Após um longuíssimo
hiato, no qual viajei a montanha mais alta, e troquei palavras com a mulher
mais sabia, finalmente estou de volta. As inspirações que alcancei por meio de
tais experiências foram diversas, mas principalmente constatei a absoluta
necessidade de criar, e publicar conteúdo, para o remoto caso de alguém um dia
se interessar (agora o porquê disso eu não faria ideia), por esse arremedo de
blog que estou desenvolvendo. Ademais nesse processo de buscar sensibilidades
pop, com grande apelo popular, vou precisar abandonar muito do meu orgulho e
senso artístico, soltando artigos e ideias, em ritmo acelerado, sobre alguns
dos mais desinteressantes tópicos. Tendo isso em mente estarei fazendo analises
semanais sobre aquele que acho que será o anime mais popular da temporada (sim
aquela característica bem distintiva de membros do anitube ou blogger criadores
do mais preguiçoso e pior conteúdo) a partir de agora chamado apenas de Tate no
Yuusha. Para aqueles que mal conseguem conter sua empolgação com essa notícia,
tenho outras novidades. Seguindo esse projeto farei uma análise tentando
explicar o filmaço Bird Box (não é como se metade da internet já não tivesse
feito isso ainda), outra obra original impecável Netflix, e um típico blog de
drama inútil, sobre meu youtuber favorito, cuja maior inovação é tal estar em
forma de texto, não na plataforma aonde tais são comuns.
Ah Tate no Yuusha,
quem poderia esperar que a estreia em anime, da renomada Light Novel que há
anos tem sido hypada, e elogiada por sua qualidade se consistiria de uma enorme
decepção (pelo menos para mim ok, não faço ideia do que a maioria das pessoas realmente
acha sobre o episódio). Esta podendo ser incluída na mais eterna tradição de
animes isekai, na qual todo mundo começa a obra prometendo que agora chegou
algo bom ao gênero, e isso será completamente diferente e superior a obra que
estigmatizou o gênero para sempre Sword Art Online. Nada obstante todos nessa
linha terminam como obras medíocres no máximo, e sim estou olhando para vocês,
Re-Zero, Slime, Overlord, Gate. (E sim estou fazendo uma generalização sobre
gênero mesmo tendo visto nem tanto dele, e tendo Konosuba como exceção, só por
uma narrativa pessoal não muito explicativa, e não vou abandonar minhas
indulgencias).
Acho que já consegui
transmitir meu sentimento geral sobre o anime, mas para explorar as minucias de
minhas questões com ele, uma comparação com outra serie Re-Zero, (aka as duas
series aonde nosso protagonista começa já derrotando 3 bandidos) será de
extremamente útil. Pode-se traçar inícios bem similares entre ambas, uma curta introdução
ao cotidiano do protagonista no Japão moderno, como ponto de partida.
Não obstante o
desenrolar dessas aberturas é completamente diferente, Re-Zero inicia apenas
com uma curta cena de nosso principal Subaru, comprando produtos numa loja de conveniência
altas horas da madrugada, comprando comida pré-preparada. Pequenos detalhes
como a expressão de ligeira ansiedade ao observar outras pessoas andando na rua,
e as circunstancias ligadas a esse tipo de ato, permitem inferir diversas implicações
sobre a personalidade do personagem, especialmente se considerando o contexto
maior, onde é usada usualmente como forma de representar hikkikomori (shut ins)
em ficção. E ainda mais importante que isso, o anime não faz as conexões para você,
explicando o que isso necessariamente significa (nesse momento pelo menos,
alguns dos diálogos do Subaru estragam um pouco dessa sutileza). Sem um pingo
de diálogo e exposição já temos uma cena que introduz nosso protagonista,
permitindo entender certos fatos sobre sua personalidade, e deixando abertos e
para se ponderar, vários desenvolvimentos e detalhes de sua vida. Pronto, em
poucos segundos Re-Zero utilizando econômica e precisamente tempo, demonstra
uma forma efetiva de introduzir nosso personagem principal.
(Meu antagonista favorito tinha que comparecer)
Se perguntando como
meu anime favorito lida com um momento semelhante, de apresentação do
protagonista? Ora claramente uma minuciosa e detalhada visão geral sobre o dia
a dia do cara é a melhor estratégia para esse momento. Nela podemos durante
excruciantes minutos descobrir fatos sensacionais sobre esse indivíduo, como
ele ser um otaku antissocial, sua situação financeira, de estar no primeiro ano
da faculdade, de se sentir extremamente confortável em sua vida, e de ter tido
alguma experiência de salvar seu irmão, que é sustentado pelos, que não se acha
um hikkikomori e que sai de casa, que gosta de ir à biblioteca no tempo livre.
