BOM, talvez minha introdução contenha algo difícil de
acreditar, mas este não vai ser um daqueles vídeos de drama, refutações épicas,
ou ataque as figuras da Gabi Xavier, ou ao Vídeo Quest. Na verdade nada diretamente
voltado as pessoas ou muito do conteúdo deles será discutido, com a exceção do
que é diretamente relevante a essa análise. Minha proposta se volta a criticar
a mentalidade, e pratica de críticas semanais de episódios de anime, ou
capítulos de manga. Este sendo um dos conteúdos primordiais dos dois canais. As
limitações de escrever, e publicar reviews semanais para mim estão sempre
presentes, e terminam por prejudicar a qualidade do produto final.
Primeiro, eu gostaria de ressaltar como a própria pratica de
separar o objeto da crítica em únicos episódios, ou capítulos é extremamente
arbitraria. Compare como um filme funciona em termos de unidade, enquanto um
episódio de anime, ou capitulo de manga, não. Filmes são vendidos para contar histórias
com começo, meio e fim, os quais são relativamente independentes de possíveis
ligações, conexões, ou continuações. Tais são vendidos, criados e
comercializados individualmente, não havendo muitas vezes nem ideia da
possibilidade de uma sequência no momento de lançamento. Ademais se uma vier a
existir, esta normalmente será publicada num espaço de 2 anos, ou mais do
original. Logo filme é usualmente pensado como conjunto narrativo, e entidade
separada, tanto no processo de criação, quanto na experiência e atitude da
audiência em relação a obra.
Traduzindo a lógica para animes, e mangas, é bem obvio que o
equivalente seria a série, ou conjunto de publicações de um manga como um todo.
Episódios, salvo algumas exceções, não são primordialmente pensados como todos
narrativos completos, contando histórias, ou arcos de personagem. Além disso sua
estrutura, e eventos dependem principalmente de sua colocação e importância no
contexto da historia. Séries, e mangas não são escritos ou feitos, se baseando
na estrutura narrativa, ou duração de um único episódio. Se você considerar
exemplos de animes adaptados de outras mídias, muitas vezes a divisão, momento
de início e fim entre episódios, é completamente errática. Logo nem faz sentido
buscar uma coerência ou razão por trás da separação.
A existência de blocos e separação de episódios apenas encontra
sua razão em termos de como animes realizam propaganda, e são veiculados na
Televisão. A cada obra é atribuída uma duração e horário especifico na
Televisão, ou um espaço em uma revista semanal, ou mensal de publicação no caso
de mangas (Não estou dizendo que sei exatamente detalhes, e estou gloriosamente
simplificando a situação). No entanto esta não é a forma principal pelas quais
animes são comercializados, uma vez que estes são vendidos em blocos contendo temporadas
inteiras, nem a que são vistos, pois usualmente o conteúdo é maratonado como um
todo por sua audiência.
Assim, não havendo um próprio senso de estrutura, ou razão na
divisão, não consigo abstrair o raciocínio aonde episódios seriam vistos
idealmente em termos de unidade. Tudo isso levanta a pergunta, porque tantas
pessoas analisam e criticam episódios separadamente? Sério, eu realmente
gostaria que alguém realizasse o argumento para essa prática, porque eu nunca
achei apropriadamente um. Em como essa divisão primordialmente comercial, e de
marketing, realmente deve ditar o objeto e muito do conteúdo de uma análise.
Obviamente a verdadeira resposta para isso se encontra na
própria natureza do youtube, e das plataformas digitais, não na pratica da crítica
ou criação de conteúdo. Sim o Youtube demanda que você crie vídeos num ritmo
absurdamente rápido para crescer um canal, preferencialmente mais que 2 por
semana. E não, não considero que haja nada desonesto nessa pratica, ela é quase
uma necessidade, se você como criador, tem qualquer ambição financeira com a
plataforma. Mesmo assim, nesse espaço
vou entrar em diversos problemas que youtubers caem ao se utilizar desse
modelo, e suas inerentes limitações.
Como um caso de exemplo, vou ter que trazer a Gabi Xavier, pois
ela ocupa uma posição especial como prolifica produtora de vídeos, especificamente
desse tipo. Em seu conteúdo semanal, Gabi sempre cai naquela que considero a
pior pratica em análises no geral, que é a de simplesmente descrever, e partir apenas
para detalhar o que acontece num dado episódio.
