mesma cena. E nesse filme a situação é uma confusão de personagens discutindo, correndo e brigando entre si, Hawkeye e Black Widow lutam, cada um tentando se matar primeiro para salvar o outro. Também inicialmente não parece haver nada em jogo, ou a se perder nessa cena, pois a manopla supostamente poderia trazer o indivíduo de volta, sendo muito diferente no caso do Thanos. A troca de palavras é algo feio, com motivações e desejos de personagem sendo jogados, e criando conflitos, em algo que é quase absurdo quando se para pra pensar. Realmente a grande morte de uma das primeiras personagens desse universo, é dramatizada em uma cena dela tentando se jogar primeiro de um precipício.


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(Ótima utilização do motivo familiar em vários momentos)



Mas desse embate, existe algo de muito mais valor no sacrifício sendo realizado, que a super dramatizada ação do Thanos. Pois ele se consiste de 2 pessoas, que aceitaram seu papel fizeram a escolha de estar ali conhecendo dos riscos, que a consequência para se conseguir a pedra é a própria vida, e ainda assim se apresentam para a posição, não impondo ela a ninguém. Uma atenção a esse tipo de ato, no direito dos personagens escolherem suas batalhas, o que vão perder ou ganhar, e o futuro que querem alcançar, essa é uma ideias principais no filme.


A própria conclusão dos personagens reafirma essa ideia, seus ideais e reações únicas importam, e eles tem o poder e capacidade para tomar as decisões, que formaram o futuro, a realidade, e a versão de si mesmos que querem ser, apesar de qualquer alegação de inevitabilidade, ou a suposta superioridade do Thanos.  


Aqui se encontra a derrota ideológica de Thanos, em sua incapacidade de permitir e observar a individualidade, seu desejo de colocar o universo inteiro numa balança. Por isso apesar de sua crença no equilíbrio, na inevitabilidade do universo que criou, e que as pessoas superariam o que aconteceu, todos se voltam contra ele, tentando recuperar o passado roubado.


Outro aspecto primordial nesse filme é como a obra está plenamente ciente de seu papel de conclusão para uma grande sequência de filmes e historias anteriores, tendo temas de tempo, efeitos de sua passagem, e mudança como alguns de seus principais. Logo no início temos um timeskip de 5 anos, onde personagens, relações e a situação do mundo passam por radicais modificações.


O traço mais óbvio é a inclusão de uma literal máquina do tempo, um conceito que busca comentar diretamente contra a necessidade de aceitar consequências e o passado, que compõem a filosofia do antagonista. Claro além de comentar sobre a inevitabilidade, e possibilidade de escolha, as possibilidades que tal artifício cria vão muito, além disso. Apesar da teoria principal nesse quesito, é que essa consistiria de uma análise do legado da franquia, não vejo esse ponto sendo minimamente retomado no filme em si. Mas como uma forma de personagens realizarem uma introspecção, um entendimento melhor do passado, e suas inúmeras mudanças, a situação ganha significado.


O que capitão América encontrou no passado, com certeza causou forte impressão. Pois o homem que está lá é quase literalmente idêntico, ainda guardando uma foto, lembrança de relação amorosa, e a mera menção do nome de seu melhor amigo, como mais importantes que o presente e a situação. O herói por altruísmo está se forçando a mesma atitude há anos, e o peso desse período começa a aparecer no personagem em diversos momentos.


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(Best boy do MCU, a direita na imagem)



Thor se encontra em meio a uma jornada pessoal, em sua volta a asgard. Esta permite reviver um passado idealizado, aonde ele era o filho orgulhoso de um reino, e todas as pessoas que ama e se importa estão vivas e bem. Mais importante, esse cenário permite o retorno do filho que se imagina um fracasso para com tudo e todos, e a reencontrar a mulher mais importante de sua vida.


Esse encontro desenvolve várias facetas dele. Para começar desconstrói sua visão do passado. Acontece que as vontades e desejos de seus pais eram diferentes do imaginava, não existia esse intenso desejo para que ele se tornasse um glorioso rei, e ao invés de confrontado com decepção e negação, achou acolhimento e compreensão nas pessoas que mais amava.


Também permite um maior questionamento por parte do personagem, em sua jornada de autoconhecimento, pela primeira vez, seu dever para com seu povo, o destino e real vocação que ele teria são fatos passíveis de dúvida. Duvidas que ao final, o levam a abandonar a posição a qual não se sente preparado, de liderar os asgardianos. Concluindo exatamente com a decisão de superar laços, memórias que apenas o travavam, partindo para um mundo novo, junto aos guardiões da galáxia, um pequeno homem em busca de seu espaço e eu, junto à vastidão do espaço.


Mais imediatamente, o diálogo possibilita a Thor uma recontextualização de si mesmo, e dos eventos pelo qual passou. Claro nada pode ter saído como planejado, erros e insucessos permearam vários pontos da jornada, mas essas não são razões para se deixar ser definido por eles, simplesmente desistir e não tentar. Pois enquanto ele for fiel a seus desejos, ter a capacidade de ser autêntico, se esforçar, e buscar mudar as coisas, não há como dizer que tipo de fracasso admirável ele poderá vir a se tornar. Assim já devidamente equipado para lidar com seus medos, vemos um Thor ansioso para se provar, e que exerce função primordial no clímax do filme.


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 (Esse novo visual é tao fantastico)



Este é o momento ideal para uma discussão do homem do filme, o Homem de Ferro. Por questão de consistência, defino o personagem nos termos de suas características mais marcantes, seu enorme egocentrismo, eterno desejo de aparecer, quase sempre agindo conforme o próprio interesse, muitas vezes indo contra ordens, autoridades e com uma personalidade difícil de lidar para a maioria das pessoas a sua volta. Esse elemento se apresenta mais especificamente, em uma vontade de obter controle sobre tudo e todos. Isso pode ser visto em inúmeras instâncias, ao tentar “privatizar a paz mundial”, criar um sistema de defesa perfeito na figura de Ultron, com o qual ele supostamente poderia proteger o mundo inteiro, ou em sua tentativa de colocar os Vingadores sobre sua direta supervisão e controle em Guerra Civil. Todas essas ocasiões apontam uma necessidade de estar no poder, influenciar e prever eventos. De uma forma o personagem sempre foi o ideológico oposto, e contraparte ao Capitão América, realizando heroísmo por egoísmo.


Dessa vez, Endgame volta às origens remotas do personagem, permitindo o encontro de Tony com seu pai, semanas antes dele ter nascido. Existe uma reconciliação metafórica em jogo, Tony finalmente pode dialogar sem barreiras com esse homem como desconhecido, perceber que compartilha muitos dos problemas e características, do egocentrismo exagerado, e da dificuldade em conciliar família e trabalho. Terminando num ato de perdão, que ao mesmo tempo em que reconhece os erros, é capaz de ver valor, e apreciar os momentos que eles passaram juntos.