Tudo isso demonstrado
e exposto de forma linda, por monólogos internos, aonde o personagem está
imaginando e pensando consigo mesmo, como se estivesse contando a história de
sua vida para alguém. Claro, ao mesmo tempo mover alguma narrativa, e ter o
personagem tomando decisões minimamente relevantes, como forma de mostrar sua
personalidade, parece uma forma bem limitada de caracterização, melhor não ter
nenhuma das duas coisas, e ele contando tudo sobre sua vida diretamente para a audiência.
Esses momentos de
empolgante introspecção e desenvolvimento de personagem são interrompidos,
quando a história do anime decide começar, e este é transportado para outro
mundo. Então, agora que conhecemos em minuciosos detalhes nosso protagonista, é
a hora da sensacional aventura nesse universo fantástico cercado do mistério e
intriga, começar? Ora é claro que não, mas sim de diversos novos despejos de informação,
dessa vez partindo de diversos personagens diferentes, como o rei, seus
asseclas, a traidora, os outros heróis, todos eles têm diversos pequenos
detalhes importantíssimos para explanar a nosso protagonista. O episódio se
consiste basicamente disso, palestra, após a palestra, recheados com certos monólogos
do principal, que suponho que sejam uma tentativa de estabelecer a premissa, ou
esse mundo diferente ao qual somos introduzidos (se as palavras adaptação preguiçosa
de novel vem a sua mente, não posso fazer nada). O verdadeiro conflito do episódio,
que demonstra basicamente o que essa história vai ser sobre, aparece na marca
de 30 minutos aproximadamente, mas não pense que por isso, tudo antes é uma
enorme perda de
tempo.
(A historia aparecendo em relances de nada acontecendo)
Antes de continuar um
pequeno aviso, sou extremamente suspeito ao discutir worldbuilding em universos
de fantasia. Essa parte do meu post será estritamente parcial, e longe de um
overview sobre os elementos desse aspecto fascinante de trabalhos de ficção (eu
pretendo escrever algo assim algum dia). Se você se interessa nisso, coloquei
links de pessoas falando sobre isso de forma muito melhor que eu. Em relação a
criação de mundos ficcionais, talvez o erro mais irritante e frustrante que
qualquer autor possa cometer, é a obsessão em lotar sua história de detalhes
completamente irrelevantes do universo, o velho (e insuportável) habito de
explicar, dar ideias, nomes, linhagens e dúzias de características a qualquer
coisa que possa a vir a existir no mundo da história. Tolkien apesar de suas
enormes qualidades é o grande culpado por esse fenômeno em escritores de
fantasia atuais (sim, eu prefiro a alternativa de um mundo genérico e que sei
pouco sobre, pelo menos nestes o desperdício de tempo é menor, mesmo que não necessariamente
a qualidade melhore). Obsessão é um bom jeito de colocar, pois não consigo ver
de outra forma esse fenômeno, o autor tenta desesperadamente preencher com informação,
controlar a forma como pessoas vão vivenciar e absorver o mundo e eventos da história,
basicamente não deixando qualquer espaço de imaginação e criação ao leitor. O
criador na tentativa de criar de manter uma crença secundaria no universo da
obra, passa a ocupar posição central, tentando preencher absolutamente qualquer
vácuo, ou elemento de interpretação.
Aliado a isso, existe
uma enorme tendência de retratar fantasia com mecânicas facilmente identificáveis
e compreensíveis de RPG (caso dessa obra), e usar ciência ou pseudociência como
proxy, explicando tudo de diferente em fantasia. O que, para mim, derrota o próprio
ponto em estar criando esse tipo de narrativa. A ideia de um mundo fantástico esta intrinsecamente ligada ao misterioso, estranho, incompreensível, um lugar
recheado de coisas e elementos a descobrir, conforme a história venha a
progredir. A marca especial do gênero, está em construir locais estranhamente familiares
e confortáveis, mas ao tempo completamente diferentes e ameaçadores, uma
mistura do poder de estar no seu próprio quintal, e explorar a imensidão de um
abismo desconhecido. Ao invés de preencher essas obras com detalhes peculiares,
pequenos elementos como um uso de linguagem diferente, uma visão cultural única,
não usuais costumes e práticas, detalhes arquitetônicos completamente
diferentes de algo já visto (droga estamos falando de animação aqui, não há
muitos limites para o universo sendo criada) essas obras vão para uma estranha verossimilhança.
