sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Porque não sou um comentarista político

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(Clickbait meramente ilustrativo,não tendo nada haver com o assunto)


No trabalho que construo, uma questão difícil de ser evitada é qual é minha posição, corrente política (ou falta de), por isso já gostaria de me adiantar, apresentando uma justificação. No cenário de tresloucados falando de ciência política online, aonde todos viram um expert e se julgam capazes de comentar detalhadamente o assunto, refutando complexas antigas linhas de pensamento com memes, e sem ler nenhum livro dos autores, tal se torna a tarefa importante de um criador de conteúdo.


Um curto background sobre minhas experiências no tópico, talvez ajude a entender de onde estou saindo. Sou alguém que perdeu muito tempo em variados grupos de discord, discutindo, trocando opiniões, ideias e argumentos, em servidores. Entrei nesse exercício enfadonho muitas vezes, tinha tempo, disposição, confiança em meus argumentos, uma obstinação e fixação com o assunto causada pelas eleições brasileiras, e a enxurrada da “analises” e opiniões que ela trouxe. As conclusões que cheguei no processo, foram um dos poucos benefícios da enorme perda de tempo.


O centrismo político está morto (pelo menos na internet). Achar pessoas das mais diversas crenças e ideologias é o mais fácil, existem dezenas de coisas que nem sabia que existiam como posição, temos legitimas pessoas que se dizem nacional socialista (nazis), comunistas, integralistas, ancaps, anarquistas. Mas os representantes e membros do establishment político são raros, ou quase inexistentes. Ninguém estava defendendo as candidaturas Meirelles, ou Alckmin (os mais próximos do centrão), os defensores de Michel Temer, só apareciam na hora em que se dizia que ocorreu golpe. Talvez o único ponto de convergência, que a maioria parece compartilhar é uma insatisfação sistemática, uma desconfiança quanto a como a política, sociedade e cultura estão sendo guiadas e conduzidas, assim como quanto aos homens, usualmente a frente desse processo. As soluções para o problema, consistem de aonde todo mundo entra em confusão, e parecem estar animados para matar especialmente aqueles que discordam. Ancaps desejam o fim do estado, minarquistas sua minimização e neutralização, anarquistas se voltam contra as estruturas de poder e hierarquias, comunistas contra a ideologia e relações materiais, sociais democratas se apegam a uma conciliação do capitalismo com métodos de redistribuição de renda e atuação do estado. Encontre uma sala de bate papo particularmente interessante, e existem resquícios, ideias e argumentos que remontam a qualquer uma dessas opiniões se digladiando.


Talvez a maior conclusão seja a mais óbvia (por isso minha enorme incompetência pessoal), debater política na internet é um enorme desperdício de tempo.  Não existe um debate e troca de ideias rolando, em nenhum momento em que vc se engaja nessa atividade, mas sim estamos trabalhando com exercícios de poder. Todos se sentem como se sua ideologia e visão de mundo estivesse sendo pessoalmente ameaçada, ninguém está disposto a conceder um ponto, ou propriamente argumentar em debate, só em forçar unilateralmente sua opinião e ideia sobre o outro e a audiência.  Este é um exercício de orgulho, mostrar superioridade sobre o outro, em um assunto ou circunstancia que nunca vai importar para ninguém, além do curto círculo de pessoas em que você está envolvido. E sim eu sou o mais culpado disso na maioria das situações.


Essa perspectiva para mim demonstra a maior fraqueza do ativismo político de internet.  Nesse ambiente ninguém está disposto a mudar de opinião, ter suas clarezas e visões e realmente desafiadas, criando dúvidas sobre seu prospecto e possibilidade. Na verdade, a única coisa que isso acaba atraindo são adversários, pois não importando que crença e ideologia vc proclame, pessoas vão te julgar, e hostilizar unicamente por causa dela.


Existe também um lado cínico, que muitas vezes parece enxergar a situação com mais clareza.  Não importa o quanto vc fale, argumente, acredite numa causa com todo seu ser, buscando mudar a forma como a sociedade se estrutura, isso nunca vai acontecer (pelo menos não em termos de ação individual). O controle da situação material, sua ideologia e instituições que a sustentam são um arcabouço milenar, o qual não existe solução ou alternativa à vista. E não importa o quanto marxistas repitam, temos que prestar atenção unicamente nas formas materiais da sociedade, esta é nossa luta e única chance de liberdade, mesmo que a pessoa queira, ao entrar nessas questões ela deve estar ciente de que há pouquíssima esperança de resultados práticos no processo.


Apesar de racionalmente eu entender a futilidade do exercício, sou muito pouco simpático a tal opinião.  Existe muita miséria, frustração, pobreza, desperdício, um senso de perdas e enormes dificuldades abrangendo muitas pessoas, e a ideia de simplesmente olhar isso e não fazer nada é insuportável. Existimos nessa realidade, vemos essas pessoas todos os dias, observamos seu sofrimento, questões, dificuldades, o desespero de alguém que perdeu tudo sendo uma experiência possível. Mesmo que um caminho de busca pela própria felicidade, achar o valor e significado unicamente na própria existência seja mais justificável e exequível, paradoxalmente não me vejo realizado seguindo essa opção. Isso é um caminho com certas doses de aflição, e dificuldades, que não quero exatamente enfrentar.


E é com esses questionamentos que eu volto ao maior problema, o que eu deveria fazer então por essas pessoas? E essa é simplesmente uma resposta que não alcancei. Não sei responder quanto ao cálculo econômico no socialismo, não vejo qual o caminho da sociedade superar suas desigualdades de classe, para terminar com os efeitos e conflitos da pobreza. Não posso articular e apresentar uma visão desenvolvida sobre a questão de lutas de identidade, suas tentativas de conquista de direitos, e superação de formas de opressão a qual estão submetidas. Nem imagino sobre se é o poder político ou econômico que deveríamos realmente temer ou neutralizar. Não tenho nada indicar quanto a superação, ou resolução de qualquer problema existente, e qualquer resposta que eu possa dar a essas perguntas, seria infinitamente simples demais, e incapazes de lidar com o problema.


Como alguém realmente incapaz de OBJETIVAMENTE responder e confiar nas respostas que estou dando a cada uma das questões que se colocam a frente da sociedade, decidi simplesmente não me manifestar nesses pontos. Não é uma questão de não existirem um lado ou escolha política por minha parte, mas me falta a convicção sobre o que escreverei é o certo, e nem tenho certeza sobre a utilidade ou particular confiabilidade das conclusões que poderiam vir desse trabalho.


Ainda que ao avaliar arte sejam inevitáveis um tipo de julgamento ou ideologia políticas, não posso simplesmente ignorar a ideologia e opiniões do autor, desejo me manter nesse nicho especifico. Crítica de arte, minha exploração de ideias se baseia na criação, manipulação de conceitos e símbolos de um criador.  Diretamente confrontar ideologias e escrever sobre o mundo está muito além do escopo e intenção. Assim sem embargos caso queiram saber ou comentar esse tipo de coisa me perguntem diretamente, adoro fazer rants, e comentários sobre assuntos aleatórios.  Só não esperem nesse espaço, aquela grande “analise” ou palpite ponderado sobre algum grande assunto, ou o governo, pois tal nunca chegará.

(Mas reclamar de youtbers é belo, moral e fácil, então irei continuar fazendo) 


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