Mas talvez a maior revelação, seja a enorme contradição que seu pai apresenta. Ele pode se consistir de uma pessoa egocêntrica, que passou a vida negligenciando o filho e esposa, no entanto no fundo realmente acredita que está fazendo tudo pelo Tony, e que não pararia em qualquer obstáculo para ajudá-lo, só não é realmente capaz de transmitir, mostrar esse desejo. Essas palavras ecoam o próprio início do filme, aonde Tony proclama que sempre agiu pela Pepper, e está sempre pensando nela, e a enorme decisão que vai tomar.


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A ideia de como o passado vem a afetar as pessoas é bem prevalente. Um senso de nostalgia, que o que aconteceu era melhor que a atualidade, marca diversas cenas, em face da situação catastrófica do mundo. Endgame também estuda pelos personagens, fatos, relações únicas, e os momentos mais importantes formadores de suas personalidades. Tudo isso para enfatizar a ideia da jornada até aqui, uma última visão do mundo que vem sendo construída pela franquia há décadas, a última possibilidade de apresentar a fundo suas mudanças e transformações. Dar esse senso é essencial, na medida em que a existência e relevâncias de algumas das pessoas principais que formaram esse universo estão prestes a acabar.


Fanservice como conceito é algo que sempre tive dificuldade de lidar, apropriadamente definir e aplicar quando discutindo ficção. Supostamente seria qualquer coisa que está na obra, sem qualquer propósito narrativo ou temático, estando lá só para a apreciação dos fãs. Disso, daria para colocar que diversos tipos de humor, cenas de ação, ou referências, só funcionam num nível de meta de conhecimento dos fãs, logo seriam fanservice. E já quero começar esclarecendo, não acho que esse filme contenha cenas que seriam expressamente fanservice. Claro pegar ideias como uma máquina do tempo, e mostrar imagens e momentos de obras anteriores da franquia, e rotulá-las com esse título, é algo até compreensível. No entanto como já argumentei extensamente anteriormente há claros propósitos, na retomada e viagem no tempo utilizada.


Endgame tem uma relação conturbada com os fãs do universo. Ao mesmo tempo em que contém diversas referências, throwbacks, e até repassando vários momentos icônicos da franquia, esses estão no contexto do filme que vai acabar com tudo isso. Esse universo, que os fãs adoram, seus personagens favoritos, muitas das propostas e ideias que levaram o MCU, a ser esse gigante, encontraram seu fim, aqui. E nesse aparente conflito está um questionamento implícito para a própria fanbase.


O que os fãs realmente querem é uma questão importante. Seria uma eterna recorrência, a utilização dos mesmos personagens, das histórias e modelos já conhecidos, dos temas e ideias já exploradas (que é o que discutivelmente, eles mais fazem). Será que os personagens nunca irão encontrar conclusão para seus arcos dramáticos, e que a franquia deveria ficar numa estase de repetir seus maiores momentos. Da mesma forma que as pessoas no filme, a audiência está sendo chamada, questionada pelos ideais do Thanos, intimada sobre a necessidade de sacrificar, abrir mão de certas coisas, elementos, e heróis que já cumpriram seu papel. Num desafio de aceitar experiências novas, criar relações, caminhos, um lugar para uma severa reimaginação do universo. E principalmente, para apreciar a finalidade, sua importância, mesmo no meio de muitas coisas que eles vieram a amar. Ultimato nos convida para um arco, para avaliar nossa própria necessidade de mudança.


Quanto a grande batalha no final do filme, tenho muito pouco a dizer. Acho que certos momentos como portais se abrindo, e certo cara usando um martelo são hype demais, para até eu ter a coragem de contar spoilers. Gosto como filme é contido em relação a cenas de ação as concentrando numa extremamente satisfatória batalha na conclusão. Acho que a própria construção do filme, fazendo do primeiro ato um inferno completo, cheio de sofrimento, perda, e superação, tornam as cenas épicas ao final, muito mais merecidas e divertidas.


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 (Ainda não tenho certeza do porque no foco nela, além de como plot device)



Continuando para a maior cena da obra, temos a morte de Tony Stark. Esse é o momento que faria ou quebraria o filme para muita gente (não para mim) se tivéssemos um filme excepcional, mas com um fim decepcionante para o herói, ele ainda contaria como decepção considerando as enormes expectativas. E posso felizmente dizer, que é um acontecimento bem executado. Nesses instantes Tony lida com sua mortalidade, a incerteza com os resultados (pois sua tentativa de controlar o que vai acontecer, fracassa quando conversa com o doutor Estranho). Aqui o personagem apreende a abrir mão, abandonar seus intensos desejos de dominar a situação, prever e controlar cada possível alternativa. Não há outro caminho só o sacrifício, e além dele e da morte, não existe nada que Tony possa fazer, pelas pessoas que ama, e pelo mundo.


Morrer pelo bem do universo, apesar de contrário ao princípio do heroísmo egoísta que o marca, demonstra bem a contradição no núcleo do Homem de Ferro. Da mesma forma que é um narcisista, egocêntrico, no fundo ele acredita e muitas vezes está unicamente agindo pelos outros, Suas palavras de sempre estar agindo e pensando na Pepper, o amor e vontade de fazer de tudo pela sua família, e para sua filha jovem, tudo isso pesa nesse momento, em que realiza o definitivo ato de sacrifício, terminando com sua própria morte, a destruição de Thanos e seu exército. Em sua conclusão dando a noção perfeita do herói que marcou esse universo, sua capacidade de amar, e desejo de proteger aqueles que ama, se erguendo triunfantes sobre seu enorme sucesso, mesmo que a custo da própria vida.


O paralelo com o Capitão América é bem claro se analisarmos o final. Um dos primeiros momentos de Tony, e Steve, é marcado exatamente por essa dificuldade de aceitar o escudo, hesitando em se tornar o símbolo de justiça, e esperança que marcam o personagem. Essa frustração com seu papel finalmente é solucionada por meio da máquina do tempo, que permite ao herói voltar ao passado, recuperar a vida que sempre considerava perdida, rever as pessoas, e o amor pelo qual seu coração sempre ansiava. Ao se permitir ter essa experiência, deixar seu dever, e necessidade de sempre agir pelo bem dos outros, ele abre a possibilidade de conhecer a verdadeira felicidade, e escolhe o mundo e vida que realmente quer ter. Ao final, encerrando a vida em plenitude, a qual sempre sonhou, Steve Rogers reaparece no presente. Um homem satisfeito, que tirou o máximo de sua existência, e está pronto para passar seu escudo, o símbolo em que acredita, a um jovem e amigo que simboliza muito de seus ideais. No último ato do Capitão América, este acha o significado no heroísmo egoísta, se tornando alguém capaz de proteger a própria felicidade.