Ao mesmo tempo agrega ou utiliza tais descrições para pouquíssimo em
termos de crítica, ou para construir uma opinião sobre o material em si.
Note que não estou retirando o lugar particularmente
importante que critica descritiva ocupa em qualquer análise. Ela pode ser um
método importante para conseguir dar uma noção de diversos aspectos, por
exemplo, o tom, a emoção, os detalhes. Muitas vezes a pratica de analisar se
resume a encontrar os perfeitos eventos, que encapsulam perfeitamente a ideia
que você quer passar.
No entanto, a diferença entre isso e um vídeo aonde metade
do tempo simplesmente se relata o que acontece em um dado episódio, é óbvia. As
descrições nesse tipo de vídeo não são adicionadas para examinar algo,
exemplificar um ponto, ou criar alguma opinião sobre a obra. Ao invés disso
tais se tornam a maior parte do efetivo conteúdo. Durante boa parte do tempo
não consigo nem perceber o proposito por trás de muito desse detalhamento de
eventos, eles não são acompanhados, nem de um julgamento de valor raso de
certos méritos, um como isso foi legal, ou nossa, isso eu curti. Em relação a
série de vídeos que estou me referindo, os da segunda temporada de One Punch
Man, eu não estou exagerando, estes passam como quase um resumo, ou sinopse
estupidamente longa, que você poderia encontrar na Wiki.
Sendo sincero, algo que eu adoraria entender é a filosofia
ou razão por trás dessas descrições, para poder apropriadamente julgar o
resultado buscado. Reviews usuais são comumente voltados a consumidores que não
viram o anime, e querem ter uma melhor noção sobre se a obra é para eles. Nesse
contexto pelo menos faz sentido um maior caráter descritivo, para a audiência
pegar uma melhor ideia sobre o básico do material. Contudo analises de
episódios são voltadas primordialmente (eu imagino), a pessoas que já
assistiram o anime, sabem o que ocorre nele e querem saber exatamente a opinião
e experiência do criador sobre os eventos. Ou seja, eu apenas enxergo, nesses
longos relatos, e foco em transcrição da história, um desperdício de tempo para
todo mundo assistindo.
O resultado é duplicar a duração de algo que poderia ser um vídeo
curto, simples e direto ao ponto, assim como capaz de transmitir perfeitamente
a opinião da autora. Com essa pratica, a análise, emissão de opinião, e
reflexão sobre o apresentado se tornam quase secundarias, sendo desprezíveis
quaisquer ganhos. Tal fenômeno para mim demonstra clara falta do que dizer, ou
de constantemente ter algo relevante para falar, uma consequência direta de
quando o objeto de análise é curto e incompleto.
Nesse ponto, eu irei contrastar a figura e práticas da Gabi
Xavier, com as do Leonardo Kitsune do canal Vídeo Quest, este servindo como
expansão do meu ponto. Kitsune evita de forma completa o relatado problema.
Apesar de qualquer opinião que você possa ter sobre os argumentos dele (eu com
certeza tenho uma), é claro que os meros eventos não são o tópico da discussão.
Ao invés disso, o autor utiliza estes principalmente para exemplificar,
demonstrar, e reforçar os pontos, mensagens e opiniões que quer passar. Assim executando uma coerente, focada, e
normalmente bem embasada, transmissão de sua opinião e reflexão sobre um
episódio de um dado anime.
A partir de tal descrição seria simples pensar que o fato de
realizar análises semanais, não está prejudicando o processo criativo e vídeos
do Kitsune. Algo que eu realmente discordo, e pretendo demonstrar porquê.
O primeiro problema é obvio, ao analisar um episódio de um
anime durante sua duração, tal pratica te impede de falar, ou ter o conhecimento
do contexto geral da obra. Logo muito do que você expor em termos de
personagens, narrativa, ou questões vai estar unicamente se referindo a uma
única parte da série. Isso não parece tão importante isoladamente, mas pode
levar a severas distorções.
Um exemplo claro, é como o Kitsune critica o episódio 4 de
Promised Neverland, por ser basicamente um episódio de exposição e preparação
para futuros eventos. Tal analise pode ser válida como uma crítica do episódio
em si, no entanto falha em contemporizar e observar sua função e proposito
dentro do trabalho.
