(Trabalho de um socialista frustrado tentando descontar sua raiva quanto ao homem que refutou sua ideologia de vida)
Ludwig Von Mises, o homem, a lenda. Aquele que entre outras
humildes conquistas refutou completamente o socialismo, o demonstrando como
impraticável como modo de produção econômico. Uma pessoa que longe de ter suas
ideias esquecidas, está no centro do ressurgimento da direita, e é clamado como
guru por diversos movimentos habitando as entranhas da internet. Esta será uma
discussão de uma de suas obras, e como ainda apresenta pontos importantes, para
discussões atuais.
Importante primeiro estabelecer de que tipo de livro estamos
falando aqui. Esse não é uma bem pesquisada, sensível e bem estruturada analise
sobre a mentalidade “anticapitalista”. Na verdade eu estaria em apuros se me
pedissem para detalhar a estrutura, e formato da argumentação
desenvolvida. Não há absolutamente nada
de fontes, dados estatísticos, métodos de se verificar e explorar mais a fundo
os pontos levantados. Mal existe um
tema, ou tópico delimitado nesse escrito, indo de forma bem livre entre
cultura, psicologia, economia, artes, cinema, empresas, Hollywood, romancistas,
cientistas, sem muito porque, ou razão. Tudo só ligado ao vago tópico do
anticapitalismo. Conceitos amplos e dificilmente definíveis, como capitalismo,
laissez faire, socialismo, e comunismo, são usados de forma abusiva, com quase
nada de explicações sobre seu significado, ou do que diabos o autor quer dizer
com cada um deles. Então sim, esse é o equivalente acadêmico de uma conversa de
bar.
Não entendam a descrição como um necessário juízo de valor,
isso está longe de uma sentença de ausência de méritos. Um autor com muito a
dizer, em termos de tópicos e conceitos, atrevimento e coragem o bastante, pode
fazer uma apresentação dessas fascinante, sem nada de rigor acadêmico, podendo
entrar numa longa, provavelmente não muito particularmente profunda discussão
sobre varias coisas. E no processo te fazer rever vários conceitos, desafiando
muitas preconcepções (esse é o apelo por trás de qualquer blog afinal).
Mises, contudo, falha no erro cardinal de qualquer pretenso
comentarista politico. Não se enganem pelo titulo achando que existe um mínimo esforço
ou tentativa de entender a mentalidade “anticapitalista” nessa obra. Na verdade
o que é impossível achar é um debate franco com a oposição ao autor, ou uma mínima
troca de ideias. Serio, em diversas paginas Mises destila ódio a seus
opositores, os tachando de burros, desonestos, vis, maliciosos, incapazes e não
desejosos de entender a verdade. Existe uma tentativa bem obvia de distorcer,
simplificar e demonizar suas posições, ao mesmo tempo em que o autor se nega a
dialogar ou abrir espaço para esses conceitos. Perolas exemplificando essa atitude
no livro são intermináveis, este é o responsável por brilhantes afirmações como
o socialismo é resultado de invejosos, frustrados com sua situação de vida e
fracassos pessoais, tentando destruir a ordem vigente. Que nenhuma pessoa
verdadeiramente inteligente pode defender o comunismo tendo boas intenções, e
os intelectuais do movimento são maliciosos tentando se aproveitar da situação e
desconhecimento das massas. Ou que não existem diferenças entre welfare state,
socialismo e comunismo, é tudo no fundo comunismo. E isso só me mantendo nas expressões
utilizadas mais marcantes, ataques gratuitos, assim como diversas tentativas de
generalizar e apresentar socialistas como a mais vil oposição são
abundantes. Essa mentalidade não é um
objeto para dialogo e entendimento, mas sim algo que deve ser exterminado e destruído.
Há até um trecho até que o autor defende de forma bem hipócrita, que um estado
que simplesmente removesse essas opiniões e pessoas, mas mantendo a liberdade
de expressão para outras seria o ideal, mesmo que impossível de existir.
Contrastado a esses infames anticapitalistas, está a figura
do capitalismo, perfeito e ausente de problemas, apesar de odiado por
invejosos. Assim como a de seu pobre profeta,
Ludwig Von Mises, que é perseguido, e ignorado por sindicatos, editoras, e pelo
meio acadêmico, apesar de estar certo sobre absolutamente tudo (sim ele
literalmente se afirma como objeto de perseguição de esquerdistas). E sim as
camadas de autoindulgência, e fabricação sobre a realidade que este livro está
disposto a ir são demais para mim.
No fundo essa indulgencia e complexo, de ser o não compreendido
e perseguido, apesar de melhor que os outros, não são o problema, mas a atitude
toda desse livro é difícil de perdoar. O
maior problema e dificuldade da humanidade (especialmente em campos sensíveis como
politica e economia) é nossa incapacidade de propriamente dialogar com os
outros, entender suas crenças. Todos estão
prontos a qualquer instante a demonizar a oposição, culpa-los por todos os
problemas e dificuldades que existem no mundo, sem qualquer abertura a outras opiniões. E eu considero esse tipo de mentalidade um
desastre, se temos certeza da validade de nossas proposições, e que sabemos o
certo para a sociedade, é apenas por meio do debate de nossos ideais, seu poder
de convencimento e capacidade de persuasão da validade de seus méritos, que
podemos aplicar esses pontos. Cada ser humano em especifico é absolutamente
ignorante sobre a realidade como um todo, e tem muito a aprender com as pessoas
que interage, não importando o quanto possa vir a discordar delas. Eu tentei
fazer essa ponte vindo a ler sobre a escola austríaca, pois mesmo não sendo exatamente
simpático a muitas de suas posições encontrei diversas pessoas que o são. Com o
objetivo de melhor entender suas razoes, já que mesmo que não concorde, talvez
elas tenham um ponto ou estejam corretas sobre a forma como a sociedade deva se
estruturar. No mínimo eu esperava absorver um conhecimento e realidade, que eu não
tinha antes, o que também são aspectos importantes. Por isso ter um autor tão resoluto, teimoso,
raivoso contra tudo e todos, e orgulhoso de sua tentativa de não tentar
entende-los é tão difícil de aceitar.
Mesmo odiando cada segundo lendo essa obra, existe uma boa lição
e questionamento para se tirar daqui. Não é toa o ressurgimento e força atual
de Von Mises no debate atual, com o crescimento de um movimento de internet,
que o adora como um Deus. Especialmente
se considerarmos que estamos na era aonde debates políticos são brigas para
aniquilar o adversário, conduzidas por youtubers que sabem pouquíssimo dos
assuntos que falam, mas que tem multidões de seguidores pela natureza do conteúdo
extremo que produzem. Esse livro permite antever e compreender melhor não o
anticapitalismo, pois feito por alguém completamente alheio a este, e que não quer
entender nenhuma de suas posições. Mas o anticomunismo, comunismo se
apresentando como o inimigo máximo da humanidade, algo a ser destruído, e visto
numa variedade movimentos, circunstancias e aspectos absurda. Esta sendo talvez
a maior contribuição, e razão para relevância desse trabalho.
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