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Durante o filme, acho importante ter uma mente aberta para suas inúmeras falhas. A estrutura é francamente bizarra, o primeiro ato parecendo iniciar uma dúzia de vezes, com vários eventos sem muita relação ou progressão, que fazem apenas mais sentido em retrospectiva. Sinceramente demora até ser possível ter certeza, qual vai ser a premissa de Endgame. Thanos tem um papel meio contraditório com sua presença em Infinity War, rapidamente abandonando o objetivo, o qual sua enorme obstinação em perseguir era tão elogiada anteriormente, e tem pouquíssima presença em tela (Lamentei pra caramba isso). A viagem no tempo é confusa, e se contradiz em diversos momentos. A falta de perigo (my stakes) ou ter muito em jogo, em termos de chances de morte ou fracasso, é algo bem presente, pois até tentativas de fazer parecer com que os personagens só têm uma chance de sucesso pela falta de partículas, são desculpas bem transparentes, e acabam sendo abandonadas durante a própria duração.


No entanto, dizer que qualquer um desses defeitos prejudicam particularmente o filme seria um exagero. Essa narrativa e situações têm muito mais em jogo que qualquer momento de infinity war, pois nessa obra entendemos exatamente como os heróis foram pesadamente afetados, vem a se importar pessoalmente com as circunstâncias, e como o fracasso e a realidade que habitam representam um verdadeiro inferno. Assim o risco e possibilidade de insucesso, apesar de não logicamente fazerem sentido, tem um sentido emocional, os proxies da audiência, os personagens, demonstram e dramatizam exatamente o que tem a perder no meio da história, e é por meio deles que iremos entender, e vivenciar o perigo, perda e sacrifício. A importância, o medo, a frustração, que eles sentem, essas dão o sentido, e significado dos eventos na obra.


Talvez o elemento que esteve sempre faltando no MCU, foi exatamente que um filme entregasse no aqui e agora.  Não algo focado em como todos fazem parte de uma grande narrativa e prometendo eventos para o futuro, mas sim que contasse uma conclusiva e satisfatória história própria. Algo que realmente tivesse uma ideia de consequência e gravidade mostrasse efeitos da jornada, e dos acontecimentos, como eles profundamente vêm a modelar nossos heróis e seu universo. Sempre quis algo que desse propósito, significado, e representasse uma conclusão dos arcos dramáticos, que vem sido construídas há 10 anos, pela Marvel.


E longe de Vingadores Ultimato ser a perfeita conclusão, encapsulando tudo nos filmes anteriores, mas foi emocionalmente satisfatório, e entregou muito do desenvolvimento e efeitos maiores que outras entradas no universo apenas prometiam. Não obstante suas falhas, a obra tem a coragem de deixar algumas dessas figuras irem, heróis lendários, ícones da cultura pop, cujos próprios nomes e atores, atraem multidões aos cinemas. Contando essa história enfatizando exatamente o fim como parte da jornada, que exatamente esses finais, términos de arcos, desenvolvimento e histórias, são essenciais para essas pessoas, e o significado de suas narrativas. Independente de quão ruins alguns dos filmes individuais sejam, ou até certos momentos no próprio Endgame, fiquei feliz ao ver tantos elementos concluídos, e em retrospecto com a evolução e caminho percorrido para chegar nesse ponto. E acho que isso é tudo que realmente poderia pedir nesse momento.

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(Muito obrigado por lerem, ou não, sei que isso acabou longo demais)


domingo, 17 de fevereiro de 2019

Neon genesis evangelion, analises, e o Meteoro Brasil


Poucas pessoas sabem um pequeno fato sobre mim, mas na verdade eu adoro desnecessariamente longas e enroladas introduções em analises, especialmente quando elas não dizem absolutamente sobre a obra. Quando eu vejo um parágrafo introdutório começando com uma leitura de sinopse (em vídeos que só fazem sentido pra pessoas que já viram a série), ou com inusitados fatos desconhecidos como Star Wars ser uma franquia extremamente popular e influente (sim isso realmente é o começo de um vídeo), já fico até aliviado por saber que o autor não tem qualquer escrúpulo de fazer perder meu tempo. Esse texto será uma análise do canal do youtube, o qual jamais praticou nada do que eu disse acima, o Meteoro Brasil, com enfoque no vídeo Neon Genesis Evangelion [ especial #Meteoro, usando suplementarmente outros vídeos com o ponto de exemplificar aspectos sendo abordados. Para já tirar do caminho uma observação irritante, essa crítica não tem qualquer viés político ou ideológico, apesar da mudança de conteúdo produzido por este, voltado a tópicos mais polêmicos do contexto brasileiro, esse ensaio não tratara destes, nem eu estou particularmente interessado com esses fatos.  Meu interesse e proposito de analise, são as atividades de interpretação e critica ficcional ocasionalmente desenvolvidas pelo canal, as quais a partir de agora serão discutidas.


(Advinhe meu exemplo favorito para alguém que não entendeu Evangelion)


Começando com um pequeno ponto do vídeo, consistindo mais de uma questão generalizada, do que algo típico da crítica do canal, está a presença de observações superficiais sobre a obra, as quais não agregam muito ao vídeo.  Observar como tais se apresentariam numa review genéricas é muito simples, pegue qualquer momento de uma review, no qual se começa a descrever abstratamente a obra com adjetivos que explicam suas supostas qualidades, dizendo que os personagens são bem desenvolvidos, a arte é bonita, ou o drama é bom, por exemplo. Note que a discussão fica apenas nesse nível de superfície, em nenhum momento o reviewer está elaborando, o que seria bom no desenvolvimento dos personagens, o que seria particularmente bonito na arte. Tais afirmações também estão em completo vácuo, não se relacionam com nada mais do que está escrito, ou com qualquer proposito que o trabalho estaria desenvolvendo. A arte ser bonita não é ligada a qualquer mensagem, efeito pretendido, ou outro elemento da obra, parecendo existir num vácuo em relação ao trabalho em si. Em tais instancias, longe de mim julgar baseado em minha concordância ou não com a opinião da pessoa, o problema está mais em como é impossível exatamente saber o que o indivíduo quer dizer, que aspectos dos personagens merecem esse elogio, aonde isso se aplica, é só referente aos principais ou os secundários também são particularmente sólidos e sujeitos a lembrança? Fico sem saber como tomar ou minimamente entender essas afirmações, as quais não estabeleçam minimamente do que se consistiram, as ditas qualidades existentes na obra, e muito menos com uma noção de quais são os critérios e métricas, praticadas pelo crítico, como a pessoa racionaliza e entende caracterização, roteiro, lógica interna. Simplesmente não há como devidamente contextualizar, ou tirar muito de valor, desse tipo de atitude. Meteoro exemplifica isso com falas como descrever a estrutura de evangelion como episódica, pois ao invés de tentar se aprofundar aí, mencionar algum proposito maior desse aspecto, tempo de interação dos personagens, e desenvolvimento de circunstancias, simplesmente para na descrição rasa.