Promised Neverland é um thriller, impulsionado
principalmente pela tensão, e atividade de ver lentamente os esquemas e
estratégias dos personagens desenrolando, e se desenvolvendo. Expectativa, o
mistério, e suspense quanto a muitos dos elementos, e informações introduzidas,
consistem dos pontos principais da série, os quais terminam por definir seu
apelo, e qualidade. Logo ao simplesmente avaliar o episódio como um todo, o crítico
tem que abstrair sua importância em relação a futuros eventos, assim como a
eficácia do que acaba estabelecendo no contexto do anime. Pois pela mera
natureza de como está publicando, ele está se furtando o conhecimento e
capacidade de compreender a situação e todo no qual a exposição e introdução de
elementos se colocam. (Ele ter dito que leu o manga não muda nada nesse ponto)
Meu argumento é simples, mesmo que se considere a usual
defesa a reviews de episódios, que tais servem para comentar momentos, e
eventos específicos, o que o crítico acaba fazendo, paradoxalmente torna a
análise de únicas cenas e elementos localizados bem piores. Pois a atitude
dificulta sobremaneira a pessoa de obter o melhor conhecimento, e capacidade de
avaliar e opinar. Assim impedindo a ideal situação para localizar e
contextualizar momentos em um todo. Por essa razão sempre me opus a pratica de
análises semanais.
Outra questão bem óbvia, pela natureza do lançamento, é como
a maioria do conteúdo acaba sendo especulativo. Eu digo isso não só no sentido
de se falar de arcos de personagens, narrativos e elementos, muitas vezes com
base numa suposição de onde tais estão indo e quais vão ser os resultados. Muitas vezes a coisa vira literal, um se
perguntar o que vai acontecer com esse personagem, qual será a revelação, e
elementos a vir no próximo episódio.
Note que eu não sou um fã desse trabalho de realizar
teorias, meramente ficar se perguntando o que irá acontecer a seguir num
trabalho de ficção. No entanto, para mim é bem clara a diferença entre uma
pessoa se perguntando por 2 anos, após Star Wars 7, quem são os pais da Rey, e
o Kitsune se perguntando sobre se o Mista, ou Abbaccio, finalmente morreram de
verdade após um episódio de Jojo. O primeiro é resultado da própria natureza de
como tais filmes foram criados, que tiveram como um de seus aspectos principais
o mistério de quem diabos seriam os pais da Rey. Assim o espaço para
questionamento e interpretação são intencionais, parte integral dos filmes e de
como devem ser avaliados. Isso não poderia ser mais diferente da atitude do
Kitsune fazendo o mesmo quanto a Jojo parte 5.
No espaço de um episódio, e semana, teremos as respostas, e provavelmente
descobriremos que as suposições são baseadas em nada. Mas independentemente de
quão correta uma pessoa possa estar, quando imaginando o que pode ocorrer a
seguir no anime, tais teorias não importam.
Pois os eventos e circunstancias as quais se referem não são escritas
como mistério, ou algo a se especular sobre, e suas revelações não são de
nenhuma forma um twist. A natureza e caráter de levantar dúvidas, e pensar
sobre o que realmente aconteceu, ou vai acontecer unicamente existe por causa
da publicação e analise da obra semanalmente, e não tem nada haver com como o
trabalho é escrito, ou apresentado. Mal existe algo a se ganhar ou aprender com
esses pontos, dado 1 semana quando do lançamento do próximo episódio.
O melhor e mais severo problema de realizar analises
semanais é algo que deixei por último. Este, eu diria que é indiscutível para
qualquer pessoa que já escreveu sobre anime regularmente. É estupidamente
difícil, achar algo novo e particularmente interessante para dizer sobre um
anime, every fucking week. Um pequeno
exercício mental ajuda a ilustrar meu ponto. Considerem a quinta temporada de
Jojo, esta tem 37 episódios, e na maioria das semanas que o anime saiu, Kitsune
fez uma publicação. Agora atribuam a cada vídeo, 10 minutos em média, dele
falando unicamente sobre Jojo parte 5. Ao se levar essa lógica a suas últimas
consequências, o Kitsune produziu 370 minutos de conteúdo sobre o anime durante
diversas semanas, ou seja, aproximadamente um pouco mais que 6 horas, sobre
JOJO.
