domingo, 4 de agosto de 2019

Four ways to forgiveness review


Bem vindos a minha tentativa de mostrar a qualidade da melhor autora de todos os tempos, com minha péssima escrita e argumentação


Elogiar um trabalho da autora Ursula Le Guin beira a redundância, sendo suas qualidades extremamente bem conhecidas. Este livro marca sua volta ao universo do ciclo Hainish, iniciado décadas antes, e é uma nova demonstração das qualidades de seu trabalho.


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A perspectiva sobre sci-fi executada é consistente com obras anteriores. Tecnologias futurísticas nesses livros nunca são exercícios mentais para imaginar como será o futuro, mas buscam apresentar como esses aspectos afetam e informam a vida, conflitos e situações dos personagens, e suas sociedades. Sim existem armas de destruição em massa, uma enorme rede de comunicação ligando instantaneamente vários planetas e povos, naves capazes de viajar na velocidade da luz. Mas essas tecnologias importam não como abstrações cientificas, mas sim conforme seus efeitos psicológicos, como uma sociedade com essas tecnologias funcionaria, quais seriam a natureza dos conflitos que ela geraria, como elas permitem várias experiências e situações dos personagens. Todas são relevantes como meio de entender narrativa, e entender este mundo e seus habitantes.


O livro é único em relação a obras anteriores da autora (que eu tenha lido claro), pois apresenta uma atualização de seu conflito e sociedades para mais diretamente responder questões políticas atuais. Não mais existem as claras alusões e referências ao ambiente político da guerra fria (a batalha por supremacia entre Karhide, e Orgoryen em the left hand of darkness sendo o mais claro exemplo dessa tendência). Neste livro somos introduzidos a diversas questões paralelas e relevantes no movimento da descolonização do continente africano, a relação Werel – Youwe claramente evocando a situação colonizador colonizado. O Ekumen também assume papel moralmente mais ambíguo, agindo como união de planetas que existe em semelhança com a ONU, que em ocasiões mitiga conflitos e promove a paz, em outras atua como fator desagregador, trazendo instabilidade a costumes e práticas das sociedades.


Talvez uma das questões mais feitas na história da humanidade, é a do que acontece no dia seguinte a uma revolução, e uma das que autora está mais interessada a resolver. As vozes clamando por injustiças a mudanças drásticas em como uma sociedade funciona, para resolver seus problemas e injustiças, são inúmeras, mas existem poucas perspectivas claras sobre como reconstruir uma sociedade, após destruir suas estruturas de controle, e a ordem anterior.


Dessa questão decorre um dos maiores conflitos da obra. Claro, lutar e destruir um governo despótico baseado em exploração e literal escravidão da população de um planeta, nunca é questionado como causa injusta, algo que vale a pena se lutar e morrer fazendo. Mas o que substitui esse governo totalitário são diversas consequências inesperadas, agitação da população, instabilidade política, guerras civis entre líderes regionais, e a população feminina tendo seus direitos e autonomia resguardados de forma ainda pior, como pessoas livres, do que no governo anterior.


O objetivo é mostrar como não se fabrica uma sociedade com ideais como liberdade, ou uma simples troca do governo como resolução de todos os problemas. Existem marcas e consequências de um processo colonizatório, aonde ler e escrever era proibido para escravos e punível com morte, que são extremamente difíceis de superar. Não existe uma estrutura métodos econômicos e bens, para promover uma vida, educação ou a infraestrutura minimamente adequada para a maioria da população. Também tenta apresentar como as diversas questões e conflitos pelos quais essa sociedade passa se relacionam, a questão racial relacionada a de gênero, que está junto com a questão educacional dessa população e as inúmeras tensões sociais. Apenas com o reconhecimento dos inúmeros pontos de atrito em jogo nessa sociedade, é possível que esta realmente avance e resolva suas contradições.


Juntando essas ideias em 4 historias separada temos nossos personagens. Le Guin nunca está contente em simplesmente mostrar vítimas, opressores e oprimidos, uma luta entre o bem e o mal, sempre buscando observar e escrever sobre um assunto de pontos e formas diferentes. A estrutura de várias histórias permitindo a autora apresentar diversas perspectivas, seguimos o principal líder da revolução, que se desgraçou como político e vive em quase exilio, senhores de escravo, um soldado que acredita fielmente nas divisões e instituições de sua sociedade, embaixadores de outros mundos observando a situação, escravos fugidos, e uma mulher que perdeu tudo com a revolução.  Todos trazendo uma ideia, uma visão e forma de ver o conflito únicas, permitindo entender e ter a experiência do evento histórico e da vida nessa sociedade de formas diferentes. Não existem claras dicotomias, mas uma franca abertura e capacidade de debater cada um dos tópicos que o livro quer explorar, por todos os lados possíveis, a exaustão. Cada personagem principal trazendo um componente novo. Isso constitui o tipo de políticas complexa, comentário político meticulosamente apresentado, e fascinante exploração, que não considero que algo como LOGH, apresenta nessa capacidade.


Indo em conjunto com tais aspectos, existem espetaculares personagens, com intimas histórias de suas vidas e situações. Cada uma das 4 narrativas principais sendo estruturada como um romance, relacionada a necessidade de entender, buscar contato e compreensão junto ao outro. Le Guin sempre retrata o político como algo extremamente pessoal, baseado nas visões e questões dos personagens que estamos seguindo. A busca por relacionamentos superar as barreiras de entendimento, sendo de certa forma as mesmas que orientam a busca por paz, convivência, e compreensão entre povos. A solução para cada um dos personagens achar sentido e valor na vida, apesar das circunstancias ruins que se encontram, são sempre as mesmas, por meio do contato, uma disposição para entender e abraçar os outros em sua diferença. Esse é o caminho para aceitação, perdão e felicidade, que a autora advoga em cada um de seus trabalhos.


Apesar de ausente muito do melodrama e do principal que fazem os despossuídos o meu livro favorito, four ways to forgiveness é um excelente livro, que alcança sucesso em tudo que tenta fazer, e não posso recomendar o bastante.

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