Mas o maior exemplo disso são os extensos 30 segundos gastos detalhando a arte de Evangelion, nele alguns adjetivos o qual supostamente demonstrariam qualidades são jogados, atenção a detalhe, realismo, praticidade de cada design, No entanto a complementação disso se encontra completamente ausente, não sabemos o que eles significam, que elementos da arte de EVA descrevem, o que seria super realista, bem pensado, ou pratico na arte (os designs dos anjos com seu surrealismo são meio que a antítese de praticidade). Aonde está a suposta atenção a detalhes, quais designs ou elementos do mundo, dos robôs e dos equipamentos seriam a demonstração disso, são impossíveis de precisar (a menos que ter imagens do anime genericamente tocando, seja toda a atividade necessária de exemplificação). Note como esse trecho está estranhamente estruturado no vídeo, no meio de introdução e detalhamento do personagem do Shinji, e não complementa nem se conecta com nenhum dos dois. Na verdade, essas alegações desconjuntadas não têm relação com nada mais que o vídeo apresenta, nenhuma opinião sobre tais elementos, será em qualquer momento retomada. Simplesmente não mencionar a arte, quando você não tem nada de muito interessante para falar sobre esse aspecto, nem nenhum interesse de minimamente elaborar o tópico, representam a forma mais simples de melhorar a qualidade do vídeo em questão (ou de qualquer vídeo).


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(Eva segurando meu coração, e Shinji segurando o seu, em suas mãos)


Como parte da comunidade otaku, eu já aprendi a máxima que não se faz um texto sobre Evangelion sem a clássica discussão sobre se tal consiste ou não de uma evolução (desconstrução) do gênero mecha. E garantido o Meteoro tem sua própria contribuição para o tópico, que na minha visão, só pode ser interpretada, como caso da clássica arte de discutir gêneros ficcionais, sem ter o mínimo de experiência ou contexto quanto ao que está em discussão. Porque apesar de comum, e repetida ad nauseam, a ideia que o Shinji marcaria uma grande virada na forma como os personagens se apresentariam nesse tipo de história, não condiz com a realidade. A ideia de ser um piloto de robô gigante com a função de arriscar a vida salvando as pessoas, e o indivíduo reagindo a essas circunstancias com medo insegurança, tentando fugir e evitar essa situação, não descreve de forma alguma apenas o Shinji. Não é preciso olhar além de Mobile Suit Gundam, o anime mais famoso dos anos 70, o qual teoricamente estabeleceu a formula que Evangelion estaria inovando para perceber a falácia. Pois tudo que eu expliquei acima se aplica a Amuro Ray, seu protagonista, ele reage a seu novo status com tanto pavor, que é agredido fisicamente com um tapa na cara, e forçado a pilotar, logo no primeiro episódio. O realismo na reação do personagem já estava presente, assim como a complexidade de suas emoções e conflitos internos, Amuro também sofre um histórico de abandono por parte de seu pai, o qual o torna socialmente isolado, dificultando na formação de relacionamentos, apresenta intensos questionamentos sobre seu papel na guerra, a atividade de constantemente tirar a vida de outras pessoas, e até quanto ao valor de sua própria existência. A afirmação de que a reação mais “realista” a esse tipo de situação, como marca de alguma grande evolução que Eva estaria fazendo é o exemplo de uma mentira repetida vezes o suficiente, para se tornar verdade. Se consistindo do tipo de fala que apenas é justificável saindo de pessoas, que não viram praticamente nada, de mechas anteriores a EVA, e a enorme variedade de estilos de narrativa, personagens e conflitos que se manifestam nesse período. Droga temos o desenvolvimento de franquias tão variadas, e com diversos aspectos interessantes nessa fase, quanto Gundam, Patlabor e Macross. Essa tendência de grosseiras generalizações a partir de poucos exemplos, ou ainda tirar verdades os quais representariam tais grupos ficcionais do puro nada, é uma falha frequente praticada por críticos.


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( Bright slap, desconstruindo a desconstrução)


Não me entendam mal, existe um argumento para ser feito em relação a áreas em que Evangelion efetivamente inova. A centralidade e foco que os problemas dos personagens ocupam, numa narrativa de salvar o mundo é algo bem diferenciado, este se tornando em diversos momentos o ponto e proposito do anime. Existe uma atenção a inseguranças e problemas mundanos, conflitos internos e intrapessoais em relacionamentos, e numa busca de sentido na existência, que consistem de marcas extremamente distintivas de EVA. Mas longe de uma grande revolução, tais se apresentam mais como uma mudança de foco, em relação a elementos que existem, e são encontrados em diversas obras de mecha anteriores. Isso não contando como a obra é discutida nos círculos acadêmicos do Japão, como a originaria do estilo ficcional, Sekai-kei (link para quem se interessar sobre o assunto https://drive.google.com/file/d/0B8yHcPUOolf2dW9ESGx4eUlnb2M/view). Evangelion é usualmente retratado nesses meios como uma obra proto Sekai-kei, sendo que o modelo as tendências e ideias exploradas, se tornaram influentes em trabalhos de grande variedade de gêneros, a ponto de ser algo relevante, relação a como animes como um todo são discutidos após seu lançamento. Nenhum desses pontos é levantado, e não é dessa mudança contida em evangelion, que o Meteoro se debruça. De qualquer forma, a partir de um mínimo escrutínio a tese levantada não se sustenta, o que para mim demonstra que, ou os criadores não realizaram qualquer pesquisa sobre o assunto que queriam levantar, mecha sua história, característica e evolução, ou estão tendo acesso a fontes de qualidade extremamente duvidosa.


Há um ponto que por si só representa algo menor, mas quando levadas em conta suas implicações demonstra falhas de compreensão na análise da obra pelo canal. Em um momento Meteoro coloca a presença de lutas épicas em EVA apenas como espetáculo, método de conquistar o público, não exatamente relacionadas com aquilo que o anime realmente é sobre. Não é incompreensível a ideia de separar a ação e a extremamente simples história de salvar o mundo, meras instancias de diversão descerebrada para a audiência, algo para não se pensar sobre, do suposto verdadeiro conteúdo da série, o extenso comentário sobre a existência humana, os complexos arcos de personagem, a temática (eu mesmo já argumentei assim). No entanto aí se encontra o problema, tal perspectiva meio que descarta a relevância, de um elemento da obra, o qual em termos de tempo está mais presente e sendo desenvolvido, além de negar implicações temáticas dessa parte do conteúdo. Impossível considerar tais partes como algo menor, um background o qual não é necessário justificar ou ter muito razão para falar sobre, pois impossível negar que o foco durante boa parte dos episódios, e na maior parte da narrativa da série está exatamente nesses confrontos, tornando a distinção entre esses, e o que a obra realmente é sobre, um pouco arbitraria. Levando esse argumento a suas últimas implicações, Meteoro está dizendo que existe uma enorme desconexão entre os temas, arcos de personagem e aquilo que a série trata, daquilo que apresenta mais predominância na narrativa, as lutas, a história sobre salvar o mundo, algo que consistiria um problema. Basicamente teríamos 2 historias ocorrendo em EVA, sendo que as duas mal se conectam ou tem muito relação uma com a outra, tirando o fato de terem os mesmos personagens principais, e muito tempo é gasto em aspectos que não servem minimamente para desenvolver as ideias principais. O que me impressiona num vídeo, partindo da premissa que muitas pessoas não entenderam Evangelion, quando na verdade o anime é muito bom, mas ao mesmo tempo implicitamente diz que boa parte de seu conteúdo não significa nada.