Assim, você considera que o resultado da análise, os pontos,
argumentos e opiniões produzidas justificam, e fazem valer a pena 6 horas de
conteúdo corrido? Eu sinceramente acho que não, e o fato de todas as tentativas
nesse estilo, produzirem vídeos de durações muito maiores que as necessárias
para falar sobre um anime, demonstra uma impossibilidade no próprio conceito de
reviews semanais.
As saídas para o problema de muito tempo, mas muito pouco
para comentar são bem claras quando se maratona os vídeos. Observe que tais frequentemente
voltam aos mesmos pontos, analisando logica (ou falta de) nas lutas, ou as
habilidades de Stands. O ponto de os personagens serem o maior problema da
parte 5 é constantemente reiterado, e pior, as conclusões as quais o Kitsune
chega são usualmente as mesmas. Ou seja, caindo numa interminável repetição,
volta as mesmas ideias, e comentários sobre a obra, espalhados em incrivelmente
longo e frustrante conteúdo.
Talvez seja uma questão pessoal, mas eu considero evidente
quando uma pessoa já elaborou todos os seus pontos, aplicou sua lógica,
julgamento, opiniões, e chegou a completas conclusões sobre o material. Normalmente
se esperaria que uma, ou duas horas seriam o bastante, para se elaborar tudo o
que você conhece, acha legal, interessante, e merecedor de compartilhamento
sobre um dado trabalho.
No entanto esse esquema te força a continuar a produzir,
fazer um novo vídeo, falar as mesmas coisas, focar em trivialidades, ou coisas
evidentes. Eu tenho que dizer, ISSO É UMA LOUCURA. A necessidade por conteúdo
semanal, o qual deve ser rapidamente produzido, gravado, editado, e publicado
pouco depois do episódio em si. É claro que isso mata qualidade.
Não sei, talvez minha discordância e critica venham
principalmente de uma diferença ideológica. Eu considero o trabalho do crítico particularmente
a integração de elementos dispares de uma obra. É claro que você está olhando e
avaliando coisas muito diferentes, animação, personagens, música e narrativa.
No entanto é como cada um desses elementos se integram a um todo, formam uma
unidade e teor coesivo, isso é o que mais importa. A atividade do crítico é
exatamente procurar esse todo, tais valores, qualidades e defeitos, para poder
transmiti-los a uma audiência. Por isso
minha oposição é quase uma questão de princípios.
Mas ainda assim considero que há mais por trás da minha
exposição. O trabalho de assistir reviews semanais, não como elas foram
inicialmente pensadas, mas sim ver sem parar horas de conteúdo, isso é o
exercício mais esclarecedor quanto aos possíveis problemas. Sério, eu
convidaria cada um de vocês a tentar a atividade, e formar sua opinião sobre se
tal é a forma mais concisa de apresentação de ideias, ou se constantemente
compensa assistir novos vídeos. Os quais com certeza sempre apresentam pontos
novos, e são um espaço para frutíferas discussões.
Concluindo, queria deixar claro que não escrevi isso com
intenção de ataque, ou roast a algum dos citados. É inegável que eles poderiam estar criando
melhor conteúdo. EU também poderia estar fazendo algo melhor, trabalhando
nisso, nesse exato momento. Minha intenção parte mais de mostrar, que são as
próprias propostas, métodos de publicação, e dialogo em relação as análises, os
quais não os permitem criar vídeos nas condições ideias, ou realmente realizar
o melhor.
Creio extremamente na capacidade de auto aprimoramento e
melhora de cada indivíduo. E tudo que eu espero que você possa tirar desse
ensaio é: uma perspectiva nova em relação a como reviews semanais são
percebidas e entendidas por uma parcela da audiência, ou alguma dica ou ideia
útil que pode levar a produção de um vídeo melhor.
Enfim, como vocês devem saber não tenho nenhum poder sobre o
tipo de vídeo que vai ser primordialmente produzido pelas pessoas. No entanto
REALMENTE creio que uma melhora no desastroso estado do anitube brasileiro (se
é que tal existe), passa por uma maior discussão debates sobre o que estamos E
queremos criar, assim como dos resultados alcançados.
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