Preenchem tais historias com vários aspectos reconhecíveis, tudo está sujeito a
regras familiares e facilmente auferíveis. Isso cria mais fácil compreensão e
acessibilidade na audiência, pois entende exatamente o que está sendo dito com
termos como skills, magias, xp. Mas derrota qualquer elemento fantástico, uma visão
do desconhecido, do nunca pensado, esse sentimento de estar abandonando o
conforto do lugar que você está lendo, por um mundo completamente diferente.
Tate no Yuusha comete
esses dois equívocos de forma até espetacular, ao ter o background de um mundo
de fantasia, ao mesmo tempo que retira qualquer aspecto secreto, esquisito, eliminando
completamente o impacto da descoberta do que está por vir. E tratando o episódio
no geral, como uma enciclopédia de fatos do cenário, o que é claro, se consiste
de algo mais semelhante a um jogo RPG (sei que tem pessoas que adoram isso, mas
estou extremamente longe de ser gamer, logo não encontro qualquer apelo aqui),
que qualquer coisa. Fantasia aonde o exótico está apenas na imaginação, e os
eventos e detalhes de tudo ocorrendo são algumas das coisas mais comuns e
mundanas possíveis (mas dá para preencher páginas e páginas sobre detalhes do
tipo de armadura e equipamento sendo utilizado, então tudo bem).
Nesse aspecto Re-Zero também
é infinitamente superior. Lidar com como transmitir informação nesse tipo de introdução
de seu protagonista a um cenário completamente diferente, é algo difícil de
lidar e na medida do possível os criadores fizeram um ótimo trabalho. Ao contrário
de nosso herói do escudo, Subaru esta forçado em diversas circunstancias, a
esconder o fato dele não ter ideia de absolutamente nada do local em que a história
está ocorrendo (o que ajuda a narrativa a não virar eternas palestras de pessoas
explicando coisas para ele). Os aspectos do mundo também estão mais sendo
inseridos conforme eles se tornam relevantes a história (não por meio de
infodumps em que nada acontece). Na verdade, muito do primeiro arco consiste do
Subaru descobrindo por meio de seu raciocínio, o que diabos está acontecendo e
como coisas funcionam (o que as vezes é meio frustrante pois ele demora
estupidamente para chegar em respostas obvias). E mais importante do que isso,
muito do que existe nesse mundo não é dito, muita do que está por vir é deixado
para se contar em arcos futuros aonde será relevante, e as possibilidades de exploração
são deixadas abertas nessa introdução.
(A arte de contar historias de forma impecável)
Acreditem ou não, eu
apenas mencionei de passagem o maior problema do episódio. Miraculosamente
existe uma cena inacreditavelmente semelhante em Tate no Yuusha, e Re-Zero, que
é a grande razão de eu ter feito essa comparação. Nessa temos nosso
protagonista, que leva um estilo de vida extremamente sedentário, (apesar de
Subaru ser supostamente um hikkikomori maromba que malha, mesmo tendo corpo de
frango). Ele não tem qualquer treinamento ou experiência de combate, e está em
um mundo completamente diferente, desarmado (ou com armas não muito uteis no
caso do herói do escudo). E mesmo assim o principal comete a insolência, de
passar por cima de 3 bandidos, que o aborda, como se fosse a coisa mais fácil do
mundo. Qual anime estou descrevendo aqui, Re-zero, ou Tate no Yuusha? Essas
cenas simples destroem completamente minha suspensão de descrença, e minha
possibilidade de estar imerso, levar a obra a sério. Ao invés de otakus perdedores, parecemos
estar acompanhando homens másculos e destemidos no combate, e a insolência de
criar momentos como esse, é imperdoável. Posso estar extrapolando, mas são cenas
como essa que tornam o universo de um anime estruturalmente falho, e algo que não
vale a pena assistir no geral.
(Ótimo conselho amigo, só queria que você o tivesse seguido)
E isso meio que cobre
o que gostaria de dizer por enquanto. Já que aparentemente vou estar discutindo
essa obra prima por um longo tempo, vou guardar a conversa sobre história e
personagem para quando eu tiver algo concreto para discutir (claramente as
prioridades do episódio estavam em outras áreas). Fim da linha Tate no Yuusha não
é muito bom, não acho que você deveria assistir. Essa série de textos não será
muito boa, não acho que valha a pena ler. Não espere nem venha a esperar, um
bem pesquisado e formulado argumento quanto a nada do anime. Ao invés disso eu
gostaria de recomendar obras já terminadas, aonde se é possível assistir, e
discutir com muito mais propriedade.
https://books.google.com.br/books?id=-AR9FEgly9wC&pg=PA144&dq=elfland+to+poughkeepsie&hl=en&sa=X&redir_esc=y#v=onepage&q=elfland%20to%20poughkeepsie&f=false
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