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(A açao em EVA é foda pra caramba por sinal)


Note que essas afirmações não representam qualquer crença minha que esse seja o caso.  Para entrar nesse mérito preciso explicar o elaborado comentário quanto a escapismo em obras de ficção, encontrado em EVA (explicando basicamente tudo, pois o Meteoro Brasil achou melhor nem comentar um aspecto tão sem importância). De início é bem claro a presença de escapismo como um dos pontos centrais, Shinji está constantemente lidando (e dizendo) com pensamentos de fugir tanto de diversas situações como da própria realidade, sendo o trem e os fones de ouvido característicos como indicadores visuais disso ocorrendo numa determinada cena. O cenário da obra não pode ser descrito de outra forma que a fantasia de fuga da realidade favorita de um otaku dos anos 90, o universo perfeito aonde você pilota um robô gigante, salva o mundo, e está cercado de mulheres bonitas as quais (discutivelmente) te curtem. Claro, esse suposto mundo ideal é depois transformado em inferno existencial de relações quebradas e disfuncionais, expectativas e desejos não cumpridos, consistindo do que previsivelmente tal mundo imaginado realmente seria. Anno (já que falar sobre ele ao invés da obra é a moda agora) é uma das figuras que tem mais criticado uma tendência por parte da cultura otaku, diversas pessoas estariam buscando em anime, jogos não entretenimento, mas a criação de realidades idealizadas suplementares, mundos os quais estariam tornando boa parte da audiência, alienada e ignorante, quanto as pessoas e circunstancias em sua volta. End of Evangelion é provavelmente uma das peças de ficção mais explicitas quanto a essa mensagem, trazendo uma discussão entre Shinji e Rei, ao mesmo tempo em que imagens de uma imaginada turma de espectadores, os quais estariam assistindo o filme aparece na tela.  Nela os personagens falam diretamente a audiência, em relação ao que realmente consistiria a realidade, os malefícios e questões que o Shinji estaria passando em decorrência de não conseguir se afirmar, encarar as pessoas e circunstancias a sua volta, e buscar alivio em mundos suplementares. E não ironicamente a escolha do Shinji ao final do filme também se apresenta como uma escolha do mundo, das personagens que ele conheceu, dos momentos e relações que ele criou com elas. Pois apesar do personagem não ter qualquer certeza quanto a se ele será feliz, ou o que o futuro lhe reserva, ele reconhece que as relações e sentimentos de alegria que construiu com as pessoas foram reais, e realmente significaram algo para ele.


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(Adoro, ou amo odiar cada uma dessas personagens)


Considerando o contexto temático da série, a ação e a narrativa principais tem propósitos claros. Longe de serem apenas fanservice (do jeito que o Meteoro descreve parece que EVA esta baitando pessoas a ver o anime). Há um significado importante em mostrar o lado excitante, pitoresco, as possibilidades de experimentar emoções que nunca podem ser sentidas na vida real. A obra busca mostrar que entende o apelo de ficção, o que ela apresenta para a sociedade, a válvula de escape para diversas sensações e sentimentos impossíveis de serem achados no dia-a-dia. Ao mesmo tempo que a situação de indivíduos que foram longe demais nessa imersão, presos em realidades suplementares, levaram essa ficção a sério demais, desperdiçando anos de sua vida, e perdendo todos a sua volta. As caraterísticas que tal atitude pode tomar quando levado as suas últimas consequências.
Existe um contra-argumento importante aqui, quanto a necessidade da centralidade dada a tais elementos na narrativa de EVA, em decorrência de sua importância temática secundaria. Também é válida a afirmação de que a história deveria ter conectado e integrado melhor e mais completamente a ação, narrativas, as mensagens e os temas. Estas são ambas observações justas, mas que não implicam na inexistência de importância dessas partes da obra, sendo que essa não pode ser simplesmente negligenciada, ou não mencionada quando se analisa Evangelion.
Se fosse para me perguntar, qual é o pecado capital da pratica de analises, minha resposta provavelmente seria a pratica de tentar entender a obra a partir do criador. Meteoro entrega nesse aspecto no vídeo, ao termina-lo com alegações sobre a qualidade de EVA ser devida a experiências de vida do autor, ele ter passado pela depressão, pela “despersonalização”. Não vou negar o lado divertido de explicar a pseudo psicologia de alguém a partir das obras que ele produz, mas como critica isso é um exercício inócuo, até mesmo num trabalho que é assumidamente extremamente pessoal como EVA. Primeiro por que a pratica em si é meio ridícula, vamos analisar os arcos da Misato, Shinji, Rei, Gendo, Asuka, pelo Anno ter passado por todas essas circunstancias, e tais serem especialmente importantes para ele? Será que a presença de robô gigantes no anime se dá apenas por uma memória de infância o qual ele admirava muito, e queria fazer sua própria fanfic sobre isso (Nada disso é necessariamente falso na verdade). Tudo é sobre Hideaki Anno, sua realidade e vivencias agora?  Segundo que esse tipo de interpretação usualmente termina em algo extremamente abstrato e especulativo, sendo que não há quase nenhuma métrica além do autor diretamente explicando, para se julgar os resultados que se pode chegar com isso. Pois nisso além de interpretar o material, partir dele para procurar suas mensagens, o que ele poderia significar e o que cada um desses símbolos representam, se parte de um conjunto de imagens e símbolos os quais você não sabe exatamente o que significam, para averiguar a subjetividade e intenção de outra pessoa. De certa forma isso cria uma nova interação, além da usual mídia audiência, a obra a qual se esta interpretando e analisando se consiste apenas do primeiro passo, um meio, seguido pela audiência partindo desta para construir uma individualidade, visão de mundo, de um suposto criador do trabalho. O que na minha opinião pode ser na melhor das hipóteses um jogo de suposição elaborado (que surpresa o vídeo termina exatamente falando que Anno pode ter tido essas experiências ou não), que apenas serve para demonstrar elementos repetidos, e frequentes em obras da mesma pessoa, e indagar alguma razão para esse ser o caso.


