quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Mentalidade anticapitalista review


(Trabalho de um socialista frustrado tentando descontar sua raiva quanto ao homem que refutou sua ideologia de vida)


Ludwig Von Mises, o homem, a lenda. Aquele que entre outras humildes conquistas refutou completamente o socialismo, o demonstrando como impraticável como modo de produção econômico. Uma pessoa que longe de ter suas ideias esquecidas, está no centro do ressurgimento da direita, e é clamado como guru por diversos movimentos habitando as entranhas da internet. Esta será uma discussão de uma de suas obras, e como ainda apresenta pontos importantes, para discussões atuais.


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Importante primeiro estabelecer de que tipo de livro estamos falando aqui. Esse não é uma bem pesquisada, sensível e bem estruturada analise sobre a mentalidade “anticapitalista”. Na verdade eu estaria em apuros se me pedissem para detalhar a estrutura, e formato da argumentação desenvolvida.  Não há absolutamente nada de fontes, dados estatísticos, métodos de se verificar e explorar mais a fundo os pontos levantados.  Mal existe um tema, ou tópico delimitado nesse escrito, indo de forma bem livre entre cultura, psicologia, economia, artes, cinema, empresas, Hollywood, romancistas, cientistas, sem muito porque, ou razão. Tudo só ligado ao vago tópico do anticapitalismo. Conceitos amplos e dificilmente definíveis, como capitalismo, laissez faire, socialismo, e comunismo, são usados de forma abusiva, com quase nada de explicações sobre seu significado, ou do que diabos o autor quer dizer com cada um deles. Então sim, esse é o equivalente acadêmico de uma conversa de bar.


Não entendam a descrição como um necessário juízo de valor, isso está longe de uma sentença de ausência de méritos. Um autor com muito a dizer, em termos de tópicos e conceitos, atrevimento e coragem o bastante, pode fazer uma apresentação dessas fascinante, sem nada de rigor acadêmico, podendo entrar numa longa, provavelmente não muito particularmente profunda discussão sobre varias coisas. E no processo te fazer rever vários conceitos, desafiando muitas preconcepções (esse é o apelo por trás de qualquer blog afinal).


Mises, contudo, falha no erro cardinal de qualquer pretenso comentarista politico. Não se enganem pelo titulo achando que existe um mínimo esforço ou tentativa de entender a mentalidade “anticapitalista” nessa obra. Na verdade o que é impossível achar é um debate franco com a oposição ao autor, ou uma mínima troca de ideias. Serio, em diversas paginas Mises destila ódio a seus opositores, os tachando de burros, desonestos, vis, maliciosos, incapazes e não desejosos de entender a verdade. Existe uma tentativa bem obvia de distorcer, simplificar e demonizar suas posições, ao mesmo tempo em que o autor se nega a dialogar ou abrir espaço para esses conceitos. Perolas exemplificando essa atitude no livro são intermináveis, este é o responsável por brilhantes afirmações como o socialismo é resultado de invejosos, frustrados com sua situação de vida e fracassos pessoais, tentando destruir a ordem vigente. Que nenhuma pessoa verdadeiramente inteligente pode defender o comunismo tendo boas intenções, e os intelectuais do movimento são maliciosos tentando se aproveitar da situação e desconhecimento das massas. Ou que não existem diferenças entre welfare state, socialismo e comunismo, é tudo no fundo comunismo. E isso só me mantendo nas expressões utilizadas mais marcantes, ataques gratuitos, assim como diversas tentativas de generalizar e apresentar socialistas como a mais vil oposição são abundantes.  Essa mentalidade não é um objeto para dialogo e entendimento, mas sim algo que deve ser exterminado e destruído. Há até um trecho até que o autor defende de forma bem hipócrita, que um estado que simplesmente removesse essas opiniões e pessoas, mas mantendo a liberdade de expressão para outras seria o ideal, mesmo que impossível de existir.


Contrastado a esses infames anticapitalistas, está a figura do capitalismo, perfeito e ausente de problemas, apesar de odiado por invejosos.  Assim como a de seu pobre profeta, Ludwig Von Mises, que é perseguido, e ignorado por sindicatos, editoras, e pelo meio acadêmico, apesar de estar certo sobre absolutamente tudo (sim ele literalmente se afirma como objeto de perseguição de esquerdistas). E sim as camadas de autoindulgência, e fabricação sobre a realidade que este livro está disposto a ir são demais para mim.


No fundo essa indulgencia e complexo, de ser o não compreendido e perseguido, apesar de melhor que os outros, não são o problema, mas a atitude toda desse livro é difícil de perdoar.  O maior problema e dificuldade da humanidade (especialmente em campos sensíveis como politica e economia) é nossa incapacidade de propriamente dialogar com os outros, entender suas crenças.  Todos estão prontos a qualquer instante a demonizar a oposição, culpa-los por todos os problemas e dificuldades que existem no mundo, sem qualquer abertura a outras opiniões.  E eu considero esse tipo de mentalidade um desastre, se temos certeza da validade de nossas proposições, e que sabemos o certo para a sociedade, é apenas por meio do debate de nossos ideais, seu poder de convencimento e capacidade de persuasão da validade de seus méritos, que podemos aplicar esses pontos. Cada ser humano em especifico é absolutamente ignorante sobre a realidade como um todo, e tem muito a aprender com as pessoas que interage, não importando o quanto possa vir a discordar delas. Eu tentei fazer essa ponte vindo a ler sobre a escola austríaca, pois mesmo não sendo exatamente simpático a muitas de suas posições encontrei diversas pessoas que o são. Com o objetivo de melhor entender suas razoes, já que mesmo que não concorde, talvez elas tenham um ponto ou estejam corretas sobre a forma como a sociedade deva se estruturar. No mínimo eu esperava absorver um conhecimento e realidade, que eu não tinha antes, o que também são aspectos importantes.  Por isso ter um autor tão resoluto, teimoso, raivoso contra tudo e todos, e orgulhoso de sua tentativa de não tentar entende-los é tão difícil de aceitar.


Mesmo odiando cada segundo lendo essa obra, existe uma boa lição e questionamento para se tirar daqui. Não é toa o ressurgimento e força atual de Von Mises no debate atual, com o crescimento de um movimento de internet, que o adora como um Deus.  Especialmente se considerarmos que estamos na era aonde debates políticos são brigas para aniquilar o adversário, conduzidas por youtubers que sabem pouquíssimo dos assuntos que falam, mas que tem multidões de seguidores pela natureza do conteúdo extremo que produzem. Esse livro permite antever e compreender melhor não o anticapitalismo, pois feito por alguém completamente alheio a este, e que não quer entender nenhuma de suas posições. Mas o anticomunismo, comunismo se apresentando como o inimigo máximo da humanidade, algo a ser destruído, e visto numa variedade movimentos, circunstancias e aspectos absurda. Esta sendo talvez a maior contribuição, e razão para relevância desse trabalho.


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(Não, eu não vou ler ação humana, já viu o tamanho daquele negocio?)

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