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(Gênio)


Agora, eu posso não concordar com os métodos e objetivos de Autheur theory (pois esse é o assunto claramente) mas é inegável que essa escola de analise criou métodos de crítica claros, com o objetivo de analisar a personalidade do autor, e ajudou a perceber alguns tópicos negligenciados na arte até então. Inovou ao possibilitar um meio de buscar e valorizar as grandes personalidades, os diretores e escritores, que davam um toque e visão de mundo único ao conjunto de trabalhos em que participavam. E é exatamente nisso que reputa muita da confiabilidade que era dada ao método, pois eles iam além da visão de uma obra apenas, pois individualmente era impossível diferenciar quais seriam as ideias do criador principal, sua personalidade criativa, das de seus colaboradores, por isso o trabalho deste com outras pessoas ajudava a determinar tais fatos. E também por que o fato de simplesmente existir uma ideia ou tema principal, mais relevante num filme, não significa que tal fosse particularmente importante para o autheur, ou características especiais dele. No entanto a repetição deste durante sua carreira, trabalhando com gêneros propostas e aspectos completamente diferentes, esses eram os verdadeiros sinais de sua personalidade como criador, que essa escola buscava.  Uma aplicação extremamente preguiçosa do mesmo raciocínio é a mostrado no vídeo. Você não vai achar quaisquer exemplos de outras obras de Hideaki Anno nele, ou o menor sinal que estas foram sequer consideradas. A explicação está mais na forma, de os personagens tem traumas ligados aos pais, vários deles são depressivos, Anno deve ter trauma e ser depressivo também. Então basicamente além de escolher linhas de raciocínio extremamente duvidosas, o vídeo se supera ao fazer a aplicação mais preguiçosa possível de tal raciocínio.  


O que seria possível tirar dessa parte do vídeo então? Há diversas comentários meio despropositados como Anno tinha que ter passado por essas coisas para representa-las tão perfeitamente em ficção, o que foge quase que totalmente do ponto, não abordando nem superficialmente, o que o autor está efetivamente fazendo, porque a representação é especial, como cria e demonstra sentimentos espetacularmente bem. Ademais a parte de Evangelion ser boa ficção por ser construída a partir de péssimos sentimentos é o tipo de comentário pseudopoético, o qual não quer dizer nada mas parece super legal ao se dizer. Sinceramente pessoas simplesmente precisam parar com essa idolatria do artista solitário, escrevendo ficção que representa o fundo de sua alma, uma verdade interior não censurada. Pois pasmem, nada dessa bruta verdade e busca de uma mensagem pessoal única, necessariamente significa que o cara tem algo extremamente interessante, ou valido para dizer.  Muito pelo contrário tais explorações são usualmente as primeiras a afastar o público, não conseguindo gerar qualquer empatia, ou manipulação de emoções, incutindo experiências extremamente alienantes. Para analises de artistas únicos, criadores de obras cheias de personalidade, e com uma visão do mundo própria, veja os vídeos a seguir. (https://www.youtube.com/watch?v=V7pUs-9C-gY    https://www.youtube.com/watch?v=srk-tPbQVcs)


Mudando para a parte do vídeo, a qual não tem nada estritamente de errado, mas que eu ainda vou reclamar sobre (porque sim), temos a explicação do final e a apresentação de diversos conceitos como a dificuldade de se relacionar e o existencialismo (apenas mencionado num clipe de 30 segundos do Shinji perguntando sua razão para agir assim). Começando por problemas em relacionamentos (minha vida basicamente), ao invés de explicar quais seriam as efetivas dificuldades dos personagens em se relacionar, por que suas existências sofrem tanto ao redor de relacionamentos frustrados com outros Meteoro nem toca no assunto, apresentando apenas um conceito filosófico que diz o obvio. O que é frustrante sendo que muito da magica e razão de pessoas se verem em EVA, acharem os personagens extremamente identificáveis, é que absolutamente cada um deles, sofre uma existência isolada, de interações e laços incertos quanto aos outros. Shinji tem um complexo de inferioridade e insegurança, que o torna por vezes incapaz de enxergar pessoas além de suas necessidades emocionais e incertezas próprias, Asuka busca desesperadamente reconhecimento elogios, gente que de valor e aprecie sua existência, ao mesmo tempo que por sua personalidade abrasiva, e tendência a ofender tende a afastar todos a sua volta. Ritsuko se vê como uma mulher patética, solitária, a qual abraça o único homem que imagina iria aceita-la, mesmo sabendo da verdade, Gendo está apenas a manipulando. Gendo o personagem mais emocionalmente afastado e sem reação durante a serie inteira, está na verdade escondendo grandes características de insegurança e autodesprezo, ao mesmo tempo que cria uma barreira de logica e frieza para afastar os outros. Estes são só alguns elementos grosseiramente simplificados do que se passa nos personagens nesses momentos. Todos (até mesmo Gendo) buscam contato, mas suas tentativas são marcadas por frustrações, as visões de si mesmos, e problemas individuais impedem as pessoas de minimamente enxergar o outro, imaginar o que ele pode querer ou desejar. Isso resulta numa espiral negativa de isolamento, em que ao final os personagens estão extremamente autocentrados e solitários, preocupações com os próprios problemas tomando conta de suas mentes.


Existencialismo apesar de ser algo não tão relevante para ser mencionado, também tem papel primordial na obra. Sendo meio estranho um vídeo tentando explicar o arco e conflitos do Shinji ignorando essa parte, pois questões existenciais são primordiais para entender os acontecimentos e o final. Pois é exatamente essa a atitude que marca os últimos momentos de Shinji Ikari, o ato de assumir a própria existência como pessoa, que ele pode e merece decidir e fazer escolhas, e construir quem ele deseja se tornar. Para entender a importância disso é necessário o contexto da série, no qual essa atitude realmente se consiste de algo revolucionário. Pois esta é exatamente a mentalidade que ele nunca tem, seu mérito e valor na vida são apenas decididos conforme a opinião dos outros, suas motivações dependem mais de expectativas e desejos externos do que próprios. Não podendo simplesmente largar a odiosa vida como piloto, pois seu valor é definido por isso, pessoas vão elogiar, precisar dele, conforme se apresente para a função. Atos como esse marcam sua trajetória, um altruísmo destrutivo, uma necessidade patológica de agradar, ser útil, que as pessoas não abandonem e precisem de você. Mas as respostas recebidas mesmo agindo assim estão longe de serem satisfatórias, simplesmente ignorar vontade própria para ser elogiado pelo pai, oferece apenas alegria passageira, alivio que não muda nada a realidade ao ser alcançado. Todos esses atos e essas relações que você acaba criando são vazios, algo conquistado em cima do que a pessoa representa e realmente quer. E pior ainda te colocam a mercê dos outros, que podem da mesma forma retirar a validação recebida no passado, não surpreendentemente, a relação abusiva entre Shinji e Gendo sendo marcada exatamente por isso. E é por ser exatamente esse indivíduo, que se odeia profundamente, escolhendo em meio a instrumentalidade humana, a possibilidade de existir num mundo em que não é o piloto de EVA. De finalmente fazer as escolhas que importam na vida, de decidir e criar o valor dado a realidade. Abraçando novamente a dor e o abandono que marcam a individualidade, mas o fazendo buscando as lembranças da felicidade, os relacionamentos que naquele mundo extremamente real importaram, realmente aceitando a esperança de um dia poder ser feliz como Shinji Ikari. Então acho que deu para entender porque as interpretações dadas ao personagem e ao final, apesar de não serem algo que eu discorde, são extremamente insatisfatórias sem esses pontos e explicações.


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(Eu pareço preso nas mesmas questões que o personagem enfrentou nesse momento diariamente)


Depois de alguns breves pontos posso finalmente “começar” a discutir qual é o maior problema no cerne da maioria dos vídeos do Meteoro Brasil.  Existe um certo movimento em crítica, cujas alegações são importantes apresentar aqui. Tal é marcado por um caráter anti-intelectual, que se manifesta numa negação do simbólico, metafórico, ao discutir uma obra de ficção. Estes partem de uma premissa que analises temáticas e de significado consistem dos famoso overthinks (reação que já ouvi o bastante para ter pesadelos), logo não sendo forma válida de olhar ficção.  Esse grupo analisa apenas o texto explicito da mídia, tratando quase que exclusivamente de narrativa, e dela como uma questão a se resolver e fazer sentido de, e de estudo de lógica interna. E antes de eu ver os vídeos do Meteoro, não fazia ideia que grandes manipulações ou absurdos essas pessoas viam em críticas metafóricas e temáticas, para simplesmente negar mérito na pratica. Mas certos vídeos fizeram o impossível, pude compreender e finalmente me colocar no lugar dessas pessoas. Se algum dia eu já cheguei a criticar uma análise em termos de inventar significado, e dar overthink, isso só foi possível graças ao Meteoro Brasil.


A imagem pode conter: texto que diz "COMO EU VOU ENTENDER O ANIME SE O METEORO BRASIL NÃO EXPLICA?"
(Isso é tao ofensivo e tao engraçado ao mesmo tempo, como todo bom meme)


E Meteoro ultrapassa os limites do possível, em todos os vídeos criados, tirando interpretações que vão diretamente contra o texto e seus diversos elementos, ou simplesmente interpolando interpretações de uma ou 2 cenas, como representativas daquilo que seria a grande mensagem do trabalho inteiro. O vídeo de One Punch Man e o Kaizen é a demonstração absoluta da primeira pratica. Nele existe a tentativa de se conectar e tratar como mensagens do famoso anime e WebComic, o conceito de Kaizen, ligado a auto sacrifício e melhoramento pessoal. Apesar de dessa vez, existir mais do que um exemplo de auto sacrifício tirado da obra para exemplificar (o que já é mais do que posso dizer de outros vídeos), este ignora aspectos importantes do anime e personagem principal.  Para começar que destrói a motivação dada ao Saitama expressamente no episódio 1, de ser uma pessoa buscando emoção, a luta e vida heroica que ele via sempre idealizada como criança. Mas tal caminho se encontra bloqueado por sua enorme força, a qual simplesmente oblitera qualquer obstáculo à sua volta. Isso o leva a vida de tedio e marasmo que marcam o personagem, simplesmente não existem desafios ou qualquer objetivo a vista, em nada do que ele faz. A reação dele ao salvar milhares de pessoas consiste mais de frustração do que qualquer coisa, por novamente lidar com a ameaça sem qualquer esforço. Saitama sente um tedio absurdo por tudo isso, heroísmo é admitidamente para ele apenas um hobby não um cumprimento de qualquer dever moral, mas se consiste de uma atividade que ele não consegue mais sentir qualquer prazer ou emoção. Esse personagem é o grande exemplo de abnegação e sacrifício pessoais que o vídeo está vendendo.  Sem contar que diversas vezes quando dado a escolha, ele age apenas em benefício próprio, quando descobriu que deveria estar recebendo e sendo reconhecido por esse tipo de trabalho, Saitama nem hesitou de se unir a associação de heróis. Existem brilhantes exemplos no vídeo de busca de auto aperfeiçoamento, como coisas completamente não relacionadas, como a melhora de One Punch Man em suas diferentes versões.


Outro vídeo que merece a menção é o denominado Fullmetal Alchemist Brotherhood e o Zen. Procurando pela grande mensagem que a serie estaria apresentando Meteoro fez um vídeo discutindo seu episodio 12. E apenas esse claro, os outros 63, pelo visto, não tiveram muita importância temática, ou mensagens a contribuir. Note que o episódio se consiste de um flashback do treinamento de nossos 2 protagonistas, a qual a maioria dos outros personagens importantes na história não aparecem. E como um momento voltado a backstory, este não tem o mínimo haver com o conflito principal. Não esquecendo como boa parte da narrativa de FMAB, é exatamente a história dos 2 aprendendo com as circunstancias de sua realidade, e superando as ideologias e ideias claras sobre o mundo que estes tinham quando crianças. Mas nada mais importa, ou merece ser mencionado, a grande mensagem da obra está exatamente ali nesse momento no episódio 12, e nem sei por que o anime continuou por 52 depois deste. Longe de entrar no mérito, o que estou questionando aqui é essa própria tendência de tirar conclusões a partir de partes ínfimas do texto, sem uma análise apurada, ou demonstração de raciocínios de como isso seria valido ou relevante para o resto da obra, ou a mínima insinuação que o contexto maior dela foi considerado. Por sinal se alguém estiver interessados em analises muito mais completas do anime e suas ideias, os quais levam em conta mais de um monologo e episódio em consideração, não vejo por que não tentar estes vídeos. https://www.youtube.com/watch?v=4zOVXGSf1ao&t=13s


Talvez eu esteja tomando as análises do meteoro brasil de forma extremamente errada. Existem vídeos dele que claramente (eu realmente quero acreditar que esse seja o caso) não são sobre as obras em questão no título (https://www.youtube.com/watch?v=zs7rDecGcMI). Talvez o canal tenha uma proposta completamente diferente, longe deles estarem procurando grandes mensagens, fazendo crítica e interpretações extensas, os vídeos consistem apenas de um exercício mental divertido, de aplicar conceitos famosos em obras de cultura pop. Assim minhas alegações sobre contradições e analises que não levam em conta quase nada do material em questão, nem fariam sentido para o conteúdo sendo criado. O que seria um pouco bizarro, pois o vídeo sobre Fullmetal Alchemist Brotherhood expressamente diz que essa é a mensagem da série. Francamente se esse é o tipo de ideia do canal, acho que o trabalho deles de estabelecer e comunicar que esse é o caso é péssimo, não havendo qualquer sinal disso nos vídeos deles (posso estar errado nisso, se alguém tiver algo especifico sobre o ethos criativo do Meteoro, eu me interessaria em ler). Mas tal justificação nem se aplica a review de Eva em si, uma vez que tal se apresenta como algo buscando provar que o anime é bom, não necessariamente só aplicando algum conceito arbitrário nele. O que faz sentido, por esse vídeo ser extremamente diferente dos outros, falando de aspectos mais concretos como a arte, e os personagens.


Voltando ao vídeo, chegou a hora de falar de despersonalização, o tópico o qual evangelion teria um comentário extenso. Para começar, nenhum dos momentos da obra minimamente se encaixa no conceito apresentado, se consiste dessa perda de sentidos, olhar seu corpo e realidade objetiva como algo separados da consciência, muito menos as experiências surreais de perda de individualidade servem como qualquer mecanismo de defesa, ou proteção contra traumas. Sendo um dos maiores nonsenses do vídeo a ideia dos episódios 19 e 20, como exemplos do fenômeno. A própria ideia de o Shinji estava em choque e traumatizado pelos atos grotescos da unidade 01 no episódio não faz qualquer sentido. Dias antes na série, ele passou por momentos muito piores, em que seguidamente foi traído pelo pai que ele desesperadamente buscava impressionar, ter a atenção de, e se viu forçado a olhar, enquanto a unidade em piloto automático (não é bem isso mas ignore) dilacerava um de seus amigos mais próximos, a ponto de deixa-lo severamente ferido. Aonde a unidade 01 simplesmente pulverizar de forma bem brutal um inimigo, o qual o Shinji nem conhecia ou tinha qualquer razão para se importar, em momentos nos quais ele não via o que estava acontecendo pelo fim da energia para os monitores (serio o monitor estava desligado e ele não viu nada do que ocorreu), foi mais traumatizante do que os momentos que eu descrevi. Ou até mesmo do que uma dúzia de outras experiências na série, bem mais invasivas e mentalmente fragilizantes, as quais não geraram esse tipo de reação.


Resultado de imagem para neon genesis evangelion episode 20
(Quase morri na explicação de despersonalização em EVA)


Essa explicação também vai contra elementos do lore do anime, diretamente antes do fenômeno denominado despersonalização pelo Meteoro, a taxa de sincronização do Shinji se eleva as alturas. Esse fato, longe de um nível de poder aleatório, para marcar que o mecha esta super ultra forte no momento, é significativo, na medida em que marca a proximidade, quão íntimos estão o piloto e a alma, de uma das pessoas mais próximas a ele, que estão contidas nos núcleos das unidades EVA. Há um elemento implicitamente estabelecido em vários momentos de personagens abandonando sua individualidade para se unir a outras pessoas, a fusão de seres como uma possível resposta ao problema de relações. Assim como o fato de ser possível abandonar a realidade e sua própria existência física voluntariamente, para se tornar parte do núcleo de uma unidade EVA, sendo essa a atitude que a mãe do Shinji toma (não coincidentemente, estão usando exatamente os mesmos protocolos e táticas de salvamento do caso dela, para o que está ocorrendo com o Shinji). E sinceramente se essa despersonalização que estaria ocorrendo em EVA é um mecanismo de defesa emocional, é o pior que eu já vi, Shinji é atacado e acusado por todos os lados, em seu extremamente abstrato fluxo de consciência nesses momentos. Sua hipocrisia ao se tratar como vítima, e se dizer traído por seu pai mesmo quando não busca entende-lo é levantada, os defeitos e falhas de tentar definir o próprio valor em termos das opiniões dos outros, como eles precisam, e o apreciam, tudo isso passa na mente do personagem, diretamente e sem qualquer subterfugio, de forma até traumatizante.


É importante marcar como essas cenas e momentos foreshadow, parecem dar dicas, de muitos dos fenômenos do final da série (não apenas por também ser uma das partes que mais sofreu por cortes em animação). No final do episódio é dada uma escolha ao personagem, extremamente parecida com a que e já descrevi acima, ficar na unidade 01 para sempre, desistir da vida e sua individualidade, e se tornar um com a alma de sua mãe que habita nela (Yui está literalmente perguntando se ele quer isso, aparecendo na imagem das 3 mulheres predominantes na vida do Shinji). Quando confrontado com a oportunidade abandonar toda a ansiedade, preocupação e medo relacionados a existir, Shinji ainda assim se recusa. A memória de uma relação especifica invade sua mente a mais longa dele durante a série, com Misato, como ela está aos pés da unidade, chorando, se preocupando e sentindo sua falta. O reconhecimento de que ainda valoriza os momentos que passou com ela, a relação que eles construíram, é o que impede Shinji de reduzir o eu a nada, e o permitem voltar a existir, mesmo que brevemente, até a ocorrência de novas circunstancias que agravam, e muito sua situação. Meteoro novamente está aqui descartando o texto expresso da obra, arco de personagens e conflito relacionado a essas cenas, simplesmente não considerando os óbvios detalhes que contradizem a interpretação que ele está dando. A maior razão de eu quase sentir agonia a cada obra que eles analisam, a qual já tenha visto, é que para mim esses elementos e contradições são óbvios a cada instante dos vídeos, e a aplicação deles de conceitos nas obras nunca fazem qualquer sentido.


Esperando já ter falado o suficiente, e temendo ter falado demais, posso finalmente concluir.  Existem outras questões que poderia entrar aqui, como a retorica utilizado, o estilo de dialogo extremamente artificial que não agrega nada aos vídeos, a forma de explicar cada elemento de forma indulgente como se a audiência fosse formada por completos idiotas (serio, o tipo de pergunta que aquele avatar que representa uma imaginada audiência faz, são as coisas mais absurdas e obvias). A simplificação absurda de conceitos importantes, significando que boa parte do que eles representam é perdida (quase matada) na explicação (uma simples fonte resolveria o problema, de você não tem tempo para detalhar filosofias milenares em um vídeo de 10 minutos). A meta narrativa da mulher mais sabia e do outro cara, que não faço ideia o que significa ou o que agrega ao material. Mas eu não vou me dar ao trabalho. 


A questão que realmente falta responder é por que eu assisti, e escrevi tanto sobre o conteúdo de um canal, o qual eu claramente odeio. E não, a resposta não consiste de algum desejo de obliterar o canal, ou envergonhar seus criadores (duvido que eles, ou mais que meia dúzia de pessoas leiam isso de qualquer forma), muito menos de julgar seus fãs. Meus objetivos eram tanto dar um maior contexto ao canal sobre como seu conteúdo está sendo recebido em certos círculos (surpreendente populares entre a maioria das pessoas com quem falo). E também ao apontar erros que esses criadores estariam cometendo, faço isso na esperança, que eles, ou outras pessoas que leiam isso, melhorem no futuro. Nós todos cometemos erros, isso é uma realidade inegável, e quando você parte para criar arte tem que estar preparado para errar o tempo todo. Muitas das coisas que aponto aqui podem ser encontradas em meus próprios textos e analises, mas o importante para qualquer artista, da real qualidade, é um compromisso de sempre buscar melhorar, aprimorar as qualidades e minimizar os defeitos. É inegável que o canal passou por saltos de melhora, sendo o vídeo sobre EVA, apesar de meus comentários incomparavelmente melhor do que o sobre FMAB, por exemplo. Apesar de eu nunca acreditar que vou chegar a curtir o conteúdo que eles possam vir a produzir, meu maior desejo é que eles continuem a melhorar, e que esse ensaio os encoraje nesse processo, dando pontos em que realmente acredito eles precisam trabalhar.

 (Obrigado pai, adeus mãe, e para todos vocês lendo, parabéns)


For Takver

Ancoms não são anarquistas.

  Marxistas e ancoms todos tem a pior ideia possível, de síntese entre a sociedade civil, e o estado. Tais não são estatistas em